A droga antiviral molnupiravir, desenvolvida pela Merck —no Brasil, é a MSD— para tratar a Covid-19, acelerou a recuperação dos pacientes, mas não conseguiu reduzir os riscos de hospitalização e morte, segundo os resultados de um grande ensaio clínico feito no Reino Unido.
O artigo revisado por pares publicado em The Lancet confirmou descobertas preliminares divulgadas em outubro de que o molnupiravir —comercializado pelo grupo farmacêutico dos Estados Unidos como Lagevrio— não evitou a doença mais grave entre os 25.700 participantes.
Mas os pesquisadores da Universidade de Oxford que lideraram o chamado ensaio Panoramic enfatizaram os resultados secundários positivos em uma entrevista coletiva na última quinta-feira (22).
"O estudo sugere que esse tratamento pode ter outros benefícios para tratar Covid, como um tempo de recuperação mais rápido e acompanhamento reduzido em serviços de saúde", disse Chris Butler, pesquisador-chefe adjunto em Oxford. O molnupiravir reduziu a duração dos sintomas em cerca de quatro dias, em média.
"Isso pode ajudar a aliviar a sobrecarga nos serviços de saúde do Reino Unido por meio do tratamento de pacientes selecionados em casa durante períodos de alto nível de doenças e pressão sobre os principais serviços", disse ele.
Jonathan Van-Tam, ex-vice-diretor médico da Universidade de Nottingham, outro membro da equipe do estudo, disse que, "embora o molnupiravir tenha sido originalmente considerado bom para reduzir a hospitalização em pacientes com Covid, esses pacientes não eram vacinados".
"Esta última pesquisa repetiu o teste na população altamente vacinada, demonstrando que a proteção da vacina é tão forte que não há nenhum benefício óbvio do medicamento em termos de redução de hospitalização e mortes. No entanto, a duração dos sintomas e a disseminação do vírus são marcadamente menores."
O molnupiravir funciona provocando uma sobrecarga de mutações letais no Sars-Cov-2, o vírus que causa a Covid. Alguns cientistas expressaram temores de que essa "catástrofe de erro" pudesse acelerar a evolução de variantes prejudiciais, mas Judith Breuer, da University College London, que chefiou uma parte do estudo Panoramic sobre a virologia da Covid, disse que essa preocupação agora parece injustificada. "Qualquer vírus que persista após o tratamento é altamente mutante para ser viável", disse ela.
Os pesquisadores planejam avaliar os custos e benefícios do tratamento com molnupiravir e o efeito do medicamento nos sintomas de Covid em longo prazo. Mas, ao custo de várias centenas de libras por paciente, sua prescrição por médicos generalistas como tratamento da Covid para a população em geral não se justifica, disse Paul Little, da Universidade de Southampton, um dos investigadores principais.
"Estamos entusiasmados por essas descobertas da Panoramic", disse a Merck, que é conhecida como MSD fora da América do Norte. "Esses resultados, principalmente no que diz respeito à melhora sintomática, apoiam ainda mais a necessidade urgente de acesso global ao Lagevrio [como também é conhecido o molnupiravir] para tratamento de Covid-19 em pacientes adequados, de alto risco."
Apresentando seus resultados do terceiro trimestre no final de outubro, a MSD disse que esperava vender entre US$ 5,2 bilhões e US$ 5,4 bilhões do Lagevrio em 2022, embora as vendas agora estejam caindo rapidamente —de US$ 3,24 bilhões no primeiro trimestre para US$ 1,18 bilhão no segundo e US$ 436 milhões no terceiro.
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