Ascensão do CSA e queda do Joinville passam por participação de mecenas

Time catarinense entrou em ruína após seguidas quedas, caminho oposto dos alagoanos

Juan comemora gol marcado na vitória do CSA sobre o Londrina na última terça-feira, pela Série B do Brasileiro - Alisson Frazão/Brazil Photo Press/Folhapress
Alex Sabino Luiz Cosenzo
São Paulo

O Joinville, de Santa Catarina, era o time da moda em 2015. Após obter três acessos em quatro anos, chegou à Série A do Campeonato Brasileiro. O crescimento parecia tão consistente que o clube recebeu o Prêmio Pluri de eficiência na gestão de futebol. A evolução acontecia na mesma medida em que o CSA, de Alagoas, afundava.

Eliminado nas quartas de final do Alagoano, a equipe não tinha conta bancária há 20 anos por causa de dívidas e não disputaria sequer a Série D naquela temporada. 

Três anos depois, tudo mudou. Após sucessivas campanhas pífias, o time catarinense foi rebaixado neste ano para a Série D do Brasileiro e viu suas dívidas subirem de R$ 1 milhão para R$ 42 milhões. 

Já o clube alagoano, vice-líder da Série B, conquistou o estadual após uma década de jejum e é candidato a estar na divisão de elite nacional.

As quedas consecutivas foram a ruína do Joinville. Funcionários que haviam recebido aumento no acesso à Série A começaram a pesar no orçamento do clube na B. Outros foram demitidos e buscaram seus direitos na Justiça.

"Quando o time cai, precisa fazer ajustes. Não fizemos. Quando estávamos na Série A, tínhamos 3 ações trabalhistas. Hoje temos 66", afirma o presidente do Joinville, Vilfred Schapitz, que chegou ao poder neste ano.

A principal fonte de renda do clube são as mensalidades pagas pelos 2.800 sócios. Na campanha de 2015 na primeira divisão eram cerca de 12 mil. 

"A verdade é que desde 2013 o clube vinha se endividando, mas os resultados mascaravam", afirma o jornalista e escritor Gabriel Fronzi, autor de "O Céu É o Limite", sobre o título da Série B de 2014.

Mesmo na época de vacas gordas o Joinville dependia dos recursos do empresário Nereu Martinelli, que assumiu a presidência em 2008. O mecenas se afastou da gestão para se dedicar a seus negócios em 2016 --hoje é conselheiro. 

As contas bancárias do clube estão bloqueadas e o faturamento é de R$ 167 mil por mês, enquanto as despesas somam cerca de R$ 1 milhão.

No CSA, o discurso é de que o clube está preparado para se manter com suas próprias pernas, mas o crescimento também está atrelado à presença de um mecenas.

"Tive de colocar [dinheiro] porque era uma empresa falida e precisava de recursos. Estou quitando o passivo e investindo no patrimônio. O CSA hoje é 100% viável. Desde 31 de dezembro do ano passado não ponho mais um centavo", afirma o presidente licenciado Rafael Tenório, que não diz quanto injetou no clube. 

Dono do Grupo RT, que atua na área de logística, ele é o primeiro suplente na candidatura de Renan Calheiros (MDB-AL) ao senado. Entre todos os candidatos do estado, ele é o que declarou mais bens ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), com patrimônio de R$ 71 milhões.

Tenório assumiu o clube em 2015 e foi reeleito no fim do ano passado para mais quatro anos de mandato.
O CSA teve dois acessos a partir de 2016. Alcançou o que no início do ano era o seu maior objetivo: voltar a ser campeão estadual e quebrar e hegemonia do arquirrival CRB. Subir para a Série A do Brasileiro será a cereja do bolo.

Enquanto a equipe alagoana sonha com a elite, o Joinville pensa na Copa Santa Catarina, torneio que dá ao campeão vaga na Copa do Brasil.

Precisa montar o elenco de acordo com seu faturamento mensal, deixando no passado a época em que recebia R$ 20 milhões pelos direitos de TV da Série A do Brasileiro. O dinheiro daquela época se esvaiu com a contração de 121 reforços entre 2015 e 2018.

"Na Série C, tivemos prejuízo de R$ 14 milhões. Na Série B faturamos R$ 28 milhões, mas se tirarmos as rescisões contratuais, o prejuízo foi de R$ 6 milhões", afirma Schapitz. 

Isso sem contar os casos que ainda estão na Justiça. O técnico Adilson Batista, demitido durante o Brasileiro de 2015 após dez jogos, por exemplo, cobra R$ 1 milhão do clube.

O presidente do CSA também não vê a estabilidade da comissão técnica e do elenco como uma condição determinante para bons resultados. 

A administração do clube, porém, tem suas particularidades. As decisões são colegiadas. Há uma discussão antes dos jogos para definir o time.

Tenório afirma que a palavra final é do treinador, mas este precisa explicar para a diretoria, departamento de futebol e médico porque fez determinadas escolhas. 

O presidente faz questão de, antes das partidas, ir ao vestiário oferecer "palavras de motivação", como ele próprio descreve. Algo que não seria visto como muito profissional em grandes clubes do país. 

"O CSA deu certo porque aplicamos uma gestão empresarial. Havia 11 vices. Hoje temos o presidente do executivo, um vice, superintendente de futebol e um administrativo. E só", afirma Tenório.

As remunerações dependem do desempenho dentro de campo. Contratos de produtividade não são novidade no futebol brasileiro, mas o CSA criou uma matemática complicada para definir o salário do elenco. Os jogadores recebem bonificações de acordo com número de partidas, pontos conquistados na tabela e classificação ao longo de dez rodadas.

"Você conhece a boa dona de casa quando tem dois filhos, o marido recebe um salário mínimo e ela consegue alimentar todo mundo. O CSA trabalha com planejamento desse tipo. Se temos X reais de orçamento, é aquilo que vamos gastar. Nada mais que isso", ensina Tenório.

É uma lição que o Joinville terá de reaprender.

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