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As superbactérias e o alerta para a saúde global

Edição da newsletter Cuide-se fala sobre risco de organismos resistentes a antibióticos

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São Paulo

Esta é a edição da newsletter Cuide-se desta quarta-feira (3). Quer recebê-la no seu email? Inscreva-se abaixo:

(A edição desta semana vem com um leve atraso devido ao recesso de final de ano. Aproveito para desejar um feliz 2024 e agradecer pela companhia nesses últimos meses.)

As bactérias resistentes a antibióticos são um dos maiores problemas de saúde no mundo. São milhares de pacientes que acabam sucumbindo por infecções que não podem ser tratadas com os antibióticos disponíveis. Na edição de hoje, falo sobre como esse problema surgiu e as medidas para combatê-lo.

Medicamentos e sono de crianças
Infecções causadas por cepas resistentes a medicamentos levam a milhares de mortes por ano - Catarina Pignato

Superbactérias

As superbactérias, ou microrganismos resistentes a medicamentos, são um problema de saúde global crescente.

Em números:

  • Segundo um estudo publicado na The Lancet, a resistência antimicrobiana causou quase 600 mil mortes associadas a infecções por bactérias em 2019, com 141 mil diretamente ligadas a elas na região das Américas.

  • Já um levantamento do IHME (Instituto de Métricas e Estatísticas em Saúde, na sigla em inglês), ligado à Universidade de Washington (EUA), estima que esses organismos estão por trás de 1 em cada 5 mortes em crianças de até cinco anos.

Por que importa: apesar de ser fruto de um processo de seleção natural, sua disseminação em todo o mundo coloca em risco o uso de medicamentos indicados para tratar diversos tipos de enfermidades, como sífilis –que tem como tratamento primário a penicilina.

Uso indiscriminado x internações hospitalares

Há, ainda, duas formas de surgirem cepas resistentes: em pacientes hospitalizados –e aí o risco de "escape" para outros pacientes preocupa– ou em comunidades, com a possibilidade de ocorrerem surtos de doenças conhecidas.

Segundo especialistas, o uso indiscriminado de antibióticos –mas não só– é o que pode levar a essa condição.

  • A OMS (Organização Mundial da Saúde) acendeu um alerta recentemente sobre o risco, mas muitos médicos e pesquisadores criticam a demora em reconhecer o problema como uma emergência em saúde global.

  • O uso de antibióticos na pecuária também é alarmante, pois muitas das infecções que acometem as criações de animais também podem adoecer seres humanos.

Em especial, crianças e idosos representam os grupos de maior risco –nos últimos três anos, subiram as internações por sepse e bactérias resistentes no Brasil, o que pode também ter sido afetado pela pandemia da Covid.

Como combater o cenário

Em 2010, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) passou a exigir a retenção de receita para venda de antibióticos, o que pode reduzir o aparecimento de cepas resistentes.

Há outras medidas importantes, como vigilância de microrganismos, controle de tratamentos em animais de criação e ampliar a busca e desenvolvimento de novas drogas por parte da indústria farmacêutica.

  • Mas falta investimento nessa área, já que os antibióticos não dão lucro para as produtoras, explica Monica De Bolle, professora de economia na Universidade Johns Hopkins e mestre em Imunologia e Microbiologia pela Universidade de Georgetown.

  • Além disso, a descoberta de novas drogas a partir de substâncias existentes na natureza é um processo árduo.

Mas há esperança. Dois novos estudos que acabam de sair na revista Nature desta quarta-feira (3) desvenderam uma classe de antibióticos capaz de matar bactérias multirresistentes –embora ainda estejam em fase inicial de ensaios clínicos e podem demorar até chegar ao público geral.


CIÊNCIA PARA VIVER MELHOR

Novidades e estudos sobre saúde e ciência

  • Organoide ajuda no desenvolvimento de tratamento para câncer de pâncreas. Cientistas testaram mais de 6.000 compostos em um modelo de organoide (um conjunto de células em laboratório que imita a estrutura dos órgãos em miniaturas) com células tumorais pancreáticas. Eles identificaram um composto, conhecido como maleato de perexilina, capaz de suprimir o crescimento dos organoides. A expectativa agora é testar a droga em modelos animais para avaliar a segurança e eficácia, embora ele já seja usado para doença cardíaca. O artigo foi publicado na revista Cell Stem Cell.

  • Sintomas pós-Covid no cérebro nem sempre são detectados em exames de rotina. Uma pesquisa feita da Universidade de Liverpool publicada na revista Nature Communications analisou mais de 800 pacientes hospitalizados com Covid, metade apresentando algum sintoma neurológico, e constatou que é possível continuar colhendo no sangue marcadores que indicam inflamação cerebral meses após a recuperação. O estudo pode ajudar na identificação de sintomas pós-Covid neurológicos.

  • Detectado gene protetor da doença de Parkinson. Cientistas da Universidade do Sudeste da Califórnia identificaram que uma variante do gene conhecido como SHLP2 tem ação protetiva contra o Parkinson. O estudo relata como o gene, descrito em 2016 e responsável por codificar a cadeia de produção de microproteínas pela mitocôndria (a "usina" celular), tem um "ganho de função" ao sofrer uma mutação, podendo reduzir em até 50% o risco de Parkinson. Os resultados foram publicados na última edição da revista Molecular Psychiatry.

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