Vacina contra dengue tem eficácia de 79% mesmo após 2 anos da aplicação

Dados ainda são preliminares; estudo deve ser concluído em 2024

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São Paulo

Dados de um estudo de fase três apontam que uma vacina contra a dengue desenvolvida pelo Instituto Butantan teve eficácia de 79% para prevenção da doença mesmo após dois anos da aplicação. Durante a análise, não foram registrados quadros graves de infecção nos participantes.

O resultado não foi publicado em periódico científico, mas isso é planejado para ser feito ainda no primeiro semestre de 2023. Além disso, as informações são preliminares —ainda precisa ser concluído o acompanhamento de cinco anos a partir da vacinação, o que só deve acontecer em 2024.

Somente depois dessa etapa, o instituto submeterá o fármaco à análise da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a quem cabe aprová-lo ou não.

Mosquitos Aedes aegypt em uma pesquisa para avaliar efeito de uma bactéria contra a disseminação da dengue e chikungunya - Divulgação/World Mosquito Prog

"A gente considera que esses dados de dois anos são muito relevantes, mas que é importante ter o dado extra de segmento de até cinco anos para estabelecer bem o perfil de segurança e eficácia", afirma Fernanda Boulos, diretora-médica do Butantan.

A vacina é de dose única e utiliza quatro cepas virais atenuadas em sua constituição. Chamada de Butantan-DV, ela é uma versão análoga da desenvolvida pelo Instituto Nacional de Saúde dos EUA. A farmacêutica MSD também faz parte do projeto de desenvolvimento do imunizante.

A pesquisa que avalia os dados de eficácia da vacina teve início em 2016. No total, foram mais de 16 mil voluntários com idade entre 2 e 59 anos no levantamento, sendo que cerca de 10 mil deles receberam o imunizante e os demais, placebo.

Entre todos os participantes, alguns já tinham sido infectados pelo vírus que causa a dengue e é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. Outros ainda estavam incólumes a doença.

Com essa divisão, o Butantan conseguiu medir a eficácia geral de 79% da vacina, mas também as diferenças vistas nos dois grupos. Naqueles com histórico para dengue, a eficácia foi de cerca de 89%. Já para a outra parcela de participantes sem registro da doença, a proteção conferida pelo imunizante foi menor: 73%.

Boulos afirma que, em pesquisas realizadas com outras vacinas candidatas, a proteção conferida já era diferente entre os grupos. Por isso, o resultado do levantamento do Butantan não foi totalmente uma surpresa.

Outra particularidade observada na pesquisa foi para os sorotipos do vírus. A vacina é produzida por quatro cepas do patógeno, chamados de DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4.

Segundo o Butantan, os sorotipos três e quatro não tiveram circulação ampla no Brasil durante o período de análise. Sendo assim, não foi possível concluir a eficácia da vacina especificamente para as duas cepas. A ideia é que, com a continuidade da pesquisa nos próximos anos, seja possível avaliar o nível de proteção conferida contra essas cepas. Caso mesmo assim não sejam obtidas informações suficientes, novos estudos podem ser realizados.

No caso do DENV-1 e DENV-2, o levantamento concluiu que a vacina teve uma eficácia geral de 89% para o primeiro e de 69% para o segundo.

Além das informações de eficácia, a segurança do imunizante também foi medida. O Butantan observou que, no grupo de voluntários que foram imunizados, menos de 0,1% tiveram relatos de eventos adversos graves com alguma relação a vacina.

Situação no Brasil

Segundo dados do Ministério da Saúde, a dengue já causou mais de 1.400.100 casos prováveis no Brasil até 3 de dezembro deste ano. O número representa um aumento de 172% em comparação ao ano passado. Já em relação a 2019, ano pré-pandêmico, ocorreu uma redução nos casos de 7,7%.

No total, foram 1.414 registros de casos graves neste ano, com 978 mortes.

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