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Polícia encontra anestésico de uso médico em casa de dentista investigado por homicídio de paciente

OUTRO LADO: defesa de Fernando Lucas disse em julho que cirurgias 'implicam riscos inerentes'

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Belo Horizonte

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) cumpriu nesta quinta-feira (22) um mandado de busca e apreensão na residência do dentista Fernando Lucas, suspeito de causar lesões em pacientes por procedimentos proibidos em sua clínica de Belo Horizonte. A atuação do dentista está suspensa.

Os delegados afirmaram nesta sexta (23) que encontraram no local o medicamento anestésico propofol, cujo uso é exclusivo de médicos anestesistas em ambientes hospitalares.

Pacientes do dentista Fernando Lucas afirmam que houve erros após procedimentos cirúrgicos - Arquivo pessoal

A Polícia Civil investiga o uso do medicamento em um procedimento realizado na clínica de Lucas em que uma paciente morreu horas depois. De acordo com o delegado Rômulo Dias, o propofol foi encontrado na autópsia feita no corpo da mulher.

"A polícia trabalha com a hipótese de que ela teve uma parada cardiorrespiratória [durante o procedimento]. Nos autos, o profissional descreveu essa desfalecência [mal súbito] que ela teve como uma apneia do sono", disse Dias.

"Ela estava em uma clínica dentária e foi liberada para ir para casa. Em seguida, teve uma segunda desfalecência e foi conduzida ao hospital. A Polícia Civil trabalha com a hipótese de uma segunda parada cardiorrespiratória", afirmou o delegado.

A paciente deu entrada no hospital ainda com vida, mas morreu logo depois.

Procurada, a defesa de Fernando Lucas não retornou às tentativas de contato. Em nota encaminhada à imprensa no mês passado, afirmou que ele "acumula quase 20 anos de experiência profissional", nos quais "realizou mais de 2.000 cirurgias".

Afirmou também que "em relação às eventuais alegações de cirurgias malsucedidas, é importante destacar que todo procedimento cirúrgico implica riscos inerentes, que são previamente comunicados aos pacientes, cuja ocorrência independe da conduta do profissional".

Como mostrou a Folha em julho, o dentista também é suspeito de causar lesões em pacientes em uma série de procedimentos realizados em sua clínica na capital mineira e que são proibidos pelo CFO (Conselho Federal de Odontologia).

Dentre eles, estão blefaroplastia (cirurgia nas pálpebras), a rinoplastia (plástica no nariz) e o face lifting (tipo de procedimento para reverter o envelhecimento facial), todos proibidos por uma resolução do conselho da categoria.

A Polícia investiga o dentista por lesões corporais em nove casos, além de exercício ilegal da profissão.

No caso do homicídio, os delegados ainda esperam o desenrolar das investigações para determinar no inquérito se houve dolo (intenção de matar) ou não.

Eles adiantaram, porém, que ao menos o dolo eventual (quando se assume o risco de matar) esteja caracterizado, pelo uso de substância médico-hospitalar em um ambiente de odontologia, sem a presença de um anestesista.

Os delegados da Polícia Civil afirmam que o Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais (CRO-MG) defendeu durante as investigações a atuação do profissional por ele ser especializado em cirurgia bucomaxilofacial.

O CFO, porém, veda os procedimentos a todos os cirurgiões dentistas, independentemente da especialidade.

Procurado, o CRO-MG disse que Fernando Lucas foi suspenso de suas atividades por decisão judicial e que reafirma seu compromisso com a ética e a transparência na profissão.

Na última quarta (21), o CFO decretou intervenção administrativa no CRO-MG, com o afastamento integral do plenário e a nomeação de diretoria provisória.

O CFO disse que a decisão foi tomada diante de diversas irregularidades do conselho regional. Entre elas, estão o descumprimento de resolução do conselho federal, atos de improbidade administrativa e denúncia de assédio moral e sexual sofridos por funcionários da entidade

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