Descrição de chapéu Mundial de Clubes 2019

Por que rival do Flamengo no Mundial terá torcida mínima no Qatar

Embargo dificulta entrada de torcedores sauditas no país do Mundial

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Doha

O Al-Hilal, da Arábia Saudita, adversário do Flamengo na semifinal do Mundial de Clubes nesta quarta (17), às 14h30, terá um pequeno grupo de torcedores no Khalifa International Stadium, em Doha. Também não há jornalistas do país acompanhando o time no Qatar.

O motivo da torcida reduzida e da falta de cobertura é a tensão política entre os governos do país-sede e do representante asiático no torneio.

Desde 2017, Arábia Saudita e outras nações da região –Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Egito– impõem um bloqueio econômico e diplomático contra o Qatar. Acusam o país sede da próxima Copa do Mundo de apoiar grupos terroristas, o que o governo qatariano nega.

A restrição faz com que não haja voo direto entre os dois países. O acesso por terra pode ser feito apenas com autorização da Arábia Saudita. A distância entre Riad e Doha é de 578 km, 6h30 horas de carro e cerca de 1 hora e 30 minutos de avião.

Alguns dos poucos torcedores do Al-Hilal que foram ao jogo contra o Espérance Tunis
Alguns dos poucos torcedores do Al-Hilal que foram ao jogo contra o Espérance Tunis - Ibraheem Al Omari/Reuters

Jornalistas árabes no Mundial de Clubes acreditam que o embargo pode ser encerrado em alguns meses. Um sinal disso teria sido a autorização de um voo de Rihyad a Doha para que a seleção saudita jogasse uma partida pela Copa do Golfo.

A diminuição das tensões conta com o apoio da Fifa. A Folha apurou que a entidade se esforça para que isso aconteça por causa de 2022. Ela espera que os torcedores possam passar alguns dias durante a Copa do Mundo em cidades como Dubai e Abu Dhabi (ambas nos Emirados Árabes).

Isso ajudaria também a aliviar o déficit de quartos de hotel existentes no Qatar. A avaliação é que até 2022 o país precisaria de mais 60 mil quartos para hospedar turistas.

Na partida das quartas de final contra o Espérance (TUN), pelas quartas de final, no último sábado (14), cerca de 500 pessoas da torcida saudita estavam presentes. Não existe expectativa do que para a semifinal diante do Flamengo este número seja diferente.

A tensão política entre o Qatar e os países que apoiam o bloqueio é exposta no cotidiano em Doha. Lojas em mercados populares da cidade têm placas que informam que produtos de países que “não são amigos” devem ser boicotados.

Para o Qatar, o Mundial de Clubes agora e a Copa do Mundo de 2022 fazem parte de uma estratégia geopolítica. Competições esportivas são vistas pelo emir Tamim bin Hamad Al Thani como uma peça no plano para transformar a capital em destino turístico, fomentando economia que vai além de petróleo e gás natural que representam quase 80% dos recursos nacionais.

Significam também uma ofensiva diplomática e de imagem. Em uma das suas raras declarações sobre o assunto, o emir disse que a Copa do Mundo era, na verdade, um plano para o país porque faz parte de programa global de desenvolvimento que envolve investimentos de US$ 200 bilhões (cerca de R$ 800 bilhões).

O futebol é uma das principais peças de publicidade do Qatar National Vision 2030 (Visão Nacional do Qatar para 2030), estratégia governamental para tornar o país mais progressista e fomentar o desenvolvimento sustentável.

O plano de relações públicas da candidatura para sediar a Copa de 2022 foi elogiado por delegados da Fifa como eficiente e crível, mas até o então presidente da entidade, o suíço Joseph Blatter, considerava inviável a realização de um Mundial no Qatar.

A nação acabou anunciada como vencedora em 2010. Foi acusada de compra de votos e envolvida no esquema de corrupção de dirigentes investigada pelo FBI nos Estados Unidos.

O Mundial de Clubes é um teste do que o governo vai implantar de maneira expandida em 2022. Para isso, o país terá que se adaptar a alguns problemas comuns em estádios de futebol.

Na partida de sábado entre Espérance e Al-Hilal, os tunisianos, em maior número, acenderam três sinalizadores, atirados depois nos seguranças ou na direção de outro setor da arena. Soltaram fumaças em amarelo e vermelho, as cores do clube, e brigaram entre eles. Ninguém foi preso por decisão policial que não é comum no Qatar. Os estádios possuem câmeras com dispositivo de reconhecimento facial.

A imagem que o Qatar tenta passar ainda é a do lema da campanha para ganhar o direito de sediar a Copa de 2022: “expect amazing” (espere o incrível, em inglês). Mas sem fazer perguntas desconfortáveis.

A Folha questionou o Supremo Comitê, responsável pela organização do Mundial, a respeito dos incidentes com os tunisianos na partida contra o Al Sadd. Também pediu confirmação se 14 deles haviam sido detidos na chegada a Doha por terem causado distúrbios no voo da Qatar Airways que partiu de Túnis. Perguntou também sobre outros cinco que teriam sido presos por carregarem drogas.

Não houve resposta. Horas depois, os jornalistas receberam e-mail com convites de cortesia para o show musical que aconteceria em Doha neste domingo (15).

Tunisianos no estádio disseram que os torcedores presos por distúrbios no avião foram liberados horas depois e conseguiram ir ao jogo, algo considerado pouco comum por imigrantes que moram no país e conversaram com a reportagem.

Torcedores do Espérance de Tunis com sinalizadores e fumaça nas arquibancadas em Doha
Torcedores do Espérance de Tunis com sinalizadores e fumaça nas arquibancadas em Doha - Kai Pfaffenbach/Reuters

Planejadas nos mínimos detalhes, as arenas construídas ou reformadas para a próxima Copa terão um “legado”, avisa o Supremo Comitê. As estruturas serão aproveitadas de alguma forma ou desmontadas após o torneio.

No Mundial de Clubes, apenas o Khalifa International, estádio mais tradicional do país e primeiro finalizado para 2022, será utilizado nas semifinais e na decisão do título.

Outros assuntos permanecem pendentes. A cidade é um canteiro de obras. Ainda há a pressa para finalizar as obras em Lusail, o distrito construído a partir do zero e que será local da abertura e encerramento do Mundial. O Qatar exibe os prédios modernos e até as construções em andamento como prova de progresso e de urgência pelo desenvolvimento.

Mesmo que muitos imigrantes de países como Bangladesh, Índia e Paquistão sejam fanáticos por futebol, poucos poderão ver Flamengo ou Liverpool jogarem. O problema pode persistir para a Copa do Mundo. A percepção deles é que grandes eventos esportivos são reservados apenas para turistas ou qatarianos, que são minoria no país (cerca de 300 mil de 2,7 milhões) mas formam a elite política e econômica.

O valor entre 300 e 400 riales (entre R$ 330 e R$ 440) por cada entrada para o Mundial de Clubes é visto por eles como proibitivo. E há quem considere que jogos de futebol deveriam ser de graça. O governo do Qatar chegou a sugerir em 2014 que fazer as pessoas pagarem por ingressos poderia afastá-las do esporte.

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