Descrição de chapéu Tóquio 2020

Nory lança desafios, anota tudo e vê ginástica mais unida na pandemia

Atleta conta como tem se adaptado à nova rotina de treinos por videoconferência

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São Paulo

A rotina de Arthur Nory Mariano, 26, era passar sete horas entre academia e treinos todos os dias. Assim como ocorreu com boa parte do mundo, a vida do ginasta medalhista olímpico e campeão mundial mudou a partir do início de março, por causa da pandemia de Covid-19.

Hoje em dia, ele passa esse período conectado ao Zoom, programa de videoconferências que virou mania diante da demanda por encontros virtuais. Na última sexta-feira (24), 70 pessoas estavam conectadas na mesma sala para os treinos online, acompanhados pelos treinadores da seleção brasileira.

A conexão pela internet uniu vários ginastas do país. As reuniões foram abertas também para atletas que não fazem parte da equipe olímpica.

“A comissão técnica pensou em aproximar todo mundo da ginástica masculina. Todo dia de manhã nos conectamos. Nos primeiros 40 minutos é feito um trabalho de fisioterapia, cada dia ao cuidado de um profissional de cada clube. Depois passa para o treino, com os treinadores acompanhando tudo”, conta Nory.

Num esporte em que são necessários aparelhos e espaço físico razoável, o coronavírus tem sido um desafio de criatividade para a ginástica.

Medalhista de ouro na barra fixa no Mundial do ano passado, em Stuttgart, na Alemanha, e de bronze no solo na Olimpíada de 2016, no Rio, Nory entrou na brincadeira lançada por outros atletas de propor desafios aos colegas. Ele, por exemplo, subiu e desceu escadas da sua casa plantando bananeira e pediu para que outros fizessem o mesmo.

O campeão olímpico das argolas em Londres-2012, Arthur Zanetti, propôs tirar a camisa durante o movimento da parada de mão, quando o ginastica fica com o corpo na vertical, mas de ponta-cabeça, apoiado no chão pela força dos braços. A multicampeã americana Simone Biles já tinha desafiado a tirar a calça em condições parecidas.

“Aumenta a criatividade e serve para um levar o outro ao limite”, diz Nory.

Neste período também foi preciso elevar a concentração, porque em casa há distrações que os atletas não encontram nos seus clubes. Por isso que os treinadores acompanham por horas a fio, pela tela do computador, como Nory e os outros desempenham as atividades.

“Eles observam os movimentos e dizem para fechar a perna, levantar mais o quadril… Coisas assim. São treinos adaptados, da maneira que é possível fazer”, afirma.

Para alguém detalhista como Nory, a concentração não é problema. Tudo o que faz, o ginasta anota em um caderno, que não serve apenas para o esporte.

Quantas vezes foi ao mercado na última semana (a única chance que tem de sair de casa em tempos de distanciamento social)? O ginasta anota. Qual tem sido a dieta? Também está lá. Nem ele sabe exatamente o motivo para colocar tudo no papel.

A ideia original era manter em mente quais são os objetivos nas competições que estão no horizonte, mas agora os rabiscos ganharam um novo sentido. Nory passou a escrever nas últimas semanas as causas sociais que têm abraçado, por meio de doações em dinheiro.

No Instagram, ele pede que seus seguidores, atualmente 1,4 milhão de usuários, também colaborarem.

“Sou padrinho da Casa do Zezinho [ONG que cuida de jovens em situação de alta vulnerabilidade social] no Capão Redondo, na periferia de São Paulo. Temos projeto de atividades complementares para crianças carentes no esporte. Fazíamos vários tipos de atividades até a parada por causa do coronavírus. Arrecadamos para ajudar as famílias nessas condições”, conta.

Ele também auxiliou e fez pedidos de ajuda para o Sefras (Associação Franciscana de Solidariedade) e o Hospital das Clínicas, ambos na capital.

Além disso, encara o desafio de tentar se concentrar no objetivo comum a todos da ginástica brasileira: como ficará a preparação para a Olimpíada de Tóquio, adiada para 2021.

A mudança e o isolamento causados pelo coronavírus mexeram com a programação de todos os colegas, que buscam se reinventar da maneira que podem. Caio Souza montou um aparelho chamado cogumelo para fazer movimentos de rotação. Zanetti adaptou uma argola em casa.

“Eu pendurei uma barra para fazer exercícios. Dá para realizar atividades para o punho, o antebraço, treinos de força. A maioria dos atletas tem em casa tatame, colchonete. Eu coloco livros dentro de uma mochila para fazer peso e aumentar o esforço. Não é a mesma coisa que estar no clube com os treinamentos normais. Mas é o que dá para fazer”, afirma.

Se depois de tudo isso ele conseguir mais uma medalha em Tóquio, certamente o feito será anotado em seu caderno.

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