Descrição de chapéu câncer

Terapia para neoplasias hematológicas e pesquisa sobre câncer do colo do útero vencem 15ª edição do Prêmio Octavio Frias de Oliveira

Gilberto Schwartsmann é escolhido como Personalidade de Destaque

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Uma terapia para tratar neoplasias hematológicas —doenças provocadas pela multiplicação descontrolada de células do sangue— e um estudo que identificou biomarcadores que podem tornar mais eficiente o tratamento de câncer de colo do útero foram os vencedores na 15ª edição do Prêmio Octavio Frias de Oliveira, nesta quinta-feira (8).

Promovida pelo Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira) em parceria com o Grupo Folha, a láurea foi criada em 2010 para estimular estudos sobre prevenção e tratamento do câncer e homenageia Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha de 1962 até sua morte, em 2007.

Na categoria Pesquisa em Oncologia, foram premiadas as pesquisadoras Patrícia Martins, 42, e Katia Morais, 44, do Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein. Já na categoria Inovação Tecnológica em Oncologia, venceram Renata Nacasaki Silvestre, 34, e Virgínia Picanço e Castro, 48, do Hemocentro de Ribeirão Preto da USP (Universidade de São Paulo).

Gilberto Schwartsmann foi agraciado na categoria Personalidade de Destaque.

Os premiados da 15ª edição do Prêmio Octavio Frias de Oliveira (da esq. para a dir.) Katia Morais, Virgínia Picanço e Castro e Gilberto Schwartsmann - Zanone Fraissat/Folhapress

Patrícia Martins e Katia Morais foram premiadas por um trabalho que avaliou a resposta imune de pacientes diagnosticados com câncer de colo do útero, analisando a diferença entre pacientes que responderam ao tratamento e as que não responderam, a partir da identificação de componentes do sistema imunológico.

O grupo de pesquisadores detectou que as pacientes que não respondem ao tratamento têm o mecanismo de regulação comprometido. A partir da identificação desses componentes, eles conseguiram definir marcadores que podem, posteriormente, ser aplicados em clínica e medidos até mesmo em exames de sangue de rotina.

"O estudo em si traz algumas novidades para o entendimento do desenvolvimento da doença, mas a identificação de biomarcadores é algo muito importante, que traz uma relevância clínica, com impacto para o paciente", diz Katia Morais.

O objetivo é que os biomarcadores sejam incorporados como método diagnóstico e ajudem a identificar o melhor tratamento para cada paciente. "Dessa forma, evitamos custos e ganhamos tempo para oferecer o tratamento em que essa paciente responde melhor", diz Patrícia Martins.

As pesquisadoras receberam o prêmio de Vinicius Mota, secretário de Redação da Folha. No evento, o jornalista saudou os finalistas e mencionou a parceria do jornal com o Icesp como motivo de orgulho.

"É muito duro chegar no nível de excelência que vocês atingiram. É um trabalho muito penoso e muito solitário. Parabéns", disse.

O trabalho vencedor da categoria Inovação Tecnológica em Oncologia foi entregue pelo professor Roger Chammas, professor titular de oncologia na FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

No evento, o docente afirmou que a premiação é um dos pontos altos do ano para o Icesp e uma celebração da oncologia no país.

"Nesses 15 anos de parceria com a Folha, a gente tem conseguido testemunhar o vigor da ciência brasileira. Nós todos temos o mesmo propósito de mitigar o sofrimento de pacientes do câncer com ciência."

Na pesquisa premiada, Renata Nacasaki Silvestre, Virgínia Picanço e Castro e outros pesquisadores trabalharam com células do sistema imune, chamadas de NK (natural killers). Essas células atacam as tumorais naturalmente, mas a ideia dos pesquisadores foi de potencializar o efeito por meio de uma modificação genética com um receptor artificial, construído no Hemocentro de Ribeirão Preto.

O grupo detectou nas células com modificação genética um efeito antitumoral superior ao verificado nas células sem modificação.

"O maior impacto é que temos uma terapia mais acessível, uma Car-NK pode atender vários pacientes, diferentemente da Car-T, que uma manufatura é apenas para um paciente. Então a gente estima que isso vai diminuir o custo da produção, com um produto mais barato e mais acessível", diz Virgínia Picanço e Castro, orientadora do trabalho.

Os tratamentos mais usuais contra o câncer são a radioterapia e a quimioterapia, mas ambos têm grandes efeitos colaterais para o paciente, uma vez que atacam qualquer célula. A vantagem de uma terapia-alvo como essa é, inclusive, dar mais conforto ao paciente, além dos custos inferiores ao da terapia Car-T, que utiliza células do sistema imune (conhecidas como linfócitos T) extraídas do paciente e geneticamente modificadas para reconhecer e atacar as células tumorais.

A pesquisa é quase como a realização de um sonho para Renata, que pensava, desde adolescente em se tornar uma pesquisadora e, mais do que isso, achar a cura do câncer. Aos 34 anos, o "sonho ficou mais pé no chão", e ela agora se dedica a encontrar terapias mais eficazes para a doença.

Personalidade de Destaque

O prêmio Personalidade de Destaque foi concedido ao oncologista Gilberto Schwartsmann.

Schwartsmann é orientador e professor titular de Oncologia na Faculdade de Medicina da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Também é escritor e membro da Academia Nacional de Medicina.

Dentre suas contribuições, formou um grande número de oncologistas, com cerca de cem orientações em mestrado e doutorado específicas na área na universidade.

Recebeu diversas honrarias, mas, para ele, o momento mais marcante da sua trajetória médica foi quando seu nome foi escolhido pelos estudantes para nomear um prêmio concedido anualmente ao aluno que tenha feito a melhor publicação no exterior.

"Temos que humanizar o atendimento médico e tentar levar aos nossos alunos a ideia de que o fundamental, além do conhecimento técnico, é termos uma medicina humanizada, sermos empáticos e termos a capacidade de nos colocar no lugar do paciente", diz.

Ele também é professor pesquisador do Hospital das Clínicas de Porto Alegre (HCPA), onde trabalha para o desenvolvimento de drogas anticâncer, e foi membro do Comitê Internacional da American Society of Clinical Oncology.

Fora do campus, participou de programas dirigidos à saúde pública e é cidadão honorário de Porto Alegre, Canoas e Barra do Ribeiro, todas no Rio Grande do Sul, onde atua.

Nascido em Passo Fundo (RS), tem especialização em Oncologia pela Universidade de Londres, phD pela Universidade Livre de Amsterdã e pós-doutorado pela Organização Europeia para Pesquisa e Desenvolvimento de Drogas Anticâncer e pelo Instituto Nacional do Câncer, nos Estados Unidos.

Além disso, foi o primeiro latino-americano a ser diretor do Central de Desenvolvimento de Novas Drogas AntiCâncer da Organização Europeia para Pesquisa e Tratamento do Câncer (EORTC).

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.