Após boicote, jogadores decidem retomar disputa da NBA

Atletas paralisaram campeonato em protesto contra violência policial nos EUA

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São Paulo

Os jogadores da NBA decidiram retomar a disputa do campeonato. Depois de paralisar os playoffs da liga norte-americana de basquete na última quarta-feira (26) em protesto contra mais um ato de violência policial contra um homem negro nos Estados Unidos, eles toparam dar continuidade à disputa no complexo esportivo da Disney.

Para chegar a um consenso, os atletas precisaram de mais de uma reunião. A primeira, ainda na noite de quarta, foi tensa, com uma maioria não definitiva apoiando o retorno à disputa. O encontro desta quinta (27) foi mais harmonioso, e se chegou à conclusão de que a volta do esporte ofereceria uma plataforma de discussão sobre o racismo.

Ainda haverá uma conversa com os donos das equipes e com os executivos da NBA sobre como ampliar essa plataforma. Michael Jordan, 57, dono do Charlotte Hornets e presidente do Comitê de Relações de Trabalho da NBA, vai participar por videoconferência.

Os jogadores querem que a conclusão do campeonato não seja meramente um compromisso esportivo, mas um manifesto social. Esse era o plano desde que a competição foi retomada após a primeira interrupção.

Suspensa por mais de quatro meses pela pandemia do novo coronavírus, a temporada foi reiniciada em julho no que se convencionou chamar de “bolha”, um ambiente de protocolos rígidos contra a Covid-19 estabelecido na Disney, nos arredores de Orlando. Durante a parada, os Estados Unidos ferveram com manifestações antirracistas, que explodiram após o caso George Floyd, em maio.

Vários atletas da NBA estiveram em protestos contra o assassinato de Floyd, 46, morto em Minneapolis depois de ter o pescoço prensado no chão por cerca de oito minutos por um policial branco. E a associação dos jogadores só topou o retorno com a condição de que haveria espaço para mensagens sociais.

As quadras onde vinham sendo disputados os jogos estão pintadas com a frase “vidas negras importam”. Essa também é uma das mensagens colocadas nas camisas, no local onde geralmente fica o nome dos atletas. Ficou a critério deles manter a inscrição habitual ou usar o espaço para textos como “igualdade”, “paz” e “reforma educacional”.

Russell Westbrook exibe a mensagem "vidas negras importam" - Mike Ehrmann - 2.ago.20/AFP

Parte dos atletas sentiu, porém, que a mensagem foi se diluindo em meio à competição dura. Quando se deu mais um caso de violência policial de grande repercussão –o negro Jacob Blake, 29, levou sete tiros nas costas em Kenosha, na frente dos filhos, e ficou paralisado da cintura para baixo–, houve uma reação mais firme dentro da “bolha”.

A revolta partiu de jogadores do Milwaukee Bucks, liderados pelo armador George Hill, 34. Milwaukee fica perto de Kenosha, no estado do Wisconsin, e Hill convenceu seus companheiros de que caberia a eles marcar uma posição. Assim, eles não entraram em quadra para enfrentar o Orlando Magic.

Os jogadores do Magic não aceitaram o WO e aderiram ao boicote. Na sequência, os elencos de Oklahoma City Thunder, Houston Rockets, Los Angeles Lakers e Portland Trail Blazers, outros times que atuariam na quarta, tomaram a mesma a atitude, e a liga se viu obrigada a adiar todos os confrontos de quarta (e posteriormente de quinta). O movimento reverberou em outras ligas e esportes dos EUA, como beisebol, futebol e tênis.

Atletas das 13 equipes que sobrevivem no campeonato se reuniram, então, para definir o rumo a ser tomado. Não houve uma votação formal na reunião de quarta, mas os representantes de Los Angeles Lakers e Los Angeles Clippers se colocaram contrários à retomada e chegaram a deixar o encontro para que os demais definissem como seria o retorno sem eles.

LeBron James, 35, astro dos Lakers, foi o primeiro a se levantar e sair, o que gerou um choque. Kawhi Leonard, 29, craque dos Clippers, também deixou clara a sua disposição em abandonar a “bolha”. Nesta quinta, no entanto, ambos se mostraram mais abertos aos argumentos dos que defendiam a continuidade do campeonato.

LeBron James estava disposto a abandonar a "bolha" - Kevin C. Cox - 24.ago.20/AFP

Um dos pontos era justamente a possibilidade de usar a competição e seus microfones para defender as causas consideradas justas. Outra questão é econômica, uma vez que a interrupção definitiva da competição causaria danos financeiros severos para uma liga que já sofreu vários percalços na atual temporada.

Os atletas entenderam, por fim, que a paralisação iniciada na quarta foi produtiva e cumpriu seu papel. Antes de começá-la, por exemplo, os jogadores dos Bucks participaram de uma chamada de vídeo com o vice-governador do Wisconsin, Mandela Barnes, e com o procurador-geral do estado, Josh Kaul, cobrando providências legislativas e punição ao policial que atirou em Jacob Blake.

Eles não estão satisfeitos. Por isso, vão dar sequência às suas manifestações. Mas o farão entre jogos de basquete na Disney.

Agora, a liga vai refazer a programação dos mata-matas. A ideia é que os jogos sejam reiniciados na sexta-feira (28) ou no final de semana.

As séries da Conferência Oeste ainda estão na primeira rodada. Permanecem na disputa Los Angeles Lakers, Portland Trail Blazers, Oklahoma City Thunder, Houston Rockets, Los Angeles Clippers, Dallas Mavericks, Denver Nuggets e Utah Jazz.

No Leste, Toronto Raptors, Boston Celtics e Miami Heat já estão classificados às semifinais de conferência. O Milwaukee Bucks, que iniciou os protestos, lidera por 3 a 1 seu duelo melhor de sete com o Orlando Magic, pela primeira rodada.

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