Nos EUA, a Adidas construiu boa parte de sua fama –e vendas– por conta da associação com superastros negros. Na década de 1980, o grupo de hip-hop Run DMC deu prestígio cultural às roupas e calçados da companhia, com a canção "My Adidas". Atletas e artistas negros muito populares, como James Harden, Candace Parker e Kanye West, promovem seus produtos.
Em abril, a Adidas anunciou nova parceria com Beyoncé Knowles. Ela postou uma foto no Instagram que a mostrava reclinada sobre uma pilha de tênis da marca, usando um "body" vermelho da Adidas. A imagem recebeu mais de 7 milhões de "likes".
Os empregados negros na sede americana da empresa, em Portland, Oregon, no entanto, descrevem uma cultura empresarial que contraria a imagem da marca.
Entrevistas com mais de 20 atuais e antigos empregados da Adidas mostram que a liderança predominantemente branca da companhia tem dificuldades para lidar com questões raciais. Na sede, conhecida como Adidas Village, dizem empregados, a cor da pele está em questão constantemente, e os poucos trabalhadores negros muitas vezes se sentem marginalizados, às vezes discriminados.
Dos quase 1.700 empregados na sede de Portland, menos de 4,5% se descrevem como negros, de acordo com dados internos da empresa sobre seu pessoal, coletados no passado e mostrados ao jornal The New York Times.
Karen Parkin, a vice-presidente mundial de recursos humanos da Adidas, declarou que a Adidas tinha "tolerância zero" a comportamento inapropriado. "Nem sempre estamos onde precisamos estar, em cada um de nossos escritórios em todo o mundo. Mas não temos medo de conversar a respeito, tampouco", disse Parkin.
Para a Adidas, os elos com astros negros compensam. As ações da companhia, negociadas na Alemanha, onde fica sua sede mundial, mostram alta de mais de 100% nos três últimos anos. Sua receita vem crescendo de modo robusto, e sua fatia no mercado de calçados esportivos da América do Norte saltou a 11%, ante 4%, de 2015 para cá, de acordo com o NPD Group, um serviço de pesquisa de mercado.
No caso de West, a Adidas posicionou a marca Yeezy, criada por ele, em uma categoria separada na companhia.
West recebe um royalty de 5% sobre a venda de seus itens, de acordo com uma pessoa da empresa informada sobre o relacionamento.
As vendas da Yeezy devem ultrapassar o US$ 1,3 bilhão (R$ 5 bilhões) neste ano. Os benefícios da colaboração vão além dos calçados de cano alto e preço de US$ 350 (R$ 1.339) e das roupas criadas por estilistas famosos. West ajudou a recriar uma imagem bacana para a Adidas praticamente do dia para a noite.
Uma porta-voz da Adidas, Stacey Marsh, não contestou os números (dos 1.700 funcionários, em Portland, 4,5% se descrevem como negros e 78% são brancos) obtidos pelo The New York Times, e se recusou a discutir a composição do pessoal na sede.
Ela disse que 55% da força de trabalho total da empresa nos Estados Unidos, o que inclui os vendedores de suas lojas, era formada por não brancos.
No ano passado, apenas 3 dos cerca de 340 vice-presidentes da empresa espalhados pelo mundo eram negros.
Os números dos demais gigantes de material esportivo são igualmente preocupantes.
A Nike informou que, no final de 2017, 23% de seus empregados na América do Norte, o que inclui o pessoal das lojas, eram negros. Dos 353 vice-presidentes da empresa, 19 eram negros (8%).
O site da Under Armour não fornece essas estatísticas.
"As empresas gastam bilhões de dólares em marketing e publicidade para atrair jovens negros aos seus produtos, mas não fazem grande coisa para apoiar os empregados negros que já estão lá", disse D'Wayne Edwards, que começou a projetar calçados em 1989, trabalhou na Nike, onde era um dos estilistas da linha Air Jordan, e agora comanda a Pensole Footwear Design Academy, em Portland.
Na Adidas, a falta de diversidade resultou em erros que, segundo os empregados negros, poderiam colocar toda a marca em risco. Neste ano, a Adidas lançou calçados inteiramente brancos, como parte de uma linha destinada a celebrar o Mês da História Negra. Os calçados foram removidos das lojas depois de protestos.
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