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O que a Folha pensa

Dengue prevista

País precisa de política contínua contra doença, que deve se agravar com El Niño

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Imagem ampliada do mosquito Aedes aegypti, transmissor do vírus da dengue - Xinhua/CSIRO

A dengue é uma doença periódica e cíclica: os casos crescem no verão e há picos epidêmicos a cada 4 ou 5 anos. Trata-se, portanto, de enfermidade de atuação previsível. Supõe-se que o poder público se adiantaria com medidas de prevenção e tratamento. Contudo, há décadas os números de casos e mortes só aumentam no Brasil.

Entre 2000 e 2010, foram registrados 4,5 milhões de ocorrências e 1.869 óbitos. Na década seguinte, os números saltaram para 9,5 milhões e 5.385, respectivamente. O primeiro semestre deste ano registra 1,4 milhão de casos, ante 1,5 milhão em 2022. A tendência é piorar.

Na quarta (21), a Organização Mundial da Saúde emitiu um alerta de que os casos de dengue podem atingir números recordes em 2023 devido ao fenômeno climático El Niño, que eleva as temperaturas e a incidência de chuvas.

Regiões de clima tropical são mais afetadas. A tendência de alta não se verifica só no Brasil, mas na América Latina. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde, a região registrou cerca de 400 mil casos em 2000, quase 1,7 milhão dez anos depois, e 2,8 milhões em 2022. Só no primeiro semestre deste ano, são mais de 3 milhões.

A prevenção não se resume à área da saúde. Segundo a OMS, urbanização descontrolada e sistema sanitário precário contribuem para o descontrole da moléstia.

No Brasil, cerca de 50% da população não tem acesso a redes de esgoto, em grande parte devido à ineficiência estatal, que só agora começa a mudar com o novo marco do setor. E o desmatamento para a construção de moradias irregulares grassa nos grandes centros. A dimensão de áreas verdes derrubadas para esse fim na cidade de São Paulo atingiu, nos primeiros dois meses de 2023, 85 hectares.

Neste ano, o município já conta com 11.444 casos de dengue —3,7% a mais em relação ao mesmo período de 2022. Dez pessoas morreram, o maior número em oito anos, quando houve pico epidêmico.

A OMS ressaltou a importância da vacinação. Mas, devido à burocracia, o Brasil protela a distribuição do imunizante japonês Qdenga —já aprovado para venda pela Anvisa— no sistema público de saúde.

O combate à dengue deve ser contínuo, não apenas no verão, e em várias frentes complementares (saúde, infraestrutura e moradia). Com o alerta da OMS, espera-se que o poder público, local e federal, se prepare para receber as consequências do El Niño.

editoriais@grupofolha.com.br

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