Descrição de chapéu Copa do Mundo Falando Russo

Falando russo: anfitriã da Copa tem longo histórico de rebeliões

Cidade da estreia do Brasil no Mundial já teve levante com desfecho infeliz

Lucas Simone

A julgar pelos livros didáticos escritos em nosso país, a participação da Rússia nos grandes acontecimentos mundiais foi escassa ou nenhuma. Pelo menos até o século 19, quando a invasão napoleônica traz ao estudante brasileiro esse novo e curioso personagem: um país inóspito e congelado.

Esse aluno decerto terá dificuldade para entender por que o gênio militar corso arrastou seu Grande Exército para tão inglória empreitada.

Seja como for, a Rússia ressurge em cena somente em 1917, dessa vez como protagonista: no auge da Primeira Guerra, os bolcheviques tomam o poder em Petrogrado (atual São Petersburgo). A revolução foi um acontecimento histórico fundamental para compreendermos o século 20, mas que pode parecer um caso isolado àqueles que possuem pouca familiaridade com o passado da Rússia, tão monolítica e tão fechada.

Porém, o país tem uma longa relação de levantes e rebeliões, de nobres e militares, de camponeses e cossacos. Em 1825, por exemplo, morre o czar Alexandre 1º. Com a subsequente crise sucessória, um grupo heterogêneo de oficiais de baixa patente protesta contra a autocracia, pedindo reformas e uma Constituição para o país. Os "dezembristas" foram duramente reprimidos pelo novo czar, Nicolau 1º, e a Rússia levaria décadas para conhecer qualquer tipo de abertura.

No século anterior, uma imensa rebelião de cossacos e camponeses, liderada por Emelian Pugatchov, sacudiu a porção oriental da Rússia europeia. Após ferrenha resistência, o levante foi desbaratado por Catarina, a Grande, mas o grande poeta Aleksandr Púchkin imortalizou Pugatchov em seu clássico romance "A Filha do Capitão".

A estreia do Brasil no Mundial ocorreu na cidade de Rostov, na região do rio Don. Ali, em 1671, houve outra rebelião —outro vosstánie—, liderada pelo cossaco Stenka Rázin, e que também teve um desfecho infeliz. No que se refere à seleção, o fã brasileiro torce para que o roteiro da Copa do Mundo seja diferente.

 
Lucas Simone

Doutorando em literatura e cultura russa na USP e tradutor

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