Em quase um ano na seleção argentina, Jorge Sampaoli já disse que o time não é dele, é de Lionel Messi. Afirmou que seu camisa 10 é o mais importante, o melhor de todos os tempos. É dele a frase de que o futebol deve um título de Copa do Mundo para o seu capitão.
A admiração é verdadeira, mas é exaltada também porque ele sabe que teve um fiador para ser o técnico da Argentina na Copa do Mundo de 2018: Lionel Messi. A aliança será posta a prova neste sábado (16), quando a equipe estreia no torneio, às 10h (de Brasília), contra a Islândia, em Moscou.
Quando havia decidido se livrar do técnico Edgardo Bauza, em abril de 2017, o presidente da AFA (Associação de Futebol Argentino), Claudio Tapia, foi a Barcelona falar com Messi. Queria sondá-lo sobre quem deveria ser o substituto.
O nome preferido pelos dirigentes da entidade, Diego Simeone, técnico do Atlético de Madri (ESP), havia avisado que não estava disposto a assumir a vaga.
Messi recomendou Sampaoli. Menos de dois meses depois, ele era apresentado para tirar a Argentina de situação difícil nas eliminatórias. Perigo que só acabou na última rodada, porque o atacante fez três gols em Quito.
"Conheço menos Leo [Messi] do que outros jogadores, mas ele consegue unir todo o grupo. Vejo que ele está muito concentrado", disse o goleiro Willy Caballero.
Caballero usa o mesmo termo em espanhol para dizer que Messi está muito ligado na Copa: "enchufado". Porque o treinador não apenas diz que o time é de seu camisa 10. Ele pratica isso.
Quando a situação era difícil no amistoso contra a Espanha, em Madri, em março deste ano, Messi (que não jogava) foi ao vestiário e o técnico permitiu que ele cobrasse os companheiros. Algo que jamais permitiria quando comandava o Chile.
Na concentração em Barcelona antes da viagem a Rússia, o Sampaoli que há quatro anos trancou o elenco chileno por quase dois meses antes do Mundial permitiu que os jogadores saíssem do hotel e passassem as noites em casa, se tivessem residência na cidade. Quem mora em Barcelona? Lionel Messi.
Desde a chegada à Rússia, o treinador e seu maior astro e fiador não falaram com a imprensa. O único contato que o atacante teve com pessoas não ligadas à AFA ou demais jogadores foi na terça-feira (12), quando houve o treino aberto para moradores da região. Distribuiu dezenas de autógrafos, com seu estilo calado, de poucos sorrisos. Parecido com Sampaoli.
Nas adaptações do centro de treinamento em Bronnitsi foi colocado um mural com desenhos de jogadores na entrada principal do complexo. Nem todos estão contemplados na imagem, e o rosto de Messi com a camisa azul e branca da Argentina ocupa a parte central e maior que os demais.
"A diferença de Leo para as outras estrelas da história do futebol é o amor que tem pela bola e a prioridade que o futebol tem para ele sobre todas as coisas", afirmou o comandante em 2017.
Sampaoli disse ter ficado surpreso com as opiniões do atleta sobre tática. Um elogio que outro treinador não havia feito ao atacante conhecido por passar muito tempo por dia assistindo a jogos na televisão.
Foi Maradona, o maior detrator de Sampaoli, quem percebeu que Messi pode salvar a imagem que o técnico tem com o público argentino.
"Sampaoli tem sorte, se o nenê está iluminado, vai tapar todos os erros. Se está com as luzes acesas, teremos uns 60% de chances de ser campeão. Por quê? Porque todos os demais podem fazer coro, mas não podem substituí-lo cantando. É o único cantor, o resto não. Depois de Messi, o quê? Depois de Messi não há nada...", afirmou o campeão mundial de 1986.
Enquanto foi possível, Sampaoli fez tudo o que estava ao seu alcance para agradar àquele que considera o maior de todos. Pode não ter sido apenas por isso, mas o fez com a esperança de ser recompensado a partir deste sábado.
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