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Com queda na cobertura, São Paulo leva vacinas a escolas municipais

Cidade pega carona na imunização contra a Covid nos colégios da rede municipal; médicos alertam para riscos de doenças como poliomielite e sarampo

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São Paulo

Na carona da vacinação contra a Covid-19, iniciada em escolas em fevereiro, a cidade de São Paulo passou a imunizar crianças e adolescentes de unidades da rede municipal de ensino com vacinas contra outras doenças que estão com cobertura abaixo da meta.

A busca ativa para atualizar as carteiras de vacinação nas escolas municipais começou no último dia 7. Desde então, 4.646 vacinas foram aplicadas, sendo 2.948 em crianças de até 4 anos e o restante nos adolescentes acima de 12 anos, de acordo com a Secretaria Municipal da Saúde.

Estão sendo aplicadas vacinas contra difteria, coqueluche, poliomielite, sarampo, caxumba e meningite meningocócica, entre outras. A prefeitura não informou como está sendo o calendário de vacinação nos colégios.

Criança é vacinada contra a Covid-19 em escola municipal da zona sul de São Paulo; colégios recebem outros tipos de imunizantes desde 7 de março - Rivaldo Gomes - 21.fev.22/Folhapress

Como ocorre em quase todas as regiões do país, segundo números da pasta, as principais vacinas estão abaixo da cobertura prevista na capital. E a meta estabelecida para quase todas caiu nos dois primeiros anos de pandemia em relação a 2019.

No caso da pentavalente houve oscilação. Atingiu 92,28% de cobertura em 2020, contra 71,43% de 2019. Em 2021, voltou a cair: 77,99%.

Mesmo com a recuperação de algumas vacinas no ano passado, na comparação com 2020, há coberturas vacinais que continuam em queda. É o caso da imunização contra a poliomielite, que alcançou 77,99% da meta contra 86,93%, em 2019, e 81,95%, em 2021.

Conforme os dados da pasta da gestão Ricardo Nunes (MDB), em 2019 foram aplicadas 146.256 doses da vacina que previne contra a paralisia infantil na cidade de São Paulo. Já no ano passado foram 123.682.

Por causa na queda da cobertura vacinal no país, a Sociedade Brasileira de Pediatria emitiu um comunicado na última segunda-feira (21) com alerta de risco para poliomielite e sarampo.

"A entidade faz um alerta às autoridades brasileiras, para que implementem estratégias que aumentem as taxas de vacinação e restabeleça a confiança nas vacinas, reduzindo a hesitação em se vacinar, principalmente na população pediátrica", disse a entidade, citando que em 2020 a cobertura vacinal por grupo alvo para poliomielite foi de 75,88% e para a segunda dose de tríplice viral, de 62,75%.

A sociedade médica lembra que recentemente Israel notificou um caso circulante de poliovírus tipo 3 em uma criança não vacinada de 3 anos e 9 meses.

Especialistas ouvidos pela Folha afirmam que o sucesso das campanhas e das próprias vacinas no passado acabaram se tornando responsáveis pela queda na cobertura, que vem sendo registrada há quase uma década e não só no Brasil.

"O que leva a população a se vacinar é a percepção do risco da doença, o medo de morrer", diz a pediatra Ana Escobar, professora da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo). "Quando ocorre algum surto de doença, como aconteceu com o sarampo, a febre amarela e a própria Covid, vemos filas nos postos. Mas, quando não tem surto, as pessoas vão se esquecendo dessas doenças."

O pediatra Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, diz que é preciso alertar até médicos mais jovens sobre os riscos de doenças como pólio e sarampo, pois eles podem nunca ter tido contato com elas. "Por isso, não olham para as cadernetas de vacina como os antigos pediatras olhavam, com o mesmo cuidado, com a mesma cobrança enfática aos pais", afirma.

Para os especialistas, há ainda a necessidade de campanhas e de que o funcionamento de postos de saúde seja mais flexível, de acordo com a necessidade dos pais, que podem não levar seus filhos para vacinar por falta de tempo porque trabalham no horário de abertura das unidades.

"É um chamado para todos, para a população e para governantes, gestores, para que façam mais campanhas informativas, pois se não vacinar, tudo isso volta, não são conquistas eternas", afirma Kfouri.

Em nota, o Ministério da Saúde diz monitorar atentamente as coberturas vacinais e que tem trabalhado para intensificar as estratégias para reverter o cenário de baixas coberturas.

Nos últimos três anos, além de campanhas de vacinação contra influenza, poliomielite, sarampo, entre outras, a pasta afirma ter promovido as campanhas de multivacinação para a atualização da carteira de vacinação.

"Em 2021, mais de 23,1 milhões de doses foram aplicadas durante a campanha de setembro. Mais de 6,7 milhões de pessoas entre o público-alvo atualizaram a caderneta de vacinação no período da ação", afirma trecho da nota.

Covid-19

De acordo com dados da Secretaria Municipal da Saúde, até a última quarta-feira (23), 22.606 doses de vacina contra a Covid-19 haviam sido aplicadas em escolas da rede municipal.

O número representa 1,6% das vacinas aplicadas em crianças de 5 a 12 anos. Segundo a pasta, 41,1% delas já estão totalmente imunizadas com duas doses —84,1% haviam recebido apenas a primeira dose até a mesma quarta-feira.

No estado de São Paulo, 76,2% das crianças de 5 a 12 anos haviam recebido a primeira dose até esta quinta-feira (24) e 35,89% estavam com a imunização completa.

Como está a cobertura vacinal na cidade de São Paulo

Vacina
Cobertura
2019
Cobertura
2020
Cobertura
2021
BCG
Rotavirus
Poliomielite
Pentavalente
Pneumocócica
Meningocócica C
Tríplice viral – SCR D1
Hepatite A
Febre amarela
90,78%
86,35%
86,39%
71,43%
89,09%
88,74%
96,65%
90,23%
75,29%
61,38%
73,77%
81,95%
92,28%
82,88%
75,71%
85,42%
76,98%
73,63%
72,71%
77,09%
77,99%
77,77%
79,38%
77,69%
83,24%
79,66%
70,17%

Fonte: Secretaria Municipal da Saúde

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