A importância da prevenção ao suicídio fora do mês de setembro

Edição da newsletter Cuide-se fala sobre a prevenção ao suicídio e saúde mental

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São Paulo

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Como é comum com diversas condições de saúde, a prevenção ao suicídio recebe atenção especial durante o mês de setembro, quando associações, gestores, órgãos governamentais e hospitais fazem campanha para o Setembro Amarelo. Mas é importante pensar na prevenção ao suicídio além do mês de conscientização.

Nesta edição, falo sobre como é difícil encarar a perda de alguém próximo por suicídio e o que podemos fazer como sociedade para reparar esse dano.

A ilustração mostra um fundo escuro com uma pilha de barras derrubadas, com apenas um de pé, onde uma menina ruiva se equilibra para não cair
Ilustração de Catarina Pignato para matéria sobre autoagressão e tentativa de suicídio entre crianças e jovens - Folhapress

Prevenção ao suicídio: o que fazer?

Eu preciso começar o texto hoje dizendo que perdi alguém muito próximo de mim há três anos por suicídio. No início, é difícil acreditar e até mesmo falar —e, temos que admitir, esse é um dos motivos do suicídio ser tabu em tantos países e culturas diferentes.

Neste momento, todas as situações passam pela cabeça, e nessas horas não há racionalidade alguma. "E se…?"

Pois bem. Essa é a pergunta que todos os psiquiatras, psicólogos e terapeutas que estudam os fatores que levam ao suicídio dizem para não fazermos. Porque é óbvio que não ameniza a dor pensar como poderíamos ter evitado, se soubéssemos de algo, ou se tivéssemos previsto o que estava por acontecer (na maioria dos casos, não estávamos).

Problema de saúde pública global

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), cerca de 700 mil pessoas morrem a cada ano por suicídio, sendo 77% dos casos em países de renda baixa e média. Mas estas mortes, em grande parte, podem ser evitadas.

Segundo as diretrizes da própria entidade, a prevenção pode ocorrer limitando o acesso aos meios de autoagressão ou suicídio (como pesticidas, venenos e armas de fogo), com políticas de saúde mental e redução do álcool e com a cobertura responsável da mídia sobre o suicídio.

No caso dos jovens, onde o suicídio figura como a quarta causa de mortalidade no mundo, é importante dialogar e tentar compreender o sofrimento daquela pessoa.

Muitas vezes, antes de iniciar a autoagressão ou a ideação suicida, surgem sinais de problemas relacionados à saúde mental, como nervosismo, depressão, falta de vontade de encontrar amigos e familiares, falta de interesse em atividades que antes gostava, abuso de substâncias (lícitas ou ilícitas), etc.

Fortalecimento da saúde mental

Nos últimos anos, cresceu o número de crianças e adolescentes que cometeram suicídio no país. Esse problema não é isolado das famílias das vítimas —ele é um problema de saúde pública e, para tal, precisa de políticas direcionadas.

Como mostrou reportagem da Folha, a rede de assistência psicossocial aos jovens é insuficiente. Para a população que é totalmente dependente do SUS (Sistema Único de Saúde), a falta de centros especializados e de profissionais que possam aliviar o sofrimento psíquico é um problema grave.

Por isso, é fundamental que o Ministério da Saúde estabeleça um plano para não só melhorar o atendimento nos Caps (Centros de Atenção Psicossocial) como também dispor de recursos contínuos para ampliação da rede e dos profissionais que nela atendem.

Além disso, são muitos os problemas sociais que podem agravar a condição de saúde mental dos jovens. Falta de perspectiva futura, desemprego, condições de vulnerabilidade social e discriminação (racial, de gênero ou social) são fatores que podem desencadear transtornos mentais, levando à depressão e, possivelmente, à autoagressão e ao suicídio.

Procure ajuda

Se você ou alguém próximo de você está pensando em suicídio, procure os serviços abaixo:

NPV (Núcleo de Prevenção à Violência)

Os NPVs são constituídos por ao menos quatro profissionais dentro das UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e de outros equipamentos da rede municipal. Para acolher e resguardar as vítimas, os núcleos atuam em parceria com o Ministério Público, a Defensoria Pública, o Conselho Tutelar, a Secretaria Municipal de Educação e a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social.

Mapa da Saúde Mental

O site, do Instituto Vita Alere, mapeia serviços públicos de saúde mental disponíveis em todo território nacional, além de serviços de acolhimento e atendimento gratuitos, além de ações voluntárias realizadas por ONGs e instituições filantrópicas, entre outros. Também oferece cartilhas com orientações em saúde mental.

CVV (Centro de Valorização da Vida)

Voluntários atendem ligações gratuitas 24 h por dia no número 188, por chat, via email ou diretamente em um posto de atendimento físico. Presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar.

Fale sobre

Por fim, voltando ao início deste texto, é importante falar sobre o suicídio, de maneira ética, consciente e responsável, claro.

O luto coletivo de um suicídio inexiste em nossa sociedade. Choramos por mortos que sofrem um desastre coletivo, como deslizamentos de terra e operações violentas policiais, ligando diretamente os casos à irresponsabilidade de governos, completamente alheios ou mal-intencionados em se preocupar com as mazelas daqueles atingidos, em geral pobres e de baixa escolaridade.

Mas quando enfrentamos uma morte por suicídio, o que resta é o silêncio absoluto, talvez porque não haja grande distinção de classe social ou escolaridade entre as pessoas que escolhem encerrar com a própria vida. É como se não houvesse nenhuma responsabilidade naquela morte se não da própria pessoa, ou dos familiares que não puderam/souberam evitar.

Já passa da hora de também olharmos ao poder público para que políticas dignas de prevenção ao suicídio e de saúde mental sejam implementadas no país.

CIÊNCIA PARA VIVER MELHOR

Novidades e estudos sobre saúde e ciência

  • Ansiedade e depressão podem ser sinais de esclerose múltipla (EM). A EM é uma doença autoimune que afeta a bainha de mielina, espécie de "capa protetora" que reveste os neurônios. Ela pode demorar anos a se manifestar e os sintomas incluem a perda motora. Pesquisadores da Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá) analisaram mais de 6.000 pacientes com EM e viram que o risco de desenvolver a doença era praticamente duas vezes maior naqueles com sinais de ansiedade e depressão anos antes do diagnóstico. Os resultados foram publicados na revista Neurology.
  • MicroRNA pode impedir anomalias no feto pós-infecção por zika. Pesquisadores da Universidade Baylor de Medicina usaram modelos em camundongos e células humanas de cordão umbilical para transferir células contendo microRNA modificado de forma a impedir a entrada do vírus no feto, mantendo ele sob ataque do sistema imune placentário. Isso evitou consequentes anomalias nos bebês que nasceram das mães camundongo. Os achados, publicados na revista Americana de Ginecologia e Obstetrícia, podem ser um caminho para tratamentos em humanos.
  • Dermatite atópica pode ser tratada com vírus que ataca bactérias. Os vírus, chamados de bacteriófagos (ou "fagos"), são conhecidos da nossa microbiota intestinal, mas pouco se sabia sobre sua atuação em outros órgãos. Pesquisadores da MedUni, em Viena (Áustria), viram que esses vírus podem levar ao desenvolvimento de terapias inovadoras para dermatite atópica, doença autoimune, hereditária e inflamatória que acomete a pele. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista Science Advances.

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