Descrição de chapéu The New York Times

Cirurgia bariátrica diminui o risco de doença hepática grave, diz estudo

Procedimento também reduz as chances de pacientes desenvolverem câncer de fígado e doenças cardiovasculares

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Roni Caryn Rabin
The New York Times

Um em cada quatro americanos adultos tem doença hepática gordurosa causada por obesidade –e não por bebida alcoólica– e não há tratamento médico para isso. Os médicos dizem que a única maneira de controlar a doença é perder peso e ter uma dieta mais saudável.

Agora, um novo estudo relata que a cirurgia bariátrica, além de ajudar na perda de peso, pode proteger o fígado. Os resultados foram impressionantes: de um grupo de mais de 1,1 mil pacientes que tiveram uma forma agressiva de doença hepática gordurosa, aqueles que fizeram a cirurgia para perder peso reduziram em quase 90% o risco de desenvolverem na década seguinte doença hepática avançada, câncer de fígado ou morte relacionada.

Apenas 5 dos 650 pacientes que fizeram cirurgia bariátrica desenvolveram mais tarde um desses problemas graves no fígado, em comparação com 40 dos 508 pacientes que não fizeram o procedimento.

Passageiro obeso espera vôo no aeroporto Heathrow, em Londres, na Inglaterra - Toby Melville/Reuters

Os pacientes de cirurgia para perda de peso também apresentaram risco significativamente menor de doença cardiovascular, uma conclusão consistente com pesquisas anteriores.

Eles tinham 70% menos probabilidade de sofrer um evento cardíaco, AVC (acidente vascular cerebral), insuficiência cardíaca, ou mesmo morrer de doença cardíaca, de acordo com o estudo publicado na semana passada no JAMA (Jornal da Associação Médica Americana).

O dr. Ali Aminian, diretor do Instituto Bariátrico e Metabólico da Clínica Cleveland (Estados Unidos) e principal autor do estudo, disse que a perda de peso conteve a doença.

"A obesidade é o principal fator do fígado gorduroso; tudo começa com a obesidade", disse Aminian. "Quando o excesso de gordura se acumula no fígado, causa fígado gorduroso, então a inflamação surge e piora, para depois se formar o tecido cicatricial e a cirrose." ​

"Quando um paciente emagrece, a gordura vai embora de todos os lugares, inclusive do fígado. A inflamação diminui e parte do tecido cicatricial pode reverter e melhorar", continuou Aminian. "A perda de peso é o principal fator nisso."

Os resultados foram notáveis, disse o dr. Steven Nissen, diretor acadêmico do Instituto Cardíaco e Vascular da Clínica Cleveland e principal autor do estudo.

O resultado da doença pós-cirúrgica "foi o mais baixo que vi em 30 anos de estudos, uma redução de 88% na progressão para doença hepática avançada", disse ele.

O estudo observacional que revisou casos da Clínica Cleveland ao longo de 12 anos não estabeleceu uma relação de causalidade para menores riscos de doenças graves do fígado ou do coração decorrentes de procedimentos para perda de peso, mas as descobertas aumentam as evidências de que a cirurgia bariátrica pode trazer benefícios à saúde além da perda de peso.

Cerca de 100 milhões de adultos americanos são perigosamente obesos; a cada ano, aproximadamente 250 mil fazem operações bariátricas.

A cirurgia traz sérios riscos, no entanto. Dos 650 pacientes de cirurgia para perda de peso no grupo de estudo, 62 desenvolveram complicações graves após a operação, e quatro morreram dentro de um ano.

O procedimento mais comumente realizado é chamado de gastrectomia vertical. Apenas um quinto dos pacientes incluídos nesse estudo fez esse procedimento. A grande maioria fez cirurgia de bypass gástrico em Y de Roux.

Mais de 40% dos adultos americanos lutam contra a obesidade. Cerca de 75% têm doença hepática gordurosa não alcoólica, que geralmente é uma condição silenciosa e sem sintomas óbvios. Mas um em cada quatro ou cinco desenvolverá uma forma agressiva da doença chamada esteatose hepática não alcoólica, ou EHNA, que causa fibrose do fígado. Além disso, um em cada cinco desses indivíduos desenvolverá cirrose ou cicatrização do fígado, para a qual a única cura é o transplante.

Não existem medicamentos ou terapias aprovadas disponíveis para a doença hepática gordurosa não alcoólica. Os médicos geralmente aconselham os pacientes a perder peso e adotar uma dieta mais saudável, na tentativa de reduzir a gordura, a inflamação e a fibrose no fígado, um órgão vital que transforma alimentos e bebidas em nutrientes e filtra substâncias nocivas do sangue.

Pacientes obesos submetidos à cirurgia bariátrica geralmente perdem até 25% do peso corporal, muito mais do que pacientes que fazem dieta para emagrecer. Após a cirurgia, eles geralmente precisam de menos medicação para manter sob controle condições como diabetes tipo 2, hipertensão e colesterol alto.

O novo estudo não é definitivo, no entanto. Foi um estudo observacional retrospectivo que comparou os resultados em longo prazo de 650 pacientes de cirurgia bariátrica com 508 pacientes pareados que não foram submetidos a cirurgia. Como tal, não foi um estudo controlado e randomizado do tipo considerado o padrão-ouro na medicina, que atribui aleatoriamente pacientes com características semelhantes a um braço de intervenção ou a um placebo.

Vários dos 16 autores do artigo consultam ou recebem financiamento para pesquisas de empresas que fabricam dispositivos usados em cirurgias para perda de peso. Tanto Aminian quanto Nissen recebem financiamento da Medtronic, a maior empresa de dispositivos médicos do mundo, e Nissen também recebe financiamento da Ethicon, fabricante de dispositivos médicos e instrumentos cirúrgicos. No entanto, eles não receberam financiamento externo para este estudo.

"A doença hepática gordurosa é realmente a doença mais importante sobre a qual a maioria dos americanos não sabe essencialmente nada", disse Nissen. "Hoje é uma causa de insuficiência hepática mais importante do que o álcool. E com a epidemia de obesidade essa doença está realmente aumentando em um ritmo assustador."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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