A prova em paralelepípedos que só a metade dos ciclistas terminam

Paris-Roubaix é famosa por quedas e machucados entre competidores

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Os ciclistas da equipe suíça de Lotto-Soudal fazem o reconhecimento para a Paris-Roubaix, que será realizada neste domingo

Os ciclistas da equipe suíça de Lotto-Soudal fazem o reconhecimento para a Paris-Roubaix, que será realizada neste domingo FRANCOIS LO PRESTI/AFP

São Paulo

Na Paris-Roubaix, os ciclistas percorrem 257 km em um único dia, mas a distância é o menor dos problemas. A prova, que será disputada domingo (14), na França, tem 52 km de estradas de paralelepípedos, estreitas e poeirentas, espalhadas em 29 trechos, que lhe renderam o apelido de "O Inferno do Norte". 

Uma das anedotas mais contadas sobre a ela, e que explica sua magia, é a entrevista do holandês Theo de Rooij, considerado um dos favoritos para o pódio em 1985, que viu o sonho se distanciar após uma queda. 

Coberto de lama, ele diz a um repórter da rede americana CBS: “Essa prova é uma porcaria, você trabalha feito um animal, você não tem tempo de urinar, faz nas calças. Você pedala na lama, escorrega, é uma merda”.

Em seguida é perguntado se correria outra vez. “Claro, é a prova mais bonita do mundo”.

No pelotão, como é chamado o grupo compacto de ciclistas que pedalam juntos durante a prova, uma queda sem importância pode gerar uma avalanche de bicicletas voando umas sobre as outras e os ferimentos deixam muitos pelo caminho. 

Nas últimas duas edições da Paris-Roubaix, cerca de 50% dos competidores não cruzaram a linha final.

Após muita poeira, ou lama, a prova termina com uma volta e meia no velódromo de Roubaix. 

A Paris-Roubaix é um dos termômetros para as três grandes voltas do ano –Tour de France, Vuelta a España e Giro d’Italia--, mas também preocupa as equipes, com medo de verem seus melhores ciclistas fora dos treinos, ou até da temporada.

Apesar do nome, desde 1967 a clássica –como são chamadas as provas de um dia só-- não sai de Paris e sim de Compiègne, a 60km da capital, percorrendo os campos de canola e pequenos vilarejos do norte da França até a fronteira com a Bélgica.

A última edição ficou marcada pela morte do belga Michael Goolaerts, que teve uma parada cardíaca durante a prova. Foi socorrido às pressas, mas não resistiu. 

Os exames toxicológicos testaram negativo e aventou-se a possibilidade de uma condição pré-existente não detectada por médicos da equipe.

Foi também em 2018 que o italiano Matteo Trentin abandonou a prova com uma costela quebrada. Geraint Thomas, nome forte da equipe inglesa Sky, desistiu de completá-la após machucar costas e braços. 

Melhor do que o suíço Stefan Küng, que foi hospitalizado com uma fratura na mandíbula e do que o português Nelson Oliveira, internado com a clavícula quebrada.

Em 2016, um ferimento na Paris-Roubaix gerou uma polêmica no mundo do ciclismo. Em uma das inúmeras quedas coletivas, o ciclista espanhol Francisco Ventoso atingiu um disco de freio de outra bicicleta com a perna. 

A imagem chocante do machucado, que chegou até o osso, e uma furiosa carta do próprio Veloso distribuída à imprensa, fez a UCI banir o equipamento das provas de estrada por dois anos.

No mesmo ano, o suíço Fabian Cancellara, tricampeão da prova, favorito, e considerado um especialista nos paralelepípedos, despediu-se da prova sem muito brilho. Caiu duas vezes, perdeu contato com o pelotão dos favoritos e ainda caiu mais uma vez no velódromo. 

"Não estou triste, estou feliz de não estar no hospital", disse, na linha de chegada. Com a temporada a salvo, encerrou a carreira com ouro no contrarrelógio na Rio-2016.

Com uma paixão difícil de ser explicada pela lógica –mas talvez pelos 30 mil euros (cerca de R$ 130 mil) de prêmio--, 173 ciclistas vão se alinhar em Compiègne neste domingo para enfrentar seis horas de cansaço, poeira e dor para colocar seu nome em um pedaço de pedra. Sim, o troféu da Paris-Roubaix  um paralelepípedo.

 

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