Descrição de chapéu The New York Times

Consumo de carne processada e embutidos aumenta risco de demência, mostra estudo

Pesquisadores do Hospital Brigham da Mulher reportaram risco 14% maior de desenvolver doença neurodegenerativa associado à ingestão de alimentos ultraprocessados

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Dana G. Smith Alice Callahan
Science Times | The New York Times

Pessoas que regularmente consomem carne vermelha processada, como cachorro-quente, bacon, linguiça, salame e mortadela, têm um maior risco de desenvolver demência. Essa foi a conclusão de uma pesquisa preliminar apresentada na semana passada no encontro internacional da Associação de Alzheimer.

O estudo acompanhou mais de 130 mil adultos nos Estados Unidos por 43 anos. Durante esse período, 11.173 pessoas desenvolveram demência. Aqueles que consumiam cerca de duas porções de carne vermelha processada por semana tinham um risco 14% maior de desenvolver demência em comparação com aqueles que comiam menos de três porções por mês.

Comer carne vermelha não processada, como bife ou costeletas de porco, não aumentou significativamente o risco de demência, embora as pessoas que a consumiam todos os dias relataram mais vezes que sentiam que sua cognição havia declinado, em comparação com aquelas que comiam carne vermelha com menos frequência. Os resultados do estudo ainda não foram publicados oficialmente em um periódico científico.

Pessoas que regularmente consomem carne vermelha processada têm um maior risco de desenvolver demência mais tarde na vida - Eduardo Knapp/Folhapress

A maioria das carnes processadas é classificada como alimentos ultraprocessados —produtos feitos com ingredientes que você não encontraria em uma cozinha doméstica, como xarope de milho com alto teor de frutose, amidos modificados, aromatizantes ou corantes. Muitos desses alimentos também têm altos níveis de açúcar, gordura ou sódio, que há muito tempo são conhecidos por trazer riscos à saúde.

Alimentos ultraprocessados, que também incluem itens como refrigerantes, iogurtes aromatizados, sopas instantâneas e a maioria dos cereais matinais, representam uma grande parte da dieta americana. Eles correspondem a cerca de 58% das calorias consumidas por crianças e adultos, em média. Pesquisadores têm ligado esses alimentos a doenças como doenças cardíacas, diabetes tipo 2, obesidade, câncer e doenças gastrointestinais.

As novas pesquisas buscam entender a conexão entre esses alimentos e a saúde cerebral.

O que a pesquisa aponta?

Vários estudos publicados nos últimos anos encontraram uma associação entre o consumo de mais alimentos ultraprocessados e o declínio cognitivo. Em um estudo com mais de 10 mil adultos de meia-idade no Brasil, por exemplo, pessoas que consumiam 20% ou mais de suas calorias diárias a partir de alimentos ultraprocessados tiveram um declínio cognitivo mais rápido, especialmente em testes de função executiva, ao longo de oito anos.

Pesquisas acompanhando mais de 72 mil idosos do Reino Unido por dez anos descobriram que uma dieta contendo 10% a mais de alimentos ultraprocessados estava associada a um aumento de 25% no risco de desenvolver demência. Da mesma forma, um estudo com 30 mil americanos por uma média de 11 anos relatou que um aumento de 10% no consumo de alimentos ultraprocessados correspondia a um risco 16% maior de comprometimento cognitivo. Maior consumo de alimentos processados também foi associado a um risco 8% maior de AVC (acidente vascular cerebral).

A principal limitação desses tipos de estudos é que, embora mostrem uma associação entre alimentos ultraprocessados e saúde cerebral, eles não podem provar que os alimentos prejudicam diretamente o cérebro. E nem todos os estudos encontraram uma ligação consistente entre o consumo de alimentos ultraprocessados e cognição.

A conclusão de que ao comer uma certa quantidade de carne vermelha processada, "terá definitivamente demência" não pode ser feita, afirma Dong Wang, professor assistente no Hospital Brigham da Mulher e da Escola Médica de Harvard, que liderou o novo estudo sobre carne vermelha. "Esse não é o caso."

Mas dado que vários estudos apontam resultados semelhantes em torno de alimentos ultraprocessados, "temos que levar isso a sério", disse Hussein Yassine, professor de neurologia na Escola de Medicina Keck da Universidade do Sul da Califórnia.

Os especialistas não têm certeza de como os alimentos ultraprocessados podem afetar a saúde cerebral, mas têm algumas teorias que podem ser isoladas ou em combinação.

Teoria 1: eles podem prejudicar a saúde vascular

Doenças crônicas como pressão alta, obesidade e diabetes —todas associadas a consumir uma dieta rica em alimentos ultraprocessados— "têm um impacto na saúde de nossos vasos sanguíneos", disse Taylor Kimberly, chefe de cuidados neurológicos no Hospital Geral de Massachusetts (EUA). "E o cérebro, em particular, é extremamente sensível à entrega de nutrientes e oxigênio normais" dos vasos sanguíneos.

Vasos sanguíneos não saudáveis podem tornar o cérebro mais vulnerável ao "desgaste", acrescentou Kimberly, "e isso, por sua vez, está associado ao risco de AVC e comprometimento cognitivo."

Teoria 2: Eles deslocam nutrientes saudáveis

Uma boa nutrição é essencial para um cérebro saudável. Pesquisas mostram que dietas ricas em frutas e vegetais, feijões, grãos integrais, nozes, carnes magras e gorduras magras—como as dietas mediterrânea e MIND— são associadas a um menor risco de demência.

É possível que dietas ricas em alimentos ultraprocessados sejam prejudiciais para o cérebro em parte porque estão carentes de opções mais ricas em nutrientes. "Se você está consumindo muitos alimentos ultraprocessados, isso significa que está consumindo menos frutas frescas, vegetais e outras opções mais saudáveis", disse Puja Agarwal, epidemiologista nutricional no Centro da Doença de alzheimer Rush, em Chicago.

Alimentos não processados à base de plantas também são bons para o intestino, disse Yassine. Alimentos ultraprocessados, por outro lado, podem alterar as bactérias intestinais e promover inflamação gastrointestinal, o que pesquisas emergentes têm relacionado a distúrbios neurológicos e a uma função cerebral mais fraca.

Alimentos ultraprocessados também são considerados "muito exigentes para o cérebro", disse Karima Benameur, professora associada de neurologia na Escola de Medicina da Universidade de Emory.

Por exemplo, pesquisas anteriores mostraram que compostos prejudiciais encontrados em certos alimentos —especialmente alimentos ricos em açúcares adicionados ou gorduras animais, ou aqueles cozidos em temperaturas muito altas, como frituras— podem ser prejudiciais para as células cerebrais. Esses compostos podem se acumular no cérebro e promover inflamação e estresse oxidativo. Alguns estudos têm relacionado esses compostos ao declínio cognitivo e demência.

O que isso significa para você?

Em vez de tentar eliminar todos os alimentos ultraprocessados de sua dieta —o que Benameur chama de "receita para o fracasso"— concentre-se em reduzir alguns dos piores e substituí-los por opções mais saudáveis.

Quando Yassine fala com pacientes sobre a redução do consumo de alimentos ultraprocessados, ele sugere que comecem cortando as bebidas açucaradas como refrigerantes, e substituindo por água ou chá gelado sem açúcar (ou levemente adoçado). Em seguida, substitua as carnes vermelhas processadas por outras proteínas, como peixe, frango, feijão, lentilhas e nozes. Depois, concentre-se em adicionar mais alimentos não processados ricos em fibras, como frutas, vegetais, legumes e grãos integrais.

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