Descrição de chapéu The New York Times

Qual é a situação da Covid nos Estados Unidos hoje?

Subvariante arcturus está ligada a 10% dos casos da doença no país; hospitalizações e mortes estão no nível mais baixo em anos

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Dana G. Smith
The New York Times

As mortes por Covid-19 nos Estados Unidos estão no nível mais baixo desde março de 2020, segundo o monitoramento dos CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças). O número de casos também caiu nitidamente, embora tenha ficado mais difícil rastrear as infecções, graças à ampla disponibilidade de testes rápidos feitos em casa. E muitos dos sistemas de controle estabelecidos no início da pandemia já foram desativados.

As mortes por Covid-19 nos Estados Unidos estão no nível mais baixo desde março de 2020 - Marlene Bergamo - 26.abr.2023/Folhapress

Este é finalmente o início do fim da pandemia, ou é apenas mais um recuo que acompanha a chegada da primavera no hemisfério Norte, antes de uma nova variante deslanchar uma nova onda no verão? Nos últimos dois anos os números da doença caíram entre março e junho, voltando a subir em julho. O New York Times conversou com sanitaristas e especialistas em doenças infecciosas para saber qual é a avaliação que fazem neste momento particular da pandemia: qual é o grau de risco no momento, que precauções eles continuam a adotar, quem ainda está adoecendo gravemente e morrendo e o que o futuro pode nos reservar.

TRÉGUA DA PRIMAVERA

Especialistas concordam que o risco de contrair Covid no momento é baixo e que a impressão é que a primavera de 2023 é diferente da de anos anteriores.

"Alcançamos um estágio de estabilidade em que as pessoas estão fazendo escolhas para viver de modo mais próximo da normalidade", disse o Dr. Robert Wachter, diretor do departamento de medicina da Universidade da Califórnia em San Francisco. "E acho que faz sentido. O número de casos está relativamente baixo, e o de mortes também."

A maior razão dessa melhora na situação é que hoje virtualmente todas as pessoas nos EUA já têm alguma forma de imunidade devida a vacinas, a uma infecção prévia ou às duas coisas. Além disso, medicamentos como Paxlovid reduziram significativamente o risco de as pessoas adoecerem gravemente com Covid.

O especialista em doenças infecciosas Dr. Taison Bell, da Universidade da Virginia, disse que em sua UTI "ainda recebemos um ou outro caso de Covid-19, mas não há muitos casos de idosos que precisam do ventilador". Hoje a maioria das pessoas que Bell vem tratando por Covid são idosas e já têm comorbidades que comprometem seu sistema imunológico ou função pulmonar, ou então não foram vacinadas. Para ele, é essencial que as pessoas com alto risco de adoecer gravemente de Covid tomem o reforço bivalente, se ainda não o tiverem feito (uma segunda dose também foi autorizada recentemente para esse grupo).

Outra razão por que a situação está diferente nesta primavera é que há um ano e meio não há novas variantes de Covid que tenham modificado a situação –"não há novas letras gregas", segundo Wachter. Surgiram algumas subvariantes da ômicron que possuem algumas propriedades de evasão do sistema imunológico, como a cepa atualmente dominante, XBB.1.5, mas o Paxlovid e as vacinas são eficazes contra ela.

Apesar das boas notícias, os especialistas ainda adotam algumas precauções. Isso porque, apesar de os números estarem avançando no rumo desejado, cerca de 100 mil americanos ainda estão sendo infectados com Covid toda semana e mais de 150 vêm morrendo da doença a cada dia.

ONDE E POR QUE OS ESPECIALISTAS AINDA ESTÃO TOMANDO CUIDADO

Wachter continua a usar máscara na maioria dos ambientes fechados onde há muitas pessoas, como num avião ou um museu, ele disse, mas não coloca máscara se vai apenas entrar rapidamente em uma loja.

Sua motivação principal é o desejo de evitar a Covid longa. "Diferentemente de dois ou três anos atrás, hoje não sinto medo de morrer desta doença", ele disse. "Mas acho a Covid longa um perigo muito real. Minha mulher tem uma versão branda dela, de modo que tenho a oportunidade de ver de perto como é."

Caitlin Rivers, professora assistente na Escola Bloomberg de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins, tem filhos pequenos e disse que já deixou de usar máscara para ir ao supermercado ou ao trabalho, mas ainda a usa nos transportes públicos. Segundo ela, os incômodos provocados neste inverno que passou pela Covid e outras infecções respiratórias –como a necessidade de faltar à escola ou ao trabalho— justificam o esforço para evitar a doença.

Os especialistas recomendam especialmente que as pessoas continuem a tomar medidas de precaução –como usar máscaras e testar-se antes de ir a ambientes fechados com grande número de pessoas.

"Acho que devemos fazer o que está ao nosso alcance para mitigar o risco, não apenas para nós mesmos mas também para outros, já que vivemos numa comunidade", disse a especialista em doenças infecciosas Dra. Krutika Kuppalli, que também faz o teste antes de ir a eventos públicos. "Não sei se a pessoa do meu lado é imunocomprometida, e, se for, não quero lhe transmitir Covid."

A SITUAÇÃO PODE MUDAR RAPIDAMENTE

Os especialistas alertam que sempre é possível que uma nova variante apareça e deslanche uma nova onda de Covid.

Kuppalli disse que está observando a subvariante da ômicron XBB.1.16, também conhecida como arcturus, que está provocando uma onda de novos casos na Índia. Essa variante é responsável por cerca de 10% dos casos nos Estados Unidos hoje e vem com um sintoma novo: conjuntivite.

Rivers está de olho também em outra nova subvariante, XBB.1.9.1, que compõe mais ou menos 8% dos casos atuais nos EUA. Ela prevê que o número de casos volte a aumentar quando a temperatura subir, impulsionado ou por uma dessas variantes ou por outra semelhante. "Geralmente vemos uma situação calma na primavera seguida por um ressurgimento no verão que começa no sul do país", ela disse, isso porque quando o tempo fica muito quente as pessoas tendem a se reunir em ambientes fechados.

E é provável que essa seja nossa nova normalidade, dizem os especialistas. "O estágio em que estamos hoje é provavelmente uma versão do estágio em que estaremos daqui a um ano, talvez daqui a dois anos também ou em cinco anos", disse Wachter. "Pode ficar um pouco pior. Se isso acontecer, acho que as pessoas e sociedades mudarão de hábitos, se agirem racionalmente. Acho pouco provável que as coisas fiquem muito melhores."

Tradução de Clara Allain

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