Estudo recomenda o uso de máscara contra a Covid-19, ao contrário do que sugere deputada

Citados por Bia Kicis em post, 'problemas' que pesquisa aponta são considerados desconfortos, como acne e suor

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São Paulo

Uma publicação da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) no Facebook mistura dois conteúdos sem nenhuma relação para sugerir que o uso de máscaras como proteção contra a Covid-19 causa problemas respiratórios e diversas alterações metabólicas –porém, não há quaisquer evidências sobre isso. Segundo a parlamentar, isso vale tanto para máscaras artesanais comuns, feitas de pano, quanto para as do modelo N95, um dos equipamentos usados por médicos para prevenção contra o novo coronavírus.

No post verificado pelo Comprova, a deputada cita como fonte um estudo que defende o uso de máscara como medida de proteção e as declarações de um médico que não participou da pesquisa.

O estudo, que analisou as reações de 250 profissionais de saúde indianos ao uso da máscara N95, apontou que o uso prolongado desse tipo de equipamento gera “desconfortos”, que podem levar os médicos a tocarem mais frequentemente a face ou retirarem a máscara com mais frequência, o que causaria risco de serem infectados. As reações mais comuns foram suor ao redor da boca, dificuldade de respirar ao fazer esforço físico com a máscara, acne e coceira nasal. A conclusão do estudo defende que o uso de máscaras é fundamental para proteger contra a Covid-19.

A deputada Bia Kicis, de cabelo solto, óculos e bata estampada branca e preta, segura papel e fala ao microfone sentada, apoiando os braços em uma mesa
A deputada Bia Kicis, que tirou estudo sobre máscaras de contexto - Pablo Valadares - 11.nov.2019/Câmara dos Deputados

Já a frase citada por Bia Kicis é do médico Alessandro Loiola, que não participou da pesquisa. Ele afirma que o uso de máscaras geraria uma atmosfera rica em gás carbônico, o que poderia causar “estresse cardiorrespiratório e alterações metabólicas”. O Comprova já mostrou que o uso de máscara não leva as pessoas a respirarem gás carbônico. Recentemente, também verificou que Loiola tirou de contexto dados de um estudo para sugerir que o uso de máscara é ineficiente como proteção ao novo coronavírus, algo que Bia Kicis repete em sua publicação. Em nenhum momento, o estudo indiano faz referências a gás carbônico.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda o uso de máscaras como parte de uma estratégia para reduzir a transmissão da doença. Segundo a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), o uso de máscara é uma medida importante quando o distanciamento físico não é possível. No Brasil, desde abril, o Ministério da Saúde passou a recomendar o uso de máscaras, inclusive as caseiras, como medida de prevenção contra o novo coronavírus. O governo brasileiro chegou a importar 240 milhões de máscaras cirúrgicas para serem distribuídas aos profissionais de saúde; sendo 40 milhões delas do modelo N95 citado pelo estudo.

O professor P.K. Purushothaman, autor do artigo publicado pela deputada, disse ao Comprova que as reações demonstradas no artigo não são efeitos colaterais negligenciáveis por terem um impacto nos profissionais de saúde. “Mas, se eu tivesse que fazer uma escolha entre usar máscara ou não usar por causa dos efeitos colaterais, eu iria definitivamente usá-la, considerando a pandemia”, completou.

Por e-mail, a assessoria de Bia Kicis disse que a parlamentar já ouviu diversos relatos de mal-estar e problemas de saúde causados pelo uso de máscara, sem apresentar, porém, qualquer dado que comprove as alegações. Também disse que todos os conteúdos são checados antes de serem postados nas redes sociais da deputada.

Verificação

Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia ou sobre políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. É o caso dessa publicação da deputada Bia Kicis, que teve 36,7 mil interações no Facebook. Quando as postagens tratam de métodos de prevenção ao novo coronavírus, a verificação se torna ainda mais necessária, já que informações erradas podem levar as pessoas a rejeitarem medidas eficazes de proteção, apostarem em medicamentos sem comprovação científica e exporem suasaúde a riscos.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos; ou ainda que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

O Comprova fez esta verificação baseado em dados oficiais sobre o novo coronavírus disponíveis no dia 5 de novembro de 2020.

A investigação desse conteúdo foi feita por Jornal do Commercio e Marco Zero e publicada na sexta-feira (6) pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 28 veículos na checagem de conteúdos sobre coronavírus e políticas públicas. Foi verificada por Folha, Correio, Mural, A Gazeta, Piauí, Estadão, NSC e GZH.

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