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Mães improvisam creches comunitárias na pandemia pra driblar falta de escolas

Retomada da economia obriga pais a procurar lugar para deixar os filhos; escolas devem reabrir em 8 de setembro

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São Paulo

Quando foi chamada para voltar ao trabalho há 3 semanas, Andrea Lima, 26, pensou em pedir demissão por não ter com quem deixar a filha Laís, de 2 anos. Mudou de ideia quando descobriu que uma vizinha estava cuidando das crianças do bairro.

“A gente não sai de casa então nem sabe com o que pode contar de ajudar. Uma amiga me falou de um grupo no Facebook, em que anunciam vários espaços para deixar as crianças”, diz Andrea, que trabalha em uma loja de roupas no Shopping Vila Olímpia.

Com as escolas ainda fechadas no estado de São Paulo e o comércio aberto, espaços informais para atendimento de crianças têm servido como única opção para as famílias que precisam voltar a trabalhar. Os locais são anunciados em redes sociais.

A Folha encontrou ao menos 12 grupos no Facebook voltados para a oferta desse tipo de serviço em todas as regiões da cidade de São Paulo. A maioria dos locais funciona na casa das próprias cuidadoras, sem que haja autorização das secretarias de saúde e de educação.

“Não fico totalmente segura, mas era a melhor opção. Eu estava há três meses sem salário, porque meu contrato tinha sido suspenso. Não podia ficar mais tempo sem trabalhar e não tenho nenhum parente para cuidar da minha filha”, disse Andrea, que cria sozinha a filha.

Com a suspensão do contrato de trabalho ela deixou de pagar a creche que a filha frequentava desde os 6 meses, logo nas primeiras semanas sem aula presencial. Na unidade, a mensalidade custava R$ 480.

Agora, Andrea paga R$ 200 para a vizinha cuidar da menina por 9 horas. Apesar da economia, ela diz que a filha voltará para a escola.

As cuidadoras cobram entre R$ 150 e R$ 300 para cuidar das crianças em período integral, que pode ser de até 12 horas. Elas ficam com crianças de 0 a 7 anos.

Uma delas, na Brasilândia, zona norte da capital paulista, voltou a atender há cerca de um mês. O espaço já funcionava antes da pandemia para famílias que não conseguiam vagas nas creches da prefeitura. A dona do espaço, que pediu para não ser identificada, disse que quando o isolamento começou, quase todas as crianças saíram porque os pais perderam emprego ou estavam em casa.

Das 12 crianças que frequentavam o espaço antes do início da pandemia, seis voltaram. O valor cobrado aos pais também diminuiu, de R$ 300 para R$ 220.

Michele Silva, 18 anos, começou a cuidar das crianças do bairro, no Jardim Nakamura, na zona sul, depois que ficou desempregada no início da pandemia e viu que muitas vizinhas não tinham com quem deixar os filhos.

“Fui demitida da lanchonete em que trabalhava e comecei a cuidar dos meus sobrinhos. Soube que as vizinhas não tinham com quem deixar as crianças e me ofereci para cuidar por R$ 20 no dia ou R$ 150 no mês”, contou.

Além dos sobrinhos de 2 e 4 anos, ela cuida atualmente de outras três crianças, todas com menos de 5 anos de idade. Conta com a ajuda da irmã de 16 anos. “Tem que olhar o tempo todo. São muito pequenos. Então, tem que ser pelo menos duas pessoas”, disse.

O governador João Doria (PSDB) planeja autorizar a reabertura das escolas em todo o estado a partir de 8 de setembro. A liberação, no entanto, depende que 80% da população paulista esteja por 28 dias em cidades na fase amarela de retomada.

Sindicatos das escolas particulares, no entanto, pedem que as instituições de educação infantil sejam liberadas antes dessa data. “O resultado de abrirem todos os setores, sem o suporte das escolas traz como consequência esse cenário, em que as famílias têm que recorrer a espaços informais”, disse Eliomar Pereira, presidente do Semeei (Sindicato das Escolas de Educação Infantil de São Paulo).

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