O que vem depois da Covid? Entenda sequelas que a doença deixa

Edição da newsletter Cuide-se explica o que é a chamada síndrome pós-Covid

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São Paulo

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O que vem depois da Covid

Há um mês, no dia 5 de maio, a OMS (Organização Mundial da Saúde) decretou o fim da chamada emergência sanitária da Covid-19. A doença deixou de ser um evento extraordinário, com necessidade de ação conjunta dos diferentes países, e não tem mais caráter emergencial.

Na prática, pouco mudou, já que a vida tinha sido retomada e quase não se falava mais da pandemia. As restrições para entrada em portos e aeroportos, a exigência de passaportes sanitários (como testes negativos e comprovante vacinal) e os protocolos de atendimento (como isolamento e rastreamento de contatos) em casos positivos de Covid foram deixados para trás.

Com um saldo de quase 800 milhões de casos em todo o mundo e aproximadamente 7 milhões de mortes, essa foi a maior pandemia vivida no último século. E não para por aí.

O Sars-CoV-2 deixou dezenas de milhões de pessoas com a chamada síndrome pós-infecção aguda da Covid, conhecida também como pós-Covid ou Covid longa.

São sequelas neurológicas, cardiovasculares, gastrointestinais, renais, musculoesqueléticas e em diversos outros órgãos e sistemas do corpo, muitas sem tratamento específico, apenas com meios de aliviar os sintomas.

Segundo a OMS, de 10% a 20% dos infectados sofrem com danos após a infecção.

É difícil caracterizar a síndrome pós-Covid justamente pela sua abrangência em diferentes órgãos e inconsistência dos sintomas. Alguns fatores atrapalham nessa definição:

  • Alguns dos sintomas são muito generalizados, como dores no corpo, tosse, mal-estar;
  • Outros podem ter múltiplas causas, casos de palpitações, dores no peito, distúrbios gastrointestinais, queda de cabelo;

Uma reportagem recente no jornal The New York Times mostrou a vida de três pessoas que têm sequelas nos pulmões devido à Covid três anos após contrair a doença. Os órgãos foram gravemente afetados não só pelo vírus, mas por complicações relacionadas à hospitalização.

Na foto um homem branco, com cabelos pretos curtos, que teve covid, se reabilita das sequelas no Centro de Reabilitação do Hospital São Camilo. O paciente está deitado em uma maca com colchão azul escuro e estrutura de ferro branca. Ele veste uma máscara preta, uma camiseta da cor salmão, uma bermuda bege e meias pretas. O Homem segura uma faixa que está ligada ao seu pé esquerdo. Uma médica negra auxilia o paciente no exercício. Ela tem o cabelo cacheado volumoso e preto, a profissional veste um jaleco branco, uma máscara branca, calça jeans escura e um tênis também branco.
O exercício físico pode ajudar a reduzir sintomas da síndrome pós-Covid - Bruno Santos/ Folhapress

Doença ataca múltiplos órgãos

Além dos sintomas já listados e relacionados aos efeitos respiratórios e gripais, a Covid é uma doença altamente inflamatória que pode acometer diversos sistemas do corpo e, por isso, deixar danos em alguns deles.

Fadiga, dores no corpo e mal-estar podem persistir por até um ano após a infecção. Há também relatos de confusão mental, esquecimento, problemas de sono, ansiedade e depressão, que podem estar relacionados aos efeitos do Sars-CoV-2 nos neurônios.

No caso do coração, uma infecção inicial pode inflamar o órgão e provocar danos que demoram a sarar. É comum o relato de crianças que tiveram a Covid, especialmente nas formas mais graves, apresentarem sequelas cardíacas.

Já sintomas mais específicos, como distúrbios gastrointestinais, parecem ter uma duração menor e atingir especialmente indivíduos mais jovens que tiveram um quadro de infecção leve.

Estudos mostram que mulheres, fumantes e maiores de 40 anos têm maior risco de desenvolver a Covid longa.

Tratamentos e vacinação

A pesquisa Recover, com milhares de pessoas nos EUA, procura identificar os principais sintomas da síndrome pós-Covid. Os resultados prévios listaram até o momento 37 sintomas mais comuns em pessoas com Covid longa, em quatro grupos bem definidos:

  • Grupo 1: alteração no olfato ou paladar (100%);
  • Grupo 2: mal-estar (99%) e fadiga (84%);
  • Grupo 3: confusão mental (100%), mal-estar (99%) e fadiga (94%);
  • Grupo 4: fadiga, mal-estar, confusão mental (94%), palpitações (86%) e distúrbios gastrointestinais (88%)

Segundo um estudo feito na Faculdade de Medicina da USP, a prática de atividade física pode ser eficaz em reduzir os sintomas da síndrome pós-Covid.

Pacientes que fizeram exercícios físicos com orientação profissional por um período de quatro meses apresentaram uma melhora significativa na qualidade de vida, além de redução nos sintomas, principalmente relacionados à dor muscular e fadiga.

Outras pesquisas apontam que a vacinação é um fator protetor para a Covid longa, especialmente as doses de reforço, que podem prevenir reinfecções, queacabam tornando mais comuns o aparecimento de sequelas.

Ciência para viver melhor

Novidades e estudos sobre saúde e bem-estar

  • Estudo conduzido pelo Instituto Nacional de Pesquisa em Câncer e a Université Paris Cité mapeou os principais genes associados à incidência de problemas cardíacos em mulheres jovens e de meia-idade. Os pesquisadores encontraram 16 genes envolvidos em um tipo de condição cardíaca que acomete mais mulheres jovens conhecido como dissecção espontânea da artéria coronária. Os pesquisadores esperam agora desenvolver tratamentos para atuar no mecanismo molecular desses genes e impedir o ataque cardíaco nas mulheres jovens. O estudo foi publicado na revista Nature Genetics.
  • Resultados de um estudo clínico conduzido pela farmacêutica Merck mostraram uma melhora significativa em pacientes com câncer cerebral metastático após o tratamento com um imunoterápico. Chamado pembrolizumabe, a droga teve eficácia em reduzir o tumor no cérebro em 42% dos participantes analisados em dois anos. O câncer de cérebro metastático é a principal causa de morte em pacientes com alguns tumores sólidos que se espalham para o resto do corpo, como pulmão, mama e melanoma. O estudo foi publicado na última sexta (2) na revista Nature Medicine.
  • Estudo publicado na revista científica Jama Neurology mostrou que a prevalência da esclerose múltipla na população negra dos EUA é o dobro do que se estimativa anteriormente. A doença neurológica faz com que as células do sistema imunológico destruam a capa protetora dos neurônios, gerando falhas na comunicação entre o cérebro e o corpo. Segundo os autores da pesquisa, a baixa inclusão de minorias e grupos subrepresentados em ensaios clínicos também traz consequências para o diagnóstico preciso da doença. O estudo foi conduzido por cientistas da Escola de Medicina da Universidade de Maryland.
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