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Velocidade

Série quer mostrar o que ninguém viu na F-1, mas sofre com veto da Ferrari

Sem Ferrari e Mercedes, documentário da Netflix quer atrair novos fãs para a categoria

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São Paulo

A série documental “F1: Dirigir para Viver”, produzida pela Netflix, promete aos fãs de F-1 dar um acesso sem precedentes aos bastidores da principal categoria do automobilismo mundial, mas enfrenta problemas para cumprir essa promessa.

Sem chegar a um acordo com Ferrari e Mercedes, os produtores James Gay Rees —dos premiados documentários “Senna” e “Amy”— e Paul Martin não puderam acompanhar de perto as duas principais equipes da categoria.

A (única) saída foi mostrar  nos dez capítulos de até 40 minutos de duração, organizados de maneira mais ou menos cronológica, as histórias de dificuldades e superação dos azarões que completaram o grid na última temporada.

 

Mesmo sabendo disso, causa estranheza ver a histórica conquista do quinto título mundial de Lewis Hamilton reduzida a uma nota de rodapé enquanto as lentes estão focadas na disputa pelo sétimo lugar de um GP.

Por outro lado, o resultado final não é ao todo uma decepção. Ao se distanciar de personagens que receberam grande atenção da mídia na última temporada, a série mantém a sensação de novidade, mesmo ao relatar fatos que aconteceram há quase um ano.

Entrevistas exclusivas, cenas surpreendentes dos bastidores e belas imagens das corridas certamente atrairão os aficionados pela F-1. No entanto, para a Liberty Media, dona da categoria, o objetivo principal é mais alcançar um novo público do que agradar os fãs de longa data.

Isso fica evidente pela forma didática como a categoria é apresentada. Em vários momentos, a narrativa é interrompida por jornalistas especializados, que explicam o contexto em que os acontecimentos se desenvolvem.

O uso do artifício é até compreensível, já que muitos fatos acabam sendo atropelados para priorizar uma narrativa mais dinâmica —corridas de quase duas horas de duração são condensadas em cerca de cinco minutos. Em alguns momentos, porém, o excesso de didatismo pode se tornar cansativo até para os moderadamente familiarizados com a categoria.

Outro ponto que pode irritar os fãs mais nostálgicos é o modo superficial como a história da categoria é tratada. É raro ver referências que vão além dos anos 1980. O foco é o momento atual da categoria. Com isso, equipes como McLaren e Williams recebem menos espaço na tela que a novata Haas, por exemplo.

O protagonismo da equipe americana —cuja nacionalidade é lembrada à exaustão— e o destaque dado ao GP dos Estados Unidos mostram que o país é o principal mercado que o seriado tenta atingir.

O chefe da equipe Haas, Guenther Steiner (centro), ao lado dos seus pilotos Romain Grosjean (esq.) e Kevin Magnussen
O chefe da equipe Haas, Guenther Steiner (centro), ao lado dos seus pilotos Romain Grosjean (esq.) e Kevin Magnussen - Peter Parks - 13.mar.19/AFP

No capítulo batizado de “Estrelas e Listras” —referência à bandeira dos Estados Unidos—, o americanismo ganha contornos quase cômicos (involuntariamente) quando o chefe da Haas, Gunther Steiner, em um inglês com carregado sotaque alemão, diz que a equipe quer incutir nos seus pilotos —Romain Grosjean (francês) e Kevin Magnussen (dinamarquês)— a “paixão americana” pelas corridas.

A luta da equipe para ficar na quarta posição do mundial de construtores é um dos três principais eixos narrativos desenvolvidos ao longo dessa primeira temporada —há uma segunda em produção.

Os outros são a rivalidade entre Daniel Ricciardo e Max Verstappen na Red Bull, culminando na saída do australiano para a Renault, e a venda da Force India (atualmente Racing Point) para o milionário Lawrence Stroll, pai do então piloto da Williams Lance Stroll, e a consequente disputa entre os pilotos Esteban Ocon e Sergio Perez por um assento na equipe em 2019.

Em ambas, o documentário deixa a imparcialidade de lado para criar vilões e mocinhos. É nessas horas, quando flerta com o drama, que o seriado comete seus maiores equívocos, moldando a realidade para melhor adaptá-la à história que se quer contar.

Para aqueles que acompanharam de perto a temporada, será possível perceber como algumas omissão e a edição forçam o telespectador a embarcar na narrativa que a série pretende, apelando para um sensacionalismo barato e muitas vezes desnecessário.

Para o neófito em F-1, porém, o recurso pode ser até atrativo, por criar uma história mais envolvente. Distraído pela produção de alto nível é fácil esquecer que a série se afasta da realidade.

Por tudo isso, o melhor é encarar “F1: Dirigir para Viver” mais como um reality show do que como um documentário.

F1: Dirigir para Viver

  • Quando 2019
  • Classificação 14 anos
  • Produção James Gay Rees e Paul Martin
  • Duração 10 episódios (1ª temporada)
  • Onde assistir Netflix
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