Mais de 280 milhões de pessoas sofreram insegurança alimentar aguda em 2023

Conflitos, como guerra no Sudão e ocupação de Gaza, e crise climática, agravam o problema

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Juliette Michel e Jordi Zamora
Paris | AFP

A insegurança alimentar piorou no mundo em 2023 e quase 282 milhões de pessoas precisaram de ajuda de emergência devido aos conflitos, em particular em Gaza e no Sudão, assim como por episódios climáticos extremos e crise econômica, afirma um relatório divulgado na última quarta-feira (24).

O número de pessoas em situação crítica aumentou em 24 milhões na comparação com 2022, segundo o relatório elaborado, em conjunto, por 16 agências da ONU e organizações humanitárias.

A guerra no Sudão tem levado mais de 18 milhões de habitantes para a insegurança alimentar aguda, que é indicada quando não há perspectiva de ter o que comer com a frequência esperada - AFP

Globalmente, este é o quinto ano consecutivo em que o número de pessoas em estado de insegurança alimentar aguda aumenta no mundo.

Quase 700 mil pessoas estavam à beira da fome em 2023, incluindo 600 mil em Gaza, um número que aumentou no território palestino nos últimos meses devido à guerra entre Hamas e Israel.

A situação é ainda pior no Sudão, cenário da pior crise de refugiados mundial e em guerra há um ano, onde 8,6 milhões de pessoas entraram para a lista de afetados pela insegurança alimentar (20,3 milhões no total no país).

"Há uma clara deterioração no contexto de crises alimentares consideráveis, como Sudão e Faixa de Gaza", explicou à AFP Fleur Wouterse, vice-diretora do departamento de emergência e resiliência da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura).

Situação preocupante no Haiti

Na América Latina, o caso mais preocupante é o do Haiti, onde a violência e a instabilidade política deixam 1,8 milhão de pessoas em uma situação de extrema vulnerabilidade alimentar, ou seja, 200 mil a mais que em 2022.

Desde a divulgação da primeira edição do relatório, em 2016 pela Rede Global contra Crises Alimentares, uma aliança que reúne organizações da ONU, da União Europeia, dos Estados Unidos e outras organizações humanitárias, "o número de pessoas em situação de insegurança alimentar aumentou de 108 milhões para 282 milhões, enquanto a prevalência (a proporção da população afetada dentro das áreas envolvidas) aumentou de 11% para 22%", destaca Fleur Wouterse.

E a crise alimentar persiste desde então no Afeganistão, República Democrática do Congo, Etiópia, Nigéria, Síria e Iêmen, acrescenta.

A vulnerabilidade dos refugiados

Na América Latina, a chegada constante de migrantes e refugiados à Colômbia, Peru e Equador é uma fonte de preocupação, além do impacto do fenômeno climático El Niño.

Na Colômbia, por exemplo, enquanto apenas 3% da população nativa enfrentava uma situação alimentar grave (1,6 milhão de pessoas), 62% dos migrantes e refugiados (2,9 milhões) estavam em situação de vulnerabilidade.

A Venezuela também é um dos países "que foi identificado como preocupante em todas as edições" do relatório. Apesar do aumento da produção de cereais, a inflação foi o grande problema no país, onde "o preço da cesta básica continuou quatro vezes superior ao salário mensal" médio.

"Em um mundo de abundância, as crianças morrem de fome. As guerras, o caos climático e a crise do custo de vida, combinados com ações inadequadas, farão com que quase 300 milhões de pessoas enfrentem uma crise alimentar aguda em 2023", lamenta o secretário-geral da ONU, Nações Unidas, António Guterres, no prefácio do relatório.

"Os governos devem reforçar os recursos disponíveis para o desenvolvimento sustentável", afirmou. Especialmente porque os custos de distribuição da ajuda aumentaram.

"A crise alimentar mundial é fundamentalmente uma crise moral", reagiu a organização Oxfam em um comunicado.

Para 2024, o desenvolvimento "dependerá do fim das hostilidades", observa Fleur Wouterse. "Assim que os acessos humanitários a Gaza e ao Sudão forem possíveis, por exemplo, a ajuda poderá mitigar rapidamente a crise alimentar", explica.

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