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Estamos criando uma geração de crianças doentes, diz Drauzio Varella

Para o médico, a saída possível é ampliar o acesso a brincadeiras, a espaços livres e a escolas em tempo integral

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São Paulo

Diante da piora da saúde mental de crianças e adolescentes, tema que voltou a ser discutido após os recentes ataques em escolas, o médico e escritor Drauzio Varella, 79, diz que é o momento de se criar estratégias para que as crianças voltem a brincar com outras crianças, por exemplo, ampliando o acesso a escolas de tempo integral.

"Estamos criando uma geração de crianças doentes, com problemas mentais sérios. E sem a possibilidade de sair desse quadro. Ninguém sabe o que vai acontecer com os estímulos cerebrais que esses joguinhos e que a internet trazem a cada momento", afirma em entrevista à Folha.

O médico e escritor Drauzio Varella, durante entrevista seu escritório no bairro da Bela Vista, região central de São Paulo - Bruno Santos/Folhapress

Segundo ele, as crianças de gerações passadas, como a dele, viveram em um mundo mais acolhedor, sem a violência urbana que existe hoje e com muitos amigos para brincar.

"Eu fui criado na rua, jogando bola o dia inteiro, tinha centenas de amigos. Acordava e ia para rua, vinha alguém com a bola, a gente escolhia os times e ficava jogando o tempo inteiro. Nós não temos ideia do que vai acontecer com essa geração."

O médico diz que, agora, com famílias menores, que têm um ou dois filhos, no máximo, e pais muito atarefados, é muito comum ver crianças sozinhas em casa. "O que se faz com uma criança dessas que está em plena energia e que não tem outras crianças para brincar? Aí vem o joguinho que segura tudo, ela se distrai horas."

Drauzio afirma que essas novas tecnologias capturam mais facilmente os mais novos. "Quando você passa um tempo na internet para o seu trabalho, você fica um pouco cansado daquilo, dá vontade de parar um pouco. Mas a criança é estimulada, recebe uma descarga de adrenalina o tempo inteiro, ela é capturada por esse tipo de tecnologia."

Ele diz que não vê essas mudanças com bons olhos. "E não é conversa de velho, eu acho que isso não está dando certo agora, e as consequências serão piores no futuro."

Para o médico, esse aumento dos transtornos mentais infantojuvenis é apenas uma "pálida ideia" do que pode vir pela frente. "A quantidade de crianças com síndromes do pânico, com ansiedade, as que se cortam para reduzir a ansiedade."

Segundo ele, a saída é a sociedade "ir um pouco para trás". "As crianças precisam ter acesso a brincadeiras, espaços livres para poder brincar, escolas em tempo integral, tirar a criança dessa situação."

E o problema não se resume aos transtornos mentais, pontua o médico. "Quando eu era criança, conhecia um único garoto na rua que tinha asma. Agora você vai nas famílias, em todo lugar tem criança sendo levada ao pronto-socorro com falta de ar. É uma criançada cheirando tapete, ganhando peso. Não tá legal isso. Nós precisamos ter programas educacionais não só para as crianças, mas para os pais também. E oferecer escolas em tempo integral. É um caminho, pelo menos."

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