OMS declara coronavírus emergência global diante de potencial de disseminação

Órgão, porém, diz que não há necessidade de medidas adicionais que restrinjam viagens e comércio internacional

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São Paulo

A OMS (Organização Mundial de Saúde) declarou na tarde desta quinta (30) que a epidemia de um novo coronavírus é uma emergência de saúde internacional. Com isso, a entidade reconheceu que o vírus representa um risco não só na China, onde ele surgiu no fim de 2019, mas no mundo todo.

A declaração serve como um aviso para todos os Estados membros das Nações Unidas de que o órgão máximo de saúde no mundo considera a situação séria. 

Segundo Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, o anúncio visa evitar a expansão da doença. A principal preocupação é que países com sistemas de saúde mais frágeis e despreparados sejam afetados pela epidemia. 

"Nós precisamos agir agora para ajudar outros países a se preparar para a possibilidade da entrada do vírus", disse. "A razão para a declaração não é pelo que está acontecendo na China, mas pelos outros países." 

A decisão foi tomada depois do aparecimento de casos de infecções em pessoas que não viajaram para a China, como nos EUA, na Alemanha e no Japão.

A OMS já declarou emergência de saúde internacional durante o surto de H1N1 em 2009, de pólio em 2014, de zika em 2016 e de ebola em 2014 e em 2019. Com a declaração, a agência da ONU faz recomendações temporárias sobre viagens, quarentena, triagem e tratamento e também estabelece protocolos básicos de ação. 

O diretor da OMS afirma que não há necessidade de medidas adicionais que restrinjam movimentação e comércio internacional.

Didier Houssin, coordenador do comitê de emergência da OMS, afirmou que a declaração de emergência internacional fará com que a OMS possa questionar algumas decisões recentes tomadas por diversos países, como fechamento de fronteiras, restrições de viagens, como negação de vistos e quarentena de viajantes em boas condições.

"Por que o país tomou essa decisão? Quais são os sinais para ter tomado a decisão? Poderia reconsiderar a decisão?", diz Houssin. "Tais medidas não podem ser um exemplo a ser seguido, mas uma decisão a ser reconsiderada."

Diversos países já fecharam suas fronteiras com a China, e empresas aéreas reduziram os voos para o país.

Os países estão legalmente obrigados, de acordo com as regulações internacionais de saúde de 2005, a prover informações científicas que justifiquem medidas que interfiram significativamente no tráfego internacional, tais como restrições de entrada no país de viajantes internacionais. 

Segundo Adhanom, as recomendações da OMS quanto ao coronavírus são mais importantes do que a declaração de emergência global. A entidade indica que os países se concentrem na redução da transmissão entre humanos e na prevenção de contágio secundário. Segundo o comitê de emergência da organização, as evidências indicam que restrição de movimento de pessoas e bens pode ser ineficaz e desviar recursos de outras ações.

"Além disso, restrições podem interromper ajuda necessária e suporte técnico, atrapalhar o comércio e ter impactos negativos na economia dos países afetados", diz, em comunicado, a OMS.

Mas, em casos de disponibilidade limitada de recursos ou onde houve grande intensidade de transmissão entre populações vulneráveis, medidas temporárias, acompanhadas de análises de risco e custo-benefício, de restrição de movimentação podem ser úteis.

Os países precisam informar a OMS sobre quaisquer medidas tomadas quanto a viagens. A agência da ONU também alerta os países sobre ações que aumentem estigma e discriminação. 

A OMS também pede que a comunidade internacional dê suporte para que países em desenvolvimento consigam responder ao coronavírus, além de facilitar acesso a diagnóstico e potenciais vacinas.

Para a China, a OMS recomenda que o país continue os trabalhos de vigilância e busca ativa por novos casos, realize triagens em aeroportos internacionais e portos, colabore com a agência da ONU nas investigações quanto ao surto e sua origem, implemente uma estratégia para comunicar a população regularmente sobre a evolução do surto e as medidas de prevenção e proteção e compartilhe todos os dados sobre casos que ocorrerem em seu território. 

O governo chinês demorou para informar a situação para a OMS. O primeiro caso surgiu em 8 de dezembro. A Organização Mundial da Saúde só teve ciência da situação em 31 de dezembro.

Enquanto isso, as autoridades de Wuhan, o epicentro da epidemia, insistiam que tudo estava sob controle. Oito pessoas que publicaram sobre o coronavírus em redes sociais chegaram a ser questionadas pela polícia por estarem supostamente espalhando rumores.

A imprensa também teve seu trabalho dificultado para noticiar o surto. Jornalistas de Hong Kong foram detidos pela polícia após visitarem um hospital em Wuhan. Os policiais pediram para que as imagens filmadas fossem deletadas e quiseram inspecionar telefones e câmeras.

Até a noite de sexta (31), mais de 11.791 pessoas já foram infectadas em pelo menos 20 países e 259 morreram, todas na China. "Precisamos nos lembrar que são pessoas, não números", disse Adhanom. 

Não há registros de pessoas infectadas no Brasil, embora o Ministério da Saúde esteja investigando nove casos suspeitos, segundo informações divulgadas na quarta (29).

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