Descrição de chapéu Tóquio 2020 Alalaô

Favorita na Olimpíada, Pâmela Rosa troca skate por ganzá no Carnaval

Campeã mundial em 2019, brasileira desfilará pela escola Tom Maior em São Paulo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Durante algumas horas, ou até alguns dias durante o ano, o skate perde o posto de primeiro lugar na vida de Pâmela Rosa. Efeito do Carnaval.

“Estou sempre focada no skate, mas no Carnaval consigo tirar [da cabeça] um pouco isso de ‘só skate, só skate’. Consigo procurar energias em outros lugares para ir bem nas competições”, ela diz à Folha horas antes de participar do seu segundo ensaio técnico pela escola de samba Tom Maior.

Líder do ranking mundial da categoria street, a paulista de 20 anos foi campeã do mundo em 2019. O currículo e a consistência de seus resultados recentes fazem com que ela seja uma das principais apostas de medalha do Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio, quando o esporte fará sua estreia no programa do evento.

Neste ano, ela também terá a oportunidade de, pela segunda vez, desfilar no sambódromo do Anhembi.

Tanto o Carnaval quanto o skate apareceram na vida de Pâmela em São José dos Campos, cidade onde ela nasceu e teve uma infância sem bonança. “Eu não tinha um skate, minha mãe [Evânia] deixou de pagar as contas de água e luz para comprar um para mim”, conta.

Nessa época, a família frequentava a escola de samba local Corinthians do Jardim Paulista. Pâmela tocava ganzá (espécie de chocalho), sua mãe era diretora de casais, e a irmã mais velha, Maria Paula, rainha da bateria na qual um primo tocava.

“Minha filha [Maria Paula] entrou na Tom Maior em 2012. Teve uma seletiva com todas as meninas de São José, e ela e outra garota foram as únicas selecionadas para serem passistas”, relembra Evânia.

Hoje também na Tom Maior, a mãe auxilia a ala das passistas, isso quando o calendário de Pâmela permite. "Ela não vai nem na balada sem mim", brinca.

A skatista também migrou para a escola da capital, onde continuou firme no ganzá, instrumento muito presente nas baterias de escola de samba.

A família inteira desfila também em Ilhabela (litoral de SP), cidade do cunhado de Pâmela, mestre de bateria da Leões do Ita. Lá, a skatista é diretora de ganzá.

A skatista brasileira também desfila pelo Leões da Ita, escola de samba de Ilhabela (SP)
A skatista brasileira também desfila pelo Leões da Ita, escola de samba de Ilhabela (SP) - Arquivo pessoal

Em 2020, após o cancelamento de competições internacionais de skate por conta do surto de coronavírus que atinge sobretudo a China, a atleta terá a chance de participar pela segunda vez do desfile da capital paulista como parte da bateria da Tom Maior.

Em 2015, a escola levou o enredo “Adrenalina” para a avenida. Na ocasião, a atleta, em vez de tocar, andou de skate na pista montada sobre um dos carros alegóricos.

Para integrar a escola, ela conta com a compreensão do mestre de bateria e também dos diretores, que permitem sua participação mesmo sem que possa comparecer a todos os ensaios, precisando faltar inclusive aos desfiles para competir.

Mesmo durante os torneios, Pâmela não deixa o samba de lado. Esse é o ritmo mais escutado por ela, inclusive para andar de skate, antes de entrar na pista. O que mais gosta são os sambas-enredo.

Neste ano, a Tom Maior, segunda escola do grupo especial a desfilar nesta sexta-feira (21), leva para a avenida o enredo “É Coisa de Preto”.

No desfile, o esporte estará presente na sétima ala, que terá fantasias inspiradas em Adhemar Ferreira da Silva —primeiro bicampeão olímpico do Brasil (ouro no salto triplo em 1952 e 1956)—, e também no segundo carro, chamado Picadeiro Cultural, que faz referência ao futebol.

Dentre os homenageados pela escola estão atletas como Leônidas da Silva, Marta, Maguila, João do Pulo e Daiane dos Santos. A apresentação também recordará figuras da política, da literatura, da música e intelectuais.

“Eu tenho muita vergonha de cantar, mas quando eu estiver na bateria vocês vão me ver cantando”, diz Pâmela, com certa timidez.

Liderando o ranking de classificação para Tóquio-2020, ela tem a companhia de outras brasileiras, como Rayssa Leal e Letícia Bufoni, entre as principais competidoras de street do mundo —as três atletas devem representar o país com chances de medalha. A disputa dessa categoria está marcada para 27 de julho, um dia depois do evento masculino.

A atleta reitera, a todo momento, que o esporte é seu principal foco e preocupação. Lembra que foi o que lhe deu condições de mudar a realidade de sua família. Mas as batidas da bateria terão sempre um lugar especial.

“Não vou sair do Carnaval nunca, se Deus quiser. Posso me afastar um pouco, como já fiz nessas últimas vezes que não consegui participar, mas deixar o Carnaval não tem como, é uma coisa da nossa família, do coração”, afirma.

"Lutar, é preciso lutar por igualdade
Liberdade, fazer da resistência uma nova verdade
Soprando a poeira da história
A nobreza em meus olhos brilhou
É o dia da nossa vitória
Conquistada sem favor"

Trecho do samba-enredo da Tom Maior para o Carnaval de 2020

Pâmela Rosa durante o ensaio técnico da Tom Maior, sob chuva, escola pela qual desfilará no Carnaval de 2020
Pâmela Rosa durante o ensaio técnico da Tom Maior, sob chuva, escola pela qual desfilará no Carnaval de 2020 - Bruno Santos - 9.fev.2020/Folhapress
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.