Na Copa do Mundo mais tecnológica da história, a novidade implementada pela Fifa na Rússia que permite comunicação entre o treinador no banco de reservas e seus assistentes nas tribunas causará uma situação que pode dar margem a polêmica.
Na última rodada –que tem início nesta segunda-feira (25) e na qual os jogos da chave acontecem em horários simultâneos–, quem estiver no banco saberá em tempo real o resultado que pode interferir na ida ou não para o mata-mata e na posição final para o cruzamento.
Assim, aumenta o risco de as seleções acertarem o que no futebol se batizou de "jogo de compadres". A definição é usada quando um resultado classifica as duas equipes rivais e, por isso, elas deixam de tentar alterar o placar.
Com as informações do outro jogo da rodada, técnicos podem, em alguns casos, saber qual o cruzamento está sendo definido com o resultado da sua partida e da outra do grupo disputado no mesmo horário. A realização de partidas simultâneas na rodada final da fase de grupos é intencional para que essa situação possa ser evitada ao máximo.
Na Copa do Mundo de 1978 houve um caso polêmico em que o Brasil esteve envolvido. Na segunda fase, que ainda era disputada em formato de grupos, a seleção fez 3 a 1 sobre a Polônia na última rodada e ficou perto da vaga na final.
Mas a Argentina entrou em campo uma hora depois para enfrentar o Peru sabendo exatamente o que precisava fazer: vencer por 6 a 0.
Conseguiu o placar, se classificou para a final e foi campeã.
"No mundo do tempo real, a gente sabe das coisas no vestiário. Mas será interessante ver como será o impacto com o jogo em andamento", disse o técnico de Senegal, Aliou Cissé.
A equipe africana precisa apenas de um empate contra a Colômbia na próxima quinta (28) para avançar às oitavas. Mas até uma derrota lhe servirá dependendo de como for o jogo entre Polônia e Japão.
O mesmo acontecerá em outros grupos do Mundial.
O Brasil enfrentará a Sérvia na quarta-feira (27) já sabendo se a Alemanha estará classificada em primeiro, segundo ou eliminada. Um empate contra os sérvios e uma vitória da Suíça sobre a eliminada Costa Rica deixará o time nacional em segundo da chave. Se vencer, poderá ser primeiro dependendo dos resultados dos suíços.
Com o monitoramento em tempo real, é mais fácil tentar controlar o próprio destino e saber o que é preciso para pegar um caminho supostamente mais fácil.
O sistema idealizado pela Fifa e aprovado em março pela International Football Board (Ifab), órgão responsável pelas regras do futebol, permite a utilização de pontos eletrônicos e um tablet com informação do desempenho dos atletas e dados estatísticos em tempo real.
Antes, qualquer comunicação, se fosse detectada, era passível de punição. A federação ainda proíbe que técnico, jogadores e integrantes da comissão técnica no banco de reservas usem telefones celulares durante os jogos.
A Folha enviou três perguntas à Fifa sobre a situação, mas não obteve resposta até o fechamento da edição. Os questionamentos foram se o uso da tecnologia não pode facilitar uma manipulação de resultados, se é possível fazer algo para evitar a transmissão dos resultados em tempo real e se quando a Fifa idealizou o uso da tecnologia levou essa possibilidade em conta.
Colaborou Igor Gielow, de Iekaterinburgo
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