Hospitais privados de São Paulo registram aumento de casos de Covid

No Sírio-Libanês, alta na demanda leva à reabertura de áreas reservadas a síndromes respiratórias

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São Paulo

Os hospitais privados de São Paulo registraram grande aumento de internações e de atendimentos por confirmação ou suspeita de Covid-19 e de outras síndromes gripais.

Entre eles está o Hospital Nipo-Brasileiro. Na última segunda-feira (30), houve aproximadamente 400 atendimentos no pronto-atendimento respiratório. Segundo Rodrigo Borsari, superintendente técnico do hospital, em abril a média diária era 60.

Foi necessário retomar a estrutura utilizada em momentos mais críticos. Há alguns meses, com a diminuição dos casos, a estrutura especial tinha sido adaptada para atender pacientes com outras doenças. "Mas nós precisamos voltar atrás", afirma ela.

Paciente internado com Covid em hospital de Porto Alegre, em janeiro deste ano - Diego Vara - 14.jan.22/Reuters

O aumento de atendimentos desse tipo tem relação com o avanço de casos de Covid nos últimos dias. No Nipo-Brasileiro, a taxa de exames com resultado positivo para a doença está em torno de 30%. Antes, chegava a 5%.

O hospital infantil Sabará também apresentou aumento de quadros respiratórios nos últimos dias. Segundo boletim do centro médico, a positividade para o Sars-CoV-2 na última semana entre pacientes internados e atendidos no pronto-atendimento foi de 17%. Essa taxa há quatro semanas era de 3%.

O hospital também registrou crescimento entre os casos de vírus sincicial, um patógeno comum por causar síndromes respiratórias em crianças. Há duas semanas, a taxa de positividade era de 5%. Agora, saltou para 18%.

No Hospital Sírio-Libanês, o número de hospitalizações por Covid mais do que dobrou no último mês, passando de 13, no dia 2 de maio, para 30 na última segunda (30). As internações na UTI saltaram de uma para 13 no mesmo período.

O pronto-atendimento do hospital também registrou na última semana uma alta de 40% dos atendimentos por Covid-19 e outras síndromes gripais. Os números passaram de cerca de 300 diários, no início de maio, para 420 nos últimos dias.

A alta na demanda motivou a reabertura de áreas no PS reservados às síndromes respiratórias que já tinham sido fechadas em março, com a queda dos casos, segundo Christian Morinaga, coordenador do pronto-atendimento do Sírio.

No Hospital Israelita Albert Einstein, a quantidade de pacientes internados com Covid passou de dez, em 1º de maio, para 54, nesta quarta (1º). A taxa de testes com resultado positivo para a doença também subiu, de 8,5% na semana de 24 a 30 abril para 26,3% na semana de 22 a 28 deste mês.

Na rede de Hospitais São Camilo, nesta terça-feira (31), de 796 testes para Covid, 311 tiveram resultado positivo, "um aumento de mais de 11x em relação aos números obtidos no dia 1⁰ de maio". "A instituição mantém o reforço de suas equipes de prontos-socorros, com o objetivo de otimizar os fluxos de triagem, reduzir o tempo de espera e ampliar a capacidade de atendimento a pacientes graves", informou, em nota.

No Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o aumento na procura do PS em maio por síndromes gripais foi de 288% em relação a abril, e a taxa de positividade nos exames para a detecção da Covid subiu 160%. Também em maio, foram internados 125 pacientes com quadro suspeito ou confirmado de Covid-19, número 380% superior ao total de internações no mês de abril.

Apesar do aumento, ele diz que ainda é pequeno o número de casos que resultam em internação em relação às ondas anteriores da Covid. "O que só reforça o papel da vacina. Mesmo estando infectados, isso não vira internação."

Morinaga afirma que, além da Covid, há muitos quadros gripais causados por outros vírus, como o sincicial respiratório, que muitas vezes não justificam a ida até o pronto-socorro.

"Às vezes, no primeiro dia de sintomas, a pessoa procura o PS. Nessa fase, muitas vezes ainda não tem carga viral para fazer o diagnóstico da Covid."

Ele orienta que as pessoas com sintomas leves, como nariz escorrendo, dor no corpo e dor de garganta, não precisam procurar imediatamente o pronto-socorro. "Hoje temos o recurso da telemedicina, muitas operadoras oferecem, o próprio Sírio também serviço de telemedicina que faz o acompanhamento a distância. Não precisa ir até o pronto-socorro."

Procurada, a Prefeitura de São Paulo disse que a chegada das temperaturas mais baixas ocasiona o aumento de infecções respiratórias, inclusive da Covid-19. "A rede municipal está preparada para atender a população", completou.

A Secretaria de Estado da Saúde afirmou ser comum nesta época do ano o aumento de hospitalizações por SRAG (síndrome respiratória aguda grave) nas redes pública e privada e que monitora o cenário.

Aumento de casos de SRAG

Casos mais graves de infecções respiratórias já vinham sendo observados, sobretudo em decorrência da subida nos índices de SRAG.

Segundo a nova versão do Boletim Infogripe da Fiocruz, estima-se que houve 7.200 casos da SRAG na semana de 22 de maio. O aumento observado indica que há crescimentos nos casos graves de quadros respiratórios em relação a dados das últimas três e seis semanas.

O novo boletim também reporta a predominância da Covid-19 entre os casos de síndrome respiratória. Segundo as estimativas, a infecção esteve associada a cerca de 60% desses quadros graves nas últimas quatro semanas.

No documento anterior, a doença tinha associação com 48% com as complicações respiratórias.

Máscaras e vacinação

Os novos registros de doenças respiratórias, principalmente a Covid-19, fez com que o Comitê de Contingência da Covid-19 do governo paulista recomendasse a volta do uso de máscara em espaços fechados. A posição foi seguida pela prefeitura da capital paulista nesta quarta (1º).

Para Marcos Boulos, professor de infectologia da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), o arrefecimento na utilização do material de proteção tem forte associação com o aumento nas doenças respiratórias. Ele menciona que, no ano passado, casos de gripe diminuíram já que o uso de máscara também barra outros vírus respiratórios.

"Não é adequado não usar máscara numa época em que ainda se tem uma pandemia, que está diminuindo, mas ainda se encontra em curso. Então, enquanto não acabar de vez, temos que continuar usando máscara", afirma.

Borsari, do Nipo-Brasileiro, reitera esse ponto. Segundo ele, no hospital observa-se que a taxa de positividade para a Covid-19 entre a população geral está maior do que entre profissionais da saúde. Uma das razões que pode explicar isso é que o uso de máscaras continua obrigatório em centros de saúde.

Outro ponto levantado é a vacinação. Borsori diz que os profissionais de saúde já se imunizaram massivamente, enquanto a vacinação em parte da população ainda patina. "Isso abre uma oportunidade para circulação do vírus", conclui ele.

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