Sair do Facebook diminui estresse? Sim, mas também reduz satisfação com a vida

Estudo mediu cortisol, hormônio relacionado ao estresse, em pessoas que deixaram a rede

Phillippe Watanabe
São Paulo

O que você sente ao lembrar das mensagens para responder, nas fotos de viagem que seus amigos compartilharam, nas atualizações de emprego e nos textões do Facebook? 

 

Mark Zuckerberg durante depoimento em comissão do Senado dos EUA nesta terça-feira (10). Ao fundo, luzes brilham
Mark Zuckerberg durante depoimento em comissão do Senado dos EUA nesta terça-feira (10) - Jim Watson/AFP

A resposta pode ser estresse, segundo um estudo publicado no Journal of Social Psychology. Mas, ao mesmo tempo, a pesquisa afirma que se afastar da rede pode causar a sensação de menor satisfação com a vida. 

O objetivo da pesquisa era exatamente ver se sair do Facebook poderia reduzir o estresse e qual seria o impacto sobre o bem-estar subjetivo das pessoas, ou seja, como elas diziam se sentir. 

No estudo, 138 usuários de Facebook foram divididos em dois grupos, um que permaneceria normalmente usando a rede e outro que pararia, por cinco dias, de usá-la. Para fazer avaliações de estresse das pessoas, os pesquisadores fizeram questionários e coletaram saliva para medir as taxas de cortisol, hormônio associado ao estresse.

Ao fim do estudo, os cientistas viram menores taxas de cortisol nas pessoas que pararam de usar o Facebook.

“Acreditamos que a redução do cortisol ocorreu pela pausa em toda a informação que é mostrada no Facebook. Seja o que está acontecendo com os amigos, opiniões políticas e notícias que são compartilhadas, tudo isso pode ser sufocante”, diz à Folha Eric Vanman, um dos autores do estudo e pesquisador da Universidade de Queensland, na Austrália.

“Você pode ter uma percepção subjetiva de que, estando no Facebook, você está mais feliz, está cheio de amigos, mas, mesmo que a pessoa não perceba, essa situação é estressante. Você fica lá naquele moedor de gente”, afirma Aderbal Vieira Junior, coordenador do ambulatório de dependência de comportamentos do Proad/Unifesp (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes).

Segundo o psiquiatra, a busca inconsciente por aprovação e reconhecimento e a comparação constante podem ser os motivos dos níveis elevados de cortisol.

A afirmação encontra amparo em um estudo dinamarquês, com 1.095 participantes e publicado na revista Cyberpsychology, Behavior, and Social Networking, que também demonstra que o Facebook pode afetar negativamente o bem-estar de seus usuários. 

A dica de Vanman é não desconsiderar a sensação de estresse que pode aparecer com o uso do Facebook e de outras redes sociais. Nesses casos, a melhor alternativa é tirar umas férias do uso e voltar apenas quando estiver se sentindo melhor, diz o pesquisador —ou nem voltar.

“Você pode até sentir falta de alguma informação sobre seus amigos, mas você estará mais feliz, acredito.”

Entrada do Facebook, Menlo Park, na Califórnia. Na entrada há o símbolo de curtir presente na interface do Facebook
Entrada do Facebook, Menlo Park, na Califórnia - Josh Edelson/AFP

FIQUEI MAIS TRISTE

Se por um lado o estudo australiano mostrou que manter distância do Facebook pode reduzir os níveis de um hormônio ligado ao estresse, por outro os participantes relataram sensação de menor qualidade de vida. 

Um dos culpados pode ser um novo problema da atualidade conhecido como “fomo” (fear of missing out, ou medo de estar perdendo algo). 

Muitas vezes é nessa nova praça pública que ficamos sabendo que um amigo casou ou que outro acabou de ter neném. Sem essa conectividade virtual, a sensação de felicidade em relação à vida pode diminuir, como mostra o estudo publicado no Journal of Social Psychology.

“O Facebook e outras redes sociais têm efeitos positivos; eu mesmo não desencorajaria o uso delas”, diz Vanman, autor da pesquisa.

A rede comandada por Mark Zuckerberg, que teve que responder a perguntas nessa terça (10) e quarta (11) no Congresso americano sobre falhas de segurança e monitoramento de usuários, afirma demonstrar preocupação quanto ao assunto e diz que colabora com pesquisadores para entender as possíveis relações entre tecnologia e bem-estar.

Uma postagem recente intitulada “Questões difíceis: passar tempo nas redes sociais é ruim para nós?” na página da companhia afirma que o modo como utilizamos o Facebook pode determinar se o bem-estar será afetado positiva ou negativamente.

A rede social diz que, baseado em estudos, pessoas mais passivas no universo online costumam afirmar se sentir piores após o uso do Facebook —o que poderia ser entendido como incentivo para usar mais o site.

A afirmação, porém, encontra respaldo em estudo dinamarquês, que, assim como a pesquisa australiana, pediu para as pessoas largarem a rede social por um tempo.

Aquelas que usavam mais passivamente apresentaram melhorias no bem-estar ao tirar férias de uma semana da interface social. Ao mesmo tempo, esse período fora do ar foi indiferente para quem usava por pouco tempo, seja passiva ou ativamente.

“Provavelmente todos nós hoje somos um pouco abusadores de celular e das redes sociais”, afirma o psiquiatra Aderbal Vieira Junior, da Unifesp.

O especialista afirma que o segredo, como em tudo, é tentar colocar na balança os ganhos e prejuízos associados ao uso do Facebook. Como essa balança varia de pessoa para pessoa, não há como fazer generalizações aqui.

“Rede social é irreversível na nossa cultura. Você fecha o Facebook, outra aparece”, diz o pesquisador. “O que isso diz de nós como seres humanos, onde isso vai nos levar com uma década de uso, eu não sei. O fato é que a realidade agora é assim.”

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