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Aplicativo ajuda idosos a encontrar voluntários dispostos a fazer compras

Isoladas, pessoas de grupo de risco dependem de outras para abastecer a casa

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São Paulo

Ana Lúcia da Silva é psicóloga aposentada, tem 69 anos e não sai de casa na quarentena, para preservar a saúde diante da pandemia de coronavírus.

Se o isolamento tem feito pessoas recorrerem à tecnologia para manter relações afetivas, fazer reuniões de trabalho e até cumprir compromissos religiosos, também tem ajudado algumas como Silva, que vive sozinha, a conseguir fazer as compras de mercado.

Funcionárias atendentes de caixa, usando um protetor facial de acrílico, no Hipermercado Zaffari do Bourbon Shopping São Paulo
Funcionárias atendentes de caixa, usando um protetor facial de acrílico, no Hipermercado Zaffari do Bourbon Shopping São Paulo - Mathilde Missioneiro - 8.abr.2020/Folhapress

Foi por meio do aplicativo Oito que achou Luciana Oliveira, 41, artesã e que tem se voluntariado para ajudar quem precisa a ter os itens necessários dentro de casa.

“Como sou idosa e não estou saindo, resolvi ver como era. No site encontrei a Luciana que gentilmente se prontificou a fazer algumas compras no mercado para mim”, disse Silva.

Pessoas acima de 60 anos são o principal grupo de risco da doença. Contraindo o vírus, idosos tem maior chance de ter complicações serias de saúde e evoluir para um caso grave.

Com o objetivo de auxiliar essas pessoas, o aplicativo, que tem como foco trabalhadores autônomos em busca de trabalhos pontuais, criou a função chamada “entrega solidária”.

Oliveira conta que o que a motivou foi pensar em seus familiares mais velhos, que dependem de sua ajuda para fazer as compras.

Por conta da necessidade de isolamento, os moradores de diversos prédios têm se organizado para resolver este mesmo problema. Listas são coladas nas paredes dos elevadores para que pessoas possam se voluntariar a ajudar quem corre maior risco ao sair de casa.

Também surgem iniciativas solidarias de pessoas que saem às ruas para auxiliar que mais precisa ficar em casa, por exemplo ajudando com distribuição de marmitas e doação de cestas básicas.

​Atualmente, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), 10,5% dos brasileiros tm 65 anos ou mais. Esse número supera os 14% em cidades como Porto Alegre, Rio de Janeiro e Santos —e ficam abaixo da média em algumas capitais do Nordeste, como Salvador e Recife.

A maior parte dos usuários cadastrados no aplicativo está na capital carioca, em São Paulo (principal polo da pandemia no Brasil) e em Brasília. Quanto ao sexo, 51% são homens e 49%, mulheres.

Os dados da FGV também apontam que o Brasil está em rápido processo de envelhecimento. Nos último oito anos, o total de pessoas nessa faixa aumentou 20%, para cerca de 22 milhões, mais que a população do Chile, por exemplo.

Na hora de fazer as compras, um dos obstáculos encontrados pela artesã foi saber como lidar com a falta de alguns itens nas prateleiras. Ela conta que já teve que ir a dois estabelecimentos diferentes para completar a lista de pedidos.

“Antes das compras converso com a pessoa para saber como agir se não tiver algum item. Vejo se posso substituir por algum similar ou se deixo fora da lista. Infelizmente, nem sempre encontro tudo e nem sempre posso ir em vários lugares”, diz.

Diversos estabelecimentos adotaram restrições ao números de itens iguais que uma mesma pessoa pode levar, para tentar reduzir a escassez de produtos causada pela histeria, sobretudo no início do período de isolamento.

Iniciativas como a Des.etoque, página do Instagram que cria sugestões de listas de compra semanais, tentam fazer com que os consumidores adquiram aquilo de que precisam, sem que falte itens para os outros.

Na hora da entrega, Luciana Oliveira deixa os itens em frente à porta, para evitar contato direto. Quando o pagamento é feito em dinheiro, pede que as notas sejam postas no chão.

Silva deu sorte, já que todos os itens da lista foram encontrados. Sem poder dar um abraço, à segura distância de dois metros as duas aproveitaram para trocar breves palavras e quebrar o silêncio da quarentena.

“A Luciana foi muito cuidadosa, gentil e tomou todos os cuidados necessários. As compras, eu lavei todas antes de guardar”, diz Silva.

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