Datafolha: Eleitor de Marçal é mais bolsonarista do que o de Nunes

Influenciador avança em corrente de apoiadores de Bolsonaro em SP, onde 63% rejeitam votar em nome indicado por ex-presidente

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São Paulo

O influenciador Pablo Marçal (PRTB) tem 62% de seus eleitores na disputa pela Prefeitura de São Paulo se declarando bolsonaristas. O atual titular do cargo, Ricardo Nunes (MDB), indicado oficial de Jair Bolsonaro (PL) para o pleito, registra 38% do eleitorado afinado com a corrente.

É o que mostra nova pesquisa do Datafolha sobre a corrida deste ano. Nela, Marçal subiu sete pontos em duas semanas, empatando com Nunes (19%) e Guilherme Boulos (PSOL), que lidera numericamente com 23%. A margem de erro é de três pontos para mais ou menos.

Pablo Marçal (PRTB) e Ricardo Nunes (MDB), no debate da Band - Renato Pizzutto e Bruno Santos/Band e Folhapress

Isso ocorre com Bolsonaro seguindo como o mais rejeitado dos padrinhos políticos na cidade, o que sugere peso restrito do ex-presidente na disputa municipal.

Em relação à rodada anterior, no início do mês, oscilou de 65% para 63% o número daqueles que dizem não votar de jeito nenhum em um indicado pelo ex-presidente. Já quem diz seguir sua indicação passou de 16% para 19%, e quem afirmou talvez fazê-lo, de 18% para 16%.

O Datafolha questionou o grau de petismo e de bolsonarismo do paulistano. No geral, se dizem petistas 42% dos eleitores, 28% de forma convicta. Já bolsonaristas são 28%, 20% deles do grupo raiz. E os centristas somam 23%.

Entre os eleitores de Marçal, além dos 62% bolsonaristas, há 24% que dizem ser de centro. Entre os de Nunes, há 33% de petistas. Já os eleitores de Boulos, candidato apoiado pelo presidente Lula (PT), são mais convictos: 81% se dizem petistas, ante 14% centristas.

A questão do apadrinhamento político virou um tema central nesta etapa da campanha. Após titubear por temer contaminação pela rejeição a Bolsonaro na capital, o prefeito aproximou-se do grupo do ex-presidente.

Na foto à esquerda, Jair Bolsonaro, homem branco de camisa azul e casaco escuro, abraça sorridente o prefeito Ricardo Nunes, homem branco de barba escura que veste paletó escuro e camisa clara que também sorri. Nunes segura uma medalha com a imagem de Bolsonaro. Na foto à direita, Lula, homem calvo de barba branca, fala ao microfone ao lado de Guilherme Boulos, homem branco de barba escura, com camisa clara. Ambos sorriem.
Na montagem, Ricardo Nunes e Guilherme Boulos com seus padrinhos, Bolsonaro e Lula

Entre idas e vindas, e com a influência do padrinho secundário Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador aliado de Bolsonaro que lhe indicou um coronel da Rota como seu vice, Nunes acabou abraçando de forma mais empolgada o bolsonarismo.

A questão parecia resolvida até a emergência do fenômeno Marçal. O influenciador representa uma nova geração de bolsonarista, que nasceu nas redes sociais e com retórica altamente agressiva. O candidato buscou de cara associar-se à figura do ex-presidente.

Deu certo até aqui, do ponto de vista eleitoral. Entre os eleitores de Bolsonaro no segundo turno de 2022, 44% dizem votar em Marçal. Falam o mesmo de Nunes apenas 30%, invertendo a liderança no quesito.

Esse movimento ocorreu mesmo com Bolsonaro reafirmando o apoio ao prefeito, um arranjo eleitoral que leva em conta a posição do PL e do MDB em outras capitais, e com seu entorno abrindo fogo contra Marçal.

Os filhos de Bolsonaro estão em guerra aberta contra o autodenominado ex-coach, e a curva descendente de Nunes na última rodada do Datafolha faz antever uma elevação do tom, com a consequente queda do nível, da campanha.

Apesar disso e da subida de Marçal, Nunes segue sendo visto como o candidato de Bolsonaro: 35% disseram isso, mesmo nível do levantamento passado (32%). Já veem o dito ex-coach como o nome do ex-presidente 19%, seis pontos a mais do que há duas semanas.

Ainda nas franjas bolsonaristas, acham que o candidato de Tarcísio é Nunes 39%, ante 9% que creem ser Marçal. Ele não é um padrinho muito querido: 51% dos paulistanos dizem que não votariam num nome por ele apoiado, ante 17% que o fariam e 28%, que talvez.

A posição de Boulos é diversa. Ele é o primeiro candidato apoiado pelo PT de outro partido na história dos pleitos paulistanos, e Lula apostou todas suas fichas nele como preposto na disputa polarizada que sustenta com Bolsonaro.

Logo, não há dúvidas acerca de quem é o padrinho do deputado: 58% dos paulistanos dizem isso (eram 53% há duas semanas). Ainda assim, não é majoritário o apoio de eleitores do presidente no psolista: 44% deles dizem fazer isso. Ampliar esse universo e fugir da rejeição ao petista é o desafio colocado para Boulos.

Lula viu sua rejeição como padrinho oscilar para cima em duas semanas, passando de 44% para 48%. Dizem que votariam com certeza no seu candidato 23% (eram 20%), enquanto caiu de 32% para 25% a taxa dos que talvez o fizessem.

A deputada Tabata Amaral, a terceira candidata entre as principais com um padrinho claro, o vice-presidente Geraldo Alckmin, não vê a associação. Acham que o ex-governador paulista a apoia apenas 10%, ante 26% que dizem Boulos ser o seu nome e 11%, Nunes.

Ela oscilou positivamente, de 7% para 8%, na rodada atual do Datafolha, e ainda mantém baixo conhecimento (61%) entre o eleitorado, o que aliado à baixa rejeição (16%) permite sonhar com algum avanço.

Mas isso diz pouco sobre padrinhos: Alckmin não é, até aqui, figura central de sua campanha. Talvez seja até bom para ela: o governador sempre foi bom de voto no conjunto do estado, mas quando disputou a prefeitura da capital em 2008 não chegou nem ao segundo turno. E dizem não votar num nome de Alckmin 51%, antes 13% que sim e 32%, que talvez.

O Datafolha ouviu 1.204 eleitores nos dias 20 e 21 de agosto na capital paulista. O levantamento, contratado pela Folha e pela TV Globo, tem registro na Justiça Eleitoral sob o número SP-08344/2024.

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