Além de montar o esquema tático, treinar o time e escalá-lo, Antonio Carlos Zago tem mais uma função no Red Bull Brasil. Fazer o papel de torcedor.
“A gente não conta com apoio de torcida, não”, afirma o treinador, antes da partida de volta das quartas de final do Campeonato Paulista, nesta terça (26), contra o Santos, em Campinas.
É uma afirmação que poderia irritar os fãs da equipe, mas contra números não há argumentos. Nos seis jogos como mandante no torneio, a média de público do Red Bull foi de 2.095 pagantes. Os dados estão inflados pela estreia contra o Palmeiras (10.389 pessoas). Nas outras cinco partidas, a média cai para 376.
Nos treinamentos e nos jogos, Zago confessa ter de pressionar os jogadores como se fosse o torcedor e evitar que eles não se acomodem em campo.
“É preciso ter um trabalho para isso. Tem de existir um trabalho maior para que eles se movimentem mais nos treinos. A pressão tem de vir do treinador e da diretoria”, completa, assegurando que a estratégia tem funcionado.
Na fase de grupos, a equipe teve a melhor campanha do Campeonato Paulista. Chegou às quartas de final, contra o Santos, com a chance de decidir em casa. O que seria realmente uma vantagem, em parte, por causa da pressão da torcida.
Depois de perder por 2 a 0 no último sábado, no Pacaembu, o Red Bull precisa vencer por três gols de diferença para ir à semifinal. Se obtiver a vantagem de dois gols, leva a decisão para os pênaltis.
Os resultados do time foram uma aposta de Zago que deu certo. No ano passado, após a eliminação nas semifinais da Copa Paulista, torneio organizado pela Federação para manter os times menores em atividade, ele previu que era necessário apenas ter paciência. No Estadual, o Red Bull renderia muito mais.
“Nós temos muita estrutura. Sempre digo que o Red Bull é um clube grande que só não tem torcida”, opina.
Em apenas dois jogos do torneio até agora o time não teve mais posse de bola do que o adversário. No último sábado, controlou o jogo por mais de 60% do tempo.
Mas perdeu.
“Nós erramos muito contra o Santos. Eu vi os 90 minutos do jogo mais uma vez e pecamos muito na saída de bola.”
No Red Bull, ele afirma ter feito o que chama de “trabalho sujo” de reformular o elenco. Foi o mesmo papel que desempenhou no Internacional quando estava na Série B, em 2017. Saiu com 63% de aproveitamento de pontos, mas montou a base que subiria ao final daquele Brasileiro e brigaria pelo título na elite no ano seguinte.
Pelo tamanho e tradição, chegar ao Red Bull poderia ser visto como retroceder na carreira. Não para ele. O que Zago afirma ter buscado era a tranquilidade para fazer um trabalho a longo prazo. Sem arroubos de diretores que tomam decisões de cabeça quente. Sem pressão inerentes a grandes clubes. Neste sentido, não ter muita torcida é bom.
“Tudo você leva como aprendizado. Se você olhar minha carreira, eu fiquei quase dois anos no Juventude [2016 e 2017]. Fomos vice-campeões gaúchos, chegamos às quartas de final da Copa do Brasil e subimos para a Série B do Brasileiro [em 2016]. No Fortaleza, saímos da Série C para a B [em 2017]. Passei algum tempo na Europa trabalhando na Roma e no Shakhtar Donetsk. Tudo na minha carreira é planejado”, garante.
Para os próximos meses, ele vive a expectativa da confirmação da parceria que vai levar o Red Bull para Bragança Paulista. O time se juntaria ao Bragantino, passaria a se chamar Red Bull Bragança e disputaria a Série B do Campeonato Brasileiro.
Isso seria capaz de manter Zago no clube. Se o acordo não for fechado, no segundo semestre a equipe teria apenas a Copa Paulista, a mesma competição em andamento quando o técnico chegou, em agosto do ano passado.
“É... [Disputar a] Copa Paulista não estou muito a fim, não”, confessa.
Com contrato até o final do Estadual, ele espera alongar a participação além desta terça-feira e derrotar o Santos de Jorge Sampaoli, de quem afirma ser admirador.
Mesmo que não exista pressão de torcida, o princípio do futebol continua o mesmo. O trabalho só continua com resultados.
“A gente espera que o projeto aqui seja de longo prazo. A história do Red Bull se encaixa no que eu quero. Atrapalha não ter torcida porque o jogador precisa sentir uma pressão por parte do torcedor, mas ao mesmo tempo a gente tem mais tranquilidade para trabalhar.”
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