Casos de dengue crescem 15,8% no Brasil, aponta Ministério da Saúde

Espírito Santo, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal e Goiás têm maior incidência da doença

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São Paulo

Até a semana epidemiológica 48 (2 de dezembro), o Brasil registrou 1.601.848 casos de dengue, 15,8% a mais que no ano passado, quando chegou a 1.382.665 no mesmo período. As mortes tiveram alta de 5,4%—1.053 foram confirmadas neste ano e 999 no ano anterior.

Segundo o Ministério da Saúde, a variação climática, o aumento das chuvas, o número de pessoas suscetíveis às doenças e o ressurgimento de novos sorotipos do vírus são fatores que podem ter contribuído para esse crescimento.

Com a identificação do sorotipo 4 da dengue no Rio de Janeiro —desaparecido na cidade desde 2018—, o Brasil tem hoje os quatro tipos de dengue em circulação ao mesmo tempo.

Agentes de Endemias da prefeitura de São Paulo durante ação casa a casa de combate à dengue no bairro Cidade Jardim, zona sul da capital
Agentes de Endemias da prefeitura de São Paulo durante ação casa a casa de combate à dengue no bairro Cidade Jardim, zona sul da capital - Jardiel Carvalho - 23.nov.2023/Folhapress

"Nós tivemos um inverno atípico para dengue, com muitos casos, se comparado com o inverno do passado. A nossa expectativa para o verão é uma explosão de dengue, principalmente pela influência do El Niño. Mais chuva e calor favorecem a replicação do Aedes aegypti", diz Júlio Croda, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.

Quanto ao cenário epidemiológico de zika vírus, até a semana epidemiológica 48, o Brasil registrou aumento de 1% nos casos em 2023 (7.275), quando comparado ao mesmo período de 2022 (7.218). Não houve mortes no período.

A chikungunya registrou queda de 45% no país, considerando o mesmo intervalo de comparação. Em 2023, o país somou 145.342 casos da doença contra 264.365 em 2022. Em relação aos óbitos, é observado crescimento de 7,5% —100 mortes neste ano contra 93 em 2022.

Na contramão, com alta de 142,6%, está São Paulo. Até 1º de dezembro, foram registrados 2.167 ocorrências da doença e 12 óbitos. No mesmo período do ano passado, houve 893 confirmações, mas sem óbitos.

Os resultados do LIRAa (Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti) mostram que 74,8% dos criadouros do mosquito foram encontrados nas residências — em vasos e pratos de plantas, garrafas retornáveis, recipientes de degelo em geladeiras, bebedouros, fontes ornamentais e materiais em depósitos de construção—, 22% em armazenamento de águas elevadas, como caixas d'água e cisternas, e 3,2% estavam em depósitos de pneus e lixo.

Em 2024, segundo projeções, no pior cenário, o país poderá chegar a 5 milhões de casos de dengue, sem considerar as novas tecnologias e ações, conforme explica a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel.

"Nossa ideia é que o impacto seja reduzido principalmente em relação à gravidade dos casos, que é o nosso foco principal. Instituir o diagnóstico precoce, iniciar a reidratação rápido e impedir a progressão para a gravidade", afirma Maciel.

A expectativa é que o Centro-Oeste alcance nível epidêmico; Minas Gerais e Espírito Santo, potencial epidêmico. O Paraná deverá ter um patamar alto de casos e o Nordeste um crescimento abaixo do limiar epidêmico.

"Nós falamos muito aqui da rede dos agentes de endemias, que aí é mais o controle, mas também os agentes comunitários de saúde. Toda a estratégia de saúde da família é fundamental para o diagnóstico precoce. Somo a isso a nossa rede do Programa Mais Médicos, que nós reconstruímos nesse ano, chegando até o final desse ano a previsão de 18 mil médicos em território. Nesse aumento de casos de dengue previsto, o diagnóstico precoce será fundamental", reforça a ministra da Saúde, Nísia Trindade.

"É importante treinar os profissionais de saúde e organizar os serviços de saúde para tratamento adequado das suspeitas de dengue. Precisa criar uma infraestrutura e rede para que se tivermos um aumento constante de casos, estejamos preparados para receber o paciente, diagnosticá-lo e tratá-lo adequadamente", afirma Croda.

Para facilitar as ações e dar uma resposta coordenada a estados e municípios, o Ministério da Saúde implantou a Sala Nacional de Arboviroses. De acordo com o ministério, cabe ao espaço planejar, organizar, coordenar e controlar as medidas a serem empregadas durante a resposta; articulação com gestores estaduais e municipais do SUS; divulgação da situação epidemiológica e assistência; e o acionamento de equipes.

Outras medidas para o enfrentamento às arboviroses incluem o envio de R$ 256 milhões a estados e municípios; capacitação e formação de profissionais de saúde para o manejo de casos; publicação de guias de manejo de dengue e chikungunya, e diretrizes de controle vetorial; abertura do painel de monitoramento das arboviroses, com os números de dengue, zika e chikungunya atualizados em tempo real; aquisição de sais de reidratação oral e equipamentos portáteis para a contagem de hemácias e plaquetas; e implementação de novas tecnologias de controle vetorial em 177 municípios grandes, e a estados e municípios com aumento da doença.

É o caso da wolbachia, uma bactéria que infecta o mosquito Aedes aegypti e impede que os vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela urbana se desenvolvam dentro dele. O método será expandido para seis novos municípios: Natal (RN), Uberlândia (MG), Presidente Prudente (SP), Londrina (PR), Foz do Iguaçu (PR) e Joinville (SC). Campo Grande (MS), Petrolina (PE), Belo Horizonte (MG), Niterói (RJ) e Rio de Janeiro já estão incluídos na técnica.

O Ministério da Saúde também lançou a campanha "Para fazer diferente, precisamos agir antes", com foco na importância de evitar os criadouros do Aedes aegypti.

"A mensagem que eu quero passar é que estaremos trabalhando junto com estados e municípios, e também com uma mensagem direta e integrada à sociedade para que esse seja um esforço de todos", afirma Nísia Trindade.

Vacina Qdenga

A Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde) deu parecer favorável à incorporação da vacina —Qdenga da farmacêutica japonesa Takeda Pharma— ao SUS.

De acordo com o órgão, o público e os locais prioritários serão definidos pelo Programa Nacional de Imunizações, com base no cenário epidemiológico. A restrição de público se deve, ainda, à capacidade de doses a serem ofertadas pela fabricante. A ministra disse que o quantitativo informado pela Takeda, de 8,5 milhões doses, é insuficiente para vacinação em massa. O imunizante deverá ser administrado em duas doses, com intervalo de 3 meses.

A recomendação também está condicionada a uma proposta de redução de preço pelo laboratório fabricante. Apesar do desconto oferecido, de 170 reais, o valor por dose ainda é alto.

Nesta quinta-feira (7), o Ministério da Saúde abriu uma consulta pública durante dez dias. Segundo a ministra, a decisão final sobre a incorporação vacina sairá ainda neste ano.

Erramos: o texto foi alterado

No título anterior, 'Casos de dengue crescem 17,5% no Brasil, aponta Ministério da Saúde', o percentual estava errado e foi corrigido para 15,8% após correção do Ministério da Saúde. No caso da chikungunya, a versão anterior deste texto mostrava queda de 42,2%. A informação também estava errada. O Ministério da Saúde considerou o novo percentual, de 45%, como uma atualização. O órgão fez as por meio de nota à imprensa.

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