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Distribuição de vacina contra Covid a países mais pobres deve se tornar rotineira

Decisão sobre futuro da Covax, iniciativa criada na pandemia, será tomada em junho; Brasil recebeu 25 milhões de doses do programa

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São Paulo

A Covax, iniciativa desenvolvida para distribuir imunizantes contra a Covid-19, deve ser incorporada a um modelo de vacinação de rotina. Isso significa que os fármacos devem passar a ser distribuídos de maneira constante para população de maior risco em países mais pobres, como já acontece em relação a vacinas contra outras doenças, como o HPV.

Fruto de uma parceria, a Covax foi criada na pandemia para fornecer vacinas contra a Covid para diversos países, doando as doses para nações pobres e agilizando a distribuição igualitária para as de média e alta renda.

"A decisão ainda não foi tomada, mas estamos discutindo [...] a ideia de integrar a Covax no âmbito da imunização de rotina. É o que faz sentido", afirma José Manuel Barroso, presidente do conselho da Gavi, uma aliança internacional para prover vacinas ao redor do mundo e uma das organizações que compõem a Covax.

José Manuel Barroso, presidente do conselho da Gavi, durante entrevista à Folha, na capital paulista
José Manuel Barroso, presidente do conselho da Gavi, durante entrevista à Folha, na capital paulista - Zanone Fraissat/Folhapress

A expectativa é que a decisão seja tomada em junho, numa reunião do conselho da organização. Também lideram a Covax a OMS (Organização Mundial da Saúde) e a Cepi (Coalizão para Inovações em Preparação para Epidemias), que contam com a parceria do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).

No Brasil, foram mais de 25 milhões de doses dos imunizantes com eficácia contra a Covid distribuídos pela Covax, sendo 12 milhões de vacinas bivalentes. O país entrou no rol de nações que pagaram por essas doses, pois não é considerado de baixa renda.

No entanto, se a Covax for aglutinada ao modelo de distribuição de rotina da Gavi, o Brasil deixará de ter acesso ao imunizante pelo programa, já que ele não entra no rol de países atendidos pela iniciativa. No total, são 78 países pobres que compõem essa lista dos aptos a receber as doações da Gavi visando à imunização rotineira da população de maior risco.

No entanto, isso não representa um grande problema porque, considerando o momento atual da pandemia, o Brasil já consegue ter acesso a fármacos suficientes para o público interno. Um exemplo é que as doses vindas pela Covax ao país representam só 5% das mais de 510 milhões já aplicadas.

A importância maior do programa para a população brasileira foi de disponibilizar algumas doses em um momento em que havia pouca capacidade produtiva no mundo. As primeiras delas, um pouco mais de 1 milhão, chegaram em março de 2021, quando o Brasil sofria com falta de imunizantes.

O objetivo da Gavi de integrar a vacinação da Covid ao esquema rotineiro da organização compactua com a leitura de especialistas de que o combate à doença demandará doses de reforços, principalmente para grupos de maior risco, como idosos e imunossuprimidos.

Barroso explica que, conforme o diálogo que mantém com especialistas, a recomendação é se manter preparado contra o Sars-CoV-2, vírus causador da Covid. Dentro desse modelo, entraria a imunização de tempos em tempos de pessoas mais suscetíveis a quadros graves da doença.

Nacionalismo vacinal

Desde o início, a Covax tinha o objetivo de reservar doses de vacinas para serem doadas a países pobres, mas também desenvolveu um modelo de distribuição mais equitativa entre outras nações. Nesse caso, os países de média e baixa renda ainda pagavam pelas doses, como ocorreu para o Brasil.

Mas o projeto sofreu com o chamado nacionalismo vacinal, termo que designou o movimento de países mais ricos que monopolizaram grande parte das doses disponíveis.

"O que aconteceu dessa vez foi que os países mais ricos se puseram à frente da fila porque pagavam mais e quando nós, Gavi, criamos a Covax com a OMS, Unicef e Cepi, tivemos que perder tempo conseguindo financiamento para entrar nesse mercado", contou Barroso.

Além das compras exageradas de doses em algumas nações, o presidente do conselho da Gavi cita que países com sede das farmacêuticas impuseram limites na exportação das vacinas. As empresas, segundo Barroso, também não agiram da melhor maneira possível.

"Nem tudo foi bom comportamento [...] nem da parte dos governos, nem da parte das companhias farmacêuticas."

Mesmo reconhecendo as dificuldades, Barroso acredita que a iniciativa alcançou feitos importantes. "A Covax [...] fez o seu trabalho o melhor possível."

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