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Exame que avalia gordura no fígado pode ajudar na prevenção de cirrose não alcoólica

Técnica aliada à ultrassonografia tradicional permite avaliação de danos que não têm relação com bebida alcoólica

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Rio de Janeiro

A chamada doença da gordura no fígado não alcoólica é uma condição que atinge em torno de 25% a 30% da população, segundo dados da Sociedade Brasileira de Hepatologia.

Ela se caracteriza pelo acúmulo de gordura no fígado sem associação com o consumo de bebida (cirrose alcoólica), cuja incidência estimada na população é de 182 casos a cada 100 mil indivíduos, de acordo com uma pesquisa feita pela Fiocruz em 2008.

O médico José Escobar Ferreira Neto e equipe realizam transplante de fígado no Hospital Albert Einsten, em São Paulo, SP - Luiz Carlos Murauskas/Folhapress

A gordura no fígado pode ser encontrada com frequência em indivíduos com a chamada síndrome metabólica, caracterizada por níveis altos de colesterol, diabetes e hipertensão arterial. Em pessoas com obesidade, um estudo de epidemiologia global de esteatose hepática (também conhecida como esteatohepatite, ou NASH, na sigla em inglês) encontrou uma prevalência de 87% de NASH nesta população.

Se não tratada, a esteatose hepática pode evoluir para fibrose (formação de cicatrizes no tecido hepático) e até cirrose. Nesta etapa, segundo o hepatologista João Marcello Neto, a cirrose não chega a ser irreversível, mas o paciente depende de medicamentos para manter o que os médicos chamam de compensação da cirrose. Em alguns casos, porém, o paciente pode necessitar de transplante do fígado.

Os exames de ultrassonografia tradicionais permitem identificar se o fígado está alterado em sua forma, sendo possível avaliar se ele possui acúmulo de gordura ou não, mas tal avaliação é limitada quanto ao risco de evolução do quadro.

Já o exame conhecido como elastografia hepática faz uma análise mais apurada do fígado, considerando não só a forma mas também a textura para avaliar qual o estágio em que se encontra a doença. "De 80% a 85% dos pacientes possuem o estágio 1, onde o risco ainda é baixo para evolução de cirrose, mas uma média de 10% dos pacientes podem chegar até o estágio 2 de fibrose e cerca de 5% podem evoluir para cirrose", explica.

A avaliação do risco leva ainda em consideração diversos fatores como obesidade, hipertensão alta, diabetes tipo 2 e dislipidemia, condição que pode levar ao entupimentos das artérias (aterosclerose). As doenças cardiovasculares, inclusive, são a principal causa de morte em pacientes com gordura no fígado.

O exame da elastografia está disponível no SUS e, desde 2018, foi incorporado ao rol de exames da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) com cobertura obrigatória pelos planos de saúde. De acordo com Neto, a sua indicação pode ser feita em duas condições, quando a presença de gordura no fígado já foi identificada em exames de ultrassonografia tradicionais ou quando o paciente possui risco elevado para deterioração do quadro.

"Esta busca ativa, como chamamos, pode trazer um benefício para o paciente que é a identificação ainda no estágio inicial, antes de fazer a transição para a fase 2, de NASH", afirma.

A gordura no fígado em suas fases iniciais é assintomática, por isso os exames são a única forma de identificar o problema. O médico lembra que a importância de fazer o diagnóstico de gordura no fígado é porque, em suas etapas iniciais, ela pode ser resolvida com a perda de peso e mudança de hábitos de vida.

O exame de elastografia hepática possui duas etapas. A primeira, chamada de elastografia transitória, consiste em conectar no próprio transdutor do ultrassom um aparelho que vai quantificar a rigidez do fígado. Já as elastografias ultrassônicas vão avaliar a textura da gordura no fígado.

"A primeira etapa é emitida uma perturbação em um único ponto para medir a velocidade e propagação das ondas geradas. É como se eu jogasse uma pedra em um lago, que vai gerar uma deformação no local onde ela caiu [perturbação] e depois as ondas formadas são medidas quanto à intensidade e alcance", diz.

"No caso do exame ultrassônico, as ondas são externas e localizadas em um ponto do fígado para medir a composição deste. Na composição temos a água, que é um fator constante, e a gordura é a variável de interesse. É similar a dar um ‘peteleco’ em uma gelatina para avaliar como essa gelatina vai responder ao peteleco, se ela for muito mole, vai cair, se tiver mais resistência, vai voltar à forma original rapidamente", explica o médico.

O software permite calcular até dez medidas diferentes do fígado. A farmacêutica Novo Nordisk, que contribui para o desenvolvimento de tecnologias, disse que busca ampliar o acesso de serviços de saúde como este no futuro.

"Antes era um exame com caráter elitizado, por ser feito principalmente na rede privada de saúde. A doença da síndrome metabólica, principal causa da doença da gordura no fígado não alcoólica, tem maior incidência nas camadas mais vulneráveis da sociedade, e por isso é tão importante um diagnóstico rápido e efetivo, com ampliação para toda a população", diz Neto.

A jornalista viajou a convite da Novo Nordisk

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior do texto afirmou que o ​software foi criado pela Novo Nordisk. A farmacêutica apenas financia pesquisas sobre tecnologias como esta. O texto foi corrigido.

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