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Botafogo luta contra rebaixamento sem dinheiro para despesas básicas

Penúltimo colocado e adversário do São Paulo nesta quarta, time vive caos nas finanças

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São Paulo

Na penúltima colocação do Campeonato Brasileiro, o Botafogo vê seu terceiro rebaixamento à Série B como ameaça cada vez mais real.

Em luta para evitar a queda, a equipe enfrenta o líder São Paulo nesta quarta-feira (9), às 21h30 (com transmissão da Globo), em jogo adiado da 18ª rodada.

Com 47 pontos, o time tricolor enfim vai tirar sua última partida de atraso na competição e pode se distanciar ainda mais na ponta se vencer os cariocas, que somam apenas 20 pontos e estão 5 atrás do Sport, primeiro time fora da zona de rebaixamento.

Num ano em que contratou o meio-campista japonês Keisuke Honda, o atacante marfinense Salomon Kalou e viu cinco técnicos (Alberto Valentim, Paulo Autuori, Bruno Lazaroni, Ramón Díaz e Eduardo Barroca) passarem pelo seu comando, o Botafogo ainda não conseguiu se encontrar em campo ou fora dele.

Minutos depois de a equipe perder o primeiro jogo das oitavas de final da Copa do Brasil, para o Cuiabá, no fim de outubro, o empresário e youtuber Felipe Neto publicou um desabafo para seus 12,7 milhões de seguidores no Twitter.

O torcedor ilustre e ex-patrocinador fez uma série de críticas à administração botafoguense, disse que o clube caminha para a falência e que desistira da ideia de doar R$ 3 milhões para o projeto de transformá-lo em uma sociedade anônima.

A quantia é suficiente para quitar um mês da folha salarial da equipe e menos de 1% das dívidas da agremiação. Em seu último balanço, publicado em abril, o time apresentou endividamento de R$ 836 milhões.

A situação ficou ainda pior com a pandemia da Covid-19, e o clube alvinegro teve seu nome inscrito nos serviços de proteção ao crédito por atrasos em contas de consumo básicos.

Há faturas em aberto, por exemplo, com a Light, fornecedora de luz e energia no Rio de Janeiro: uma de R$ 1.400 e outra de R$ 3.800. Com a Companhia Estadual de Água e Esgoto, o total é de R$ 27 mil.

A agremiação de General Severiano soma, desde janeiro de 2016, 63 títulos protestados em cartórios, no total de R$ 2.983.960,07. As dívidas com fornecedores e bancos prejudicam a instituição na hora de reivindicar empréstimo ou financiamento.

Com o nome sujo na praça e a perda de receitas ao longo desta temporada, a diretoria sobrevive graças à ajuda de beneméritos.

Na época da publicação de Felipe Neto, o ex-presidente e membro do comitê executivo de futebol Carlos Augusto Montenegro convocou entrevista e disse que o clube na verdade já está falido.

“Felipe Neto está omitindo a verdade dizendo que vai chegar à falência”, afirmou Montenegro. “Não tem receita, só conseguimos pagar salários. A vida não é só isso. Temos viagens, concentração, treino, água, luz, gás, bola. Outro dia comprei 18 bolas de futebol para eles [jogadores] treinarem.”

Na contramão do endividamento, a receita do clube, de R$ 186 milhões, é a menor entre os rivais cariocas e uma das mais baixas entre os integrantes da Série A do Campeonato Brasileiro.

De acordo com relatório do banco Itaú/BBA, que analisa finanças dos clubes brasileiros, o Vasco registrou receitas de R$ 199 milhões, o Fluminense de R$ 249 milhões e o Flamengo de R$ 841 milhões em 2019.

O estudo prevê que, se o Botafogo direcionar 20% de toda a sua arrecadação para sanar o passivo, só estancará o endividamento daqui a 20 anos.

Como a conta entre receitas e despesas não fecha, a solução mais viável, segundo o presidente eleito, Durcesio Mello, é a transformação do clube em sociedade anônima.

“Estamos conversando com negociadores estrangeiros, que ficariam com 51%. Os outros 49% ficariam com torcedores como eu e qualquer alvinegro”, afirmou Mello, 65 empresário escolhido para o cargo no dia 24 de novembro.

A saída de Felipe Neto também expôs divergências da diretoria na formatação da S/A. A versão inicial do Projeto Investidores, conduzido pelo empresário Laércio Paiva, propunha recolher pelo menos R$ 250 milhões com torcedores para quitar dívidas e separar a gestão do futebol das áreas sociais do clube.

Sem alcançar o mínimo necessário, o Botafogo desistiu desse modelo e passou ao Comitê de Transição da S/A a tarefa de concluir o processo. Com a saída de Paiva, que tinha o apoio de Felipe Neto, Montenegro anunciou que o objetivo, agora, seria o de buscar um investidor não necessariamente torcedor da equipe, possivelmente estrangeiro.

“Se nada acontecer, teremos que pensar em recuperação judicial. Não podemos ter despesas de R$ 10 milhões mensais e arrecadação de R$ 800 mil. Vão faltar R$ 9,2 milhões todo mês”, afirmou Montenegro.

O projeto de lei do deputado Pedro Paulo (DEM-RJ), que cria benefícios para as agremiações de futebol se tornarem empresas, contempla a possibilidade de elas ingressarem com pedido de recuperação judicial.

A proposta do deputado é que os times apresentem um plano de reestruturação e, se ele for aprovado, as dívidas fiquem congeladas enquanto a instituição negocia com seus credores, sob mediação de um juiz.

O texto foi aprovado na Câmara Federal, em novembro de 2019, seguiu para o Senado, mas ainda não foi votado. Flamenguista, Pedro Paulo foi escolhido para ser o relator do clube-empresa pelo presidente da Casa, o botafoguense Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Maia se empenhou na aprovação do texto. Visitou o São Paulo, um dos clubes reticentes com a proposta, e convidou dirigentes para um encontro na residência oficial do presidente da Câmara, em Brasília.

O então mandatário do Vasco, Alexandre Campello, reclamou da suposta postura "pró-Botafogo" do projeto para a cúpula da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Maia ironizou o vascaíno em entrevista à Folha, em outubro de 2019: "Fico feliz que o Vasco vive um ótimo momento financeiro e não tem mais dependência da CBF. Ótima notícia".

Para que as coisas não piorem ainda mais fora de campo com o rebaixamento, o Botafogo precisa fazer sua parte dentro dele.

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