Descrição de chapéu Copa do Mundo

Escolas de SP usam Copa para levar de economia à cultura russa aos alunos

Atividades pedagógicas envolvem de alguma forma a competição nas salas

Alunos do colégio Anália Franco, na zona leste de São Paulo, durante aula de introdução à língua e à cultura russa
Alunos do colégio Anália Franco, na zona leste de São Paulo, durante aula de introdução à língua e à cultura russa - Zanone Fraissat/Folhapress
 
São Paulo

Em muitas escolas de São Paulo, a Copa do Mundo da Rússia já começou.

Educadores têm aproveitado um dos maiores eventos esportivos do mundo para levar para as aulas não apenas a expectativa com os jogos das seleções, mas também temas relacionados ao Mundial, como economia e literatura.

“Aproveitamos o tema da Copa e o próprio futebol para trazer coisas que já existem no currículo, mas que aparecem agora com um foco diferente”, afirma a diretora do colégio Anália Franco, Nevinka Tomasich.

Na escola da zona leste, as atividades não vão parar nem nos dias de jogo do Brasil. Os alunos vão acompanhar juntos as partidas da equipe, com direito a pipoca.

As atividades pedagógicas envolvendo de alguma forma a competição entraram na grade escolar no planejamento do início do ano.

Aspectos culturais e geográficos da Rússia tiveram destaque, como temas presentes em aulas de várias disciplinas. Conteúdos a exemplo da Guerra Fria ganharam um gancho mais atraente para os alunos. Além disso, até uma minicopa com os estudantes menores (em times mistos de meninos e meninas) também está em curso no colégio.

Na semana passada, a professora de português Raquel Toledo, 30, reuniu três salas, do 6º, 7º e 8º anos, para um passeio histórico e cultural pelo país-sede da Copa.

Mestre em literatura russa, Raquel apresentou o alfabeto cirílico russo, os principais escritores daquele país (“muito melhores que os jogadores”, brincou) e respondeu a perguntas que passaram por estrogonofe, diferenças entre a palavra vodka em português e em russo e a longevidade do presidente Vladimir Putin no comando.

“É impressionante como apenas falar o nome dos alunos em russo já chama muito a atenção deles”, diz Raquel.

O aluno Cesar Sales, 16, do 9º ano, diz gostar mais da festa em torno da Copa do que dos jogos em si. Nas aulas, diz ter descoberto um mundo novo. “Não sabia nada da Rússia. Tenho até vontade, de verdade, de conhecer o país.”

Para João Vitor Rodrigues da Silva, 14, do mesmo ano, a Copa é uma inspiração.

Ele quer ser jogador de futebol, de preferência na posição de volante. Mas, na escola, descobriu muito mais do que as cidades onde vão ocorrer os jogos. “O mais novo pra mim foi conhecer que lá havia tantos grandes escritores, não sabia deles”, diz.

Painéis feitos com a bandeira russa e com o lobo Zabivaka, mascote da Copa, já adornam as paredes do pátio. A festa junina terá o mesmo tema, com bandeiras confeccionadas nas aulas de artes.

O jogo de abertura do Mundial será na quinta-feira (14), às 12h. O Brasil estreia no torneio contra a Suíça, no domingo (17), mas as duas partidas seguintes da seleção serão em dias de semana. Na sexta (22), às 9h, contra a Costa Rica, e na quarta-feira seguinte (27), às 15h, diante da Sérvia.

FEBRE DAS FIGURINHAS

Nas redes estadual de São Paulo e municipal da capital paulista ainda não há uma definição sobre o funcionamento das escolas nos horários dos jogos. As aulas deste primeiro semestre vão até o dia 27 de junho no estado e 9 de julho no município.

Mas o clima da competição também invadiu as aulas nessas redes. A febre com o álbum de figurinhas foi a oportunidade para a professora de inglês Natália Reis, 30, envolver os alunos em atividades na escola municipal General Júlio Marcondes Salgado, zona norte da cidade.

Como várias informações do álbum são em inglês, os alunos fizeram uma ampla pesquisa sobre as características de cada país para montar uma exposição no idioma.

“Foi também uma oportunidade de discutir por que há tantos países e tantas línguas, mas o inglês se tornou uma língua internacional”, explica.

Na escola estadual Valmar Lourenço Santiago, na periferia de São José dos Campos (89 km da capital), os países classificados para a disputa foram destrinchados nas aulas de história e geografia.

Em educação física, o professor Paulo Rogério Caminhas, 50, também partiu do álbum para comparar os índices de massa corporal dos jogadores. A iniciativa também envolveu o entendimento da morfologia de atletas de outros esportes e a própria avaliação física dos alunos.

A partir disso, foram traçados planos de reeducação alimentar e a prática de esportes, explica o professor. “O bom é que a Copa é uma oportunidade de incluir as meninas na discussão do futebol.”

Com idades de 6 a 10 anos, os alunos da aula de projetos do colégio Mary Ward, da zona leste de São Paulo, não vão à Rússia ver os jogos. Mas, com a proposta de entender de economia criativa na sala de aula, os alunos traçaram planos para ir à Copa de forma colaborativa. E sem gastar muito.

A professora Alexandra Grassini, 48, apresentou plataformas online de compartilhamento de hospedagem e instigou os alunos a pensarem em dicas para acompanhar o evento da Rússia.

Ideias como trabalho voluntário em troca de ingressos e até cortar a grama do campo surgiram entre as propostas. Tudo foi parar em cartazes que vão enfeitar a escola.

“O objetivo de trabalhar com economia criativa é contribuir para a construção de uma mentalidade colaborativa. E o próprio jogo tem o conceito de trabalho em equipe”, afirma a professora. “E não estamos falando só de futebol, mas do sonho de ir à Copa.”

Com relação ao desempenho da seleção brasileira em campo, Isack Latufe, 10, diz estar confiante, mas com reservas. “Não é a melhor que a gente já teve, mas está bom.”

Para Miguel Sanches, 7, a Copa é uma chance de valorizar o país. “A gente tem que lembrar que todos os craques como o rei Pelé, Garrincha, Taffarel, eles são brasileiros. Tem que ter muito orgulho.”

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