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Cientistas questionam doses de reforço da vacina contra Covid nos EUA

Cerca de 30% dos americanos elegíveis ainda não receberam a primeira dose do imunizante

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Deena Beasley Ahmed Aboulenein
Reuters

O plano do governo Biden para oferecer doses de reforço da vacina contra a Covid-19 se baseia em preocupações de que a queda na capacidade das vacinas para proteger contra infecções amenas possa significar também que as pessoas terão menos proteção contra adoecer gravemente, uma premissa que até o momento não foi provada, disseram cientistas nesta quinta-feira (19).

As autoridades dos Estados Unidos, citando na quarta (18) dados que mostram queda da proteção conferida pelas vacinas da Pfizer-BioNTech e Moderna contra manifestações amenas e moderadas da doença, a partir de seis meses depois da inoculação, disseram que doses de reforço seriam oferecidas em larga escala a partir do dia 20 de setembro.

A dose adicional será oferecida a pessoas que tenham recebido sua inoculação inicial pelo menos oito meses antes.

Homem recebe primeira dose da vacina da Pfizer Covid-19 em Pasadena, na Califórnia - Robyn Beck - 19.ago.2021/AFP

“Dados recentes deixam claro que a proteção contra manifestações amenas e moderadas da doença se reduz com o passar do tempo. Isso provavelmente está relacionado tanto à perda da imunidade quanto à força da variante delta, que se espalhou rapidamente”, disse Vivek Murthy, o Surgeon General [principal autoridade médica] dos Estados Unidos, a jornalistas.

“Estamos preocupados que o padrão de declínio que estamos vendo continue nos próximos meses, o que poderia levar à proteção reduzida contra manifestações mais severas da doença, hospitalização e morte”, disse Murthy.

Os dados sobre contágio de pessoas previamente vacinadas demonstram que os americanos mais velhos são o grupo mais vulnerável a manifestações severas da doença, até agora.

Até 9 de agosto, quase 74% das 8.054 pessoas já vacinadas que foram hospitalizadas portando a Covid-19 tinham idade superior a 65 anos, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC). Quase 20% desses casos terminaram em morte.

Com base nos dados disponíveis sobre a proteção conferida pelas vacinas, não está claro se pessoas mais jovens e mais saudáveis também estarão em risco.

“Não sabemos se isso se traduz em um problema quanto à realização do trabalho mais importante da vacina, que é o de proteger contra hospitalização, morte e doença severa. Quanto a isso, ainda não temos veredicto”, disse Jesse Goodman, médico especialista em doenças infecciosas na Universidade de Georgetown, em Washington, e antigo cientista chefe da Food and Drug Administration (FDA), agência americana de fiscalização e regulamentação de alimentos e remédios.

Diversos países decidiram oferecer doses de reforço aos adultos mais velhos e a pessoas com sistemas imunológicos fracos. Autoridades da União Europeia declararam na quarta que ainda não veem necessidade de oferecer doses de reforço à população geral.

Outros especialistas afirmam que o plano americano precisa ser examinado cuidadosamente pela FDA e por um conselho de especialistas externos do CDC. Uma reunião com esses consultores para discutir as doses de reforço, originalmente marcada para o dia 24 de agosto, está sendo remarcada, informou o CDC na quinta em seu site.

O Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, que controla o CDC e a FDA, não respondeu imediatamente a pedidos de comentários.

Alguns especialistas questionam o foco em doses de reforço quando cerca de 30% dos americanos elegíveis ainda não receberam a primeira dose da vacina, a despeito dos novos casos de Covid-19 e de novas mortes causadas pela doença em todo o país.

“Acho que, a esta altura, mais importante que doses de reforço é levar vacinas aos braços que ainda não as tenham recebido, o mais rápido que pudermos”, disse o médico Dan McQuillen, especialista em doenças infecciosas em Burlington, Massachusetts, e presidente eleito da Sociedade de Doenças Infecciosas dos Estados Unidos.

Todos os especialistas entrevistados pela Reuters também enfatizaram a necessidade de inocular o maior número de pessoas de todo o mundo que ainda não receberam vacinas contra a Covid-19.

“Poderíamos terminar em uma situação na qual estaríamos correndo atrás de nossa própria cauda, aplicando mais e mais doses de reforço nos Estados Unidos e Europa Ocidental enquanto variantes mais perigosas vêm de outros lugares”, disse o médico Isaac Weisfuse, epidemiologista e professor adjunto da Escola de Saúde Pública da Universidade Cornell. “Na verdade, deveríamos estar vacinando o resto do mundo para evitar novas variantes”.

Tradução de Paulo Migliacci​

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