Psiquiatria da USP cancela debate sobre transtorno mental de presidente, e médicos veem censura

Decisão gerou revolta de alunos e médicos do departamento

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São Paulo

O Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP cancelou uma reunião online nesta quinta (5), que seria realizada das 10h30 às 12h e que debateria o afastamento de um presidente devido a um transtorno mental.

A decisão gerou revolta de alunos e médicos da instituição que interpretaram o ato como censura. A chefia do departamento nega.

O evento envolveria três psiquiatras da USP: Laís Pereira Silva, palestrante, e os debatedores Gustavo Bonini Castellana e Daniel Martins Barros.

Silva faria uma revisão histórica sobre o tema da saúde mental de presidentes da República. Os três não foram informados sobre os motivos do cancelamento.

Prédio da reitoria da USP na Cidade Universitária
Prédio da reitoria da USP na Cidade Universitária - Lalo de Almeida 22.nov.14/Folhapress

Segundo a Folha apurou com psiquiatras da USP, a chefia do departamento teria sido pressionada a cancelar a reunião porque a discussão poderia resvalar na saúde mental do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

A justificativa é que o ato poderia gerar um processo ético no Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), porque é vetado aos médicos discutir casos de pacientes publicamente.

Em um grupo de WhatsApp com 65 médicos contratados do Instituto de Psiquiatria da USP, a maioria considerou absurda a decisão do cancelamento.

Os psiquiatras dizem que essa reunião acontece há anos, sempre foi aberta, trata de temas gerais e nunca discutiu casos clínicos de pacientes. Dessa vez, afirmam, não seria diferente.

Não é a primeira vez que essa discussão da saúde mental do presidente vem à tona. Em março deste ano, o psiquiatra forense Guido Palomba tratou do tema em artigo publicado na Folha.

À época, porém, Palomba foi criticado por colegas psiquiatras que viram nas colocações do médico um desserviço aos pacientes que sofrem de transtornos mentais.

No grupo de médicos da USP foi discutida também a possibilidade de fazerem um manifesto contra o cancelamento, mas não houve consenso.

A Folha procurou o Departamento de Psiquiatria da USP, mas a assessoria de imprensa informou que os coordenadores não teriam disponibilidade para falar com a reportagem e enviou a seguinte mensagem:

“O cancelamento da reunião geral desta quinta-feira, 05/08/2021, foi uma decisão exclusiva da chefia do Departamento de Psiquiatria da FMUSP sem qualquer influência externa. A pauta será mantida e reagendada para uma data futura”.

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