Como a ômicron, nova variante da Covid, ganhou seu nome

O sistema de nomeação, anunciado pela OMS em maio, facilita a comunicação ao público sobre as variantes

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Vimal Patel
The New York Times

Os mercados despencaram na sexta-feira (26), a esperança de domar o coronavírus diminuiu e uma nova palavra entrou no léxico da pandemia: "ômicron".

A variante da Covid que surgiu na África do Sul recebeu o nome da 15ª letra do alfabeto grego.

O sistema de nomeação, anunciado pela OMS ​(Organização Mundial de Saúde) em maio, facilita a comunicação ao público sobre as variantes, tornando-a menos confusa, segundo a agência e especialistas internacionais.

Imagem em microscópio do Sars-CoV-2
Imagem em microscópio do Sars-CoV-2 - National Institute of Allergy and Infectious Diseases/AFP

Por exemplo, a variante que surgiu na Índia não é popularmente conhecida como B.1.617.2. Ela é chamada de "delta", a quarta letra do alfabeto grego.

Hoje existem sete "variantes de interesse" ou "de preocupação", e cada uma tem uma letra grega, segundo a página de rastreamento da OMS.

Algumas outras variantes com letras gregas não atingem esses níveis de classificação, e a OMS também saltou duas letras antes de ômicron —"nu" e "xi"—, levando a especulações sobre se "xi" foi evitada em deferência ao presidente chinês, Xi Jinping.

"Nu é muito facilmente confundida com 'new'", explicou no sábado o porta-voz Tarik Jasarevic. "E 'xi' não foi usada porque é um sobrenome comum."

Ele acrescentou que as melhores práticas da agência para nomear doenças sugerem "não causar ofensa a qualquer grupo cultural, social, nacional, regional, profissional ou étnico".

Algumas variantes mais conhecidas, como a delta, chegaram a variantes de preocupação. Outras nessa categoria foram chamadas de alfa, beta e gama. Outras que surgiram, que eram variantes de interesse, foram chamadas de lambda e mu. Letras gregas também foram usadas para variantes que não cumpriam esses critérios, mas nu e xi foram as únicas descartadas.

A OMS promoveu esse sistema de designação como sendo simples e acessível, ao contrário dos nomes científicos das variantes, que "podem ser difíceis de pronunciar e de lembrar, e dão margem a erros de divulgação", disse a agência.

Alguns pesquisadores concordam.

A doutora Angela Rasmussen, virologista na Universidade de Saskatchewan, no Canadá, disse que conduziu muitas entrevistas com repórteres este ano antes que o sistema de nomes gregos fosse anunciado, e ela tropeçou em explicações confusas sobre as variantes B.1.1.7 e B.1.351. Elas são conhecidas hoje como alfa, surgida no Reino Unido, e beta, que apareceu na África do Sul.

"É realmente incômodo falar com uma pessoa quando você precisa constantemente usar uma sopa de letras de designações de variantes", disse ela, acrescentando: "Afinal, as pessoas acabam por chamá-las de 'variante do Reino Unido' ou 'variante da África do Sul'".

Esse é outro motivo importante para a OMS ter adotado o sistema de nomes gregos, disse Rasmussen: a convenção de nomes mais antiga era injusta com as populações onde o vírus surgiu. A agência disse que a prática de descrever variantes pelos lugares onde foram detectadas é "estigmatizante e discriminatória".

A prática de nomear os vírus por regiões também foi historicamente enganosa, disse Rasmussen. O ebola, por exemplo, leva o nome de um rio que na verdade está longe de onde o vírus surgiu.

"Desde o início da pandemia, lembro que as pessoas diziam: 'Nós chamamos a gripe de espanhola, por que não chamamos este de coronavírus de Wuhan?'", disse Rasmussen. "A gripe espanhola não veio da Espanha. Não sabemos onde ela surgiu, mas há uma boa possibilidade de que tenha sido nos Estados Unidos."

A OMS incentivou as autoridades nacionais e os canais de mídia a adotarem os novos rótulos. Eles não substituem os nomes técnicos, que transmitem informação importante aos cientistas e continuarão sendo usados em pesquisa.

Traduzido originalmente do inglês por Luiz Roberto M. Gonçalves

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