Descrição de chapéu Copa Libertadores 2020

Palmeirenses ignoram pandemia e recebem time com aglomeração após Libertadores

Mais de mil torcedores foram ao centro de treinamento depois do título sobre o Santos

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São Paulo

Com mais de 13 mil novos casos de Covid-19 e 200 óbitos registrados nas últimas 24 horas no estado de São Paulo, o Palmeiras foi recebido com aglomeração na chegada ao Centro de Treinamento (CT) da equipe, na Barra Funda (zona oeste da capital), após o título da Libertadores conquistado neste sábado (30) no Rio de Janeiro.

Mais de mil torcedores —a maioria jovens (inclusive crianças), sem máscara e sem respeitar qualquer distanciamento social— se reuniram no local. Por isso, foi montado um cordão com grades de ferro, o clube mobilizou uma equipe de seguranças e parte da avenida Marquês de São Vicente foi interditada.

Os presentes tiveram de aguardar até a madrugada, depois das 2h, para verem a chegada dos jogadores. Em um ônibus, eles passaram por uma fila de sinalizadores, fogos de artifício e bandeiras até entrarem na casa alviverde.

Inicialmente, o clube havia previsto um trio elétrico para a festa, mas cancelou os planos. Do lado de fora, foi possível ver um canhão de luz aceso dentro do CT e uma chuva de fogos nas cores do clube.

Depois, o elenco levou a taça da Libertadores até os portões e foi recebidos pelos fãs. A festa, que começou ainda antes da partida, por volta da hora do almoço, nos arredores do estádio, continuou madrugada adentro.

Também houve aglomeração no aeroporto de Guarulhos, onde o time desembarcou.

Donos da empresa Crefisa, principal patrocinadora do Palmeiras, Leila Pereira e o marido, José Roberto Lamacchia, chegaram ao centro de treinamento por volta de 23h30. Ela, que é conselheira do clube e cotada como candidata à presidência, foi aplaudida pelos torcedores no local. Eles gritaram "tia Leila" e Leila eu te amo", em referência aos investimentos da Crefisa na agremiação.

A reunião de torcedores do Palmeiras ocorreu mesmo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo prevendo aglomerações para o evento e em tese ter criado estratégias para evitá-las.

Antes da partida, a Polícia Militar de São Paulo se reuniu com as torcidas do clubes e divulgou a chamada "Operação Final da Libertadores". Segundo informou a secretaria, os esforços estavam focados nos arredores do estádio palmeirense, com atenção para a rua Palestra Itália.

A decisão foi de não isolar a área antes, durante ou depois da partida. A PM também não informou quantos policiais seriam deslocados para a operação.

O aeroporto de Guarulhos, onde o elenco palmeirense desembarcou após a conquista, por meio da sua assessoria de imprensa, afirmou que faria o desembarque do campeão pela pista, e não pelo saguão.

O capitão Matheus, da PM, disse que a força designou três pelotões para a operação da noite deste sábado, dois no CT (onde um trecho da via foi fechado) e um no aeroporto.

“A nossa missão é garantir a segurança das pessoas e da delegação. Toda vez que tem situação de aglomeração, o máximo que nós fazemos é dar ciência para a secretaria de vigilância sanitária para ver se eles tomam as providências necessárias”, afirmou.

Palmeirenses são recepcionados por torcedores aglomerados em frente ao CT
Palmeirenses são recepcionados por torcedores aglomerados em frente ao CT - Amanda Perobelli/Reuters

Renato Trevellin, comerciante de 44 anos, chegou com a esposa, um filho e uma filha por volta das 22h nos arredores do centro de treinamento. Disse que escolheu o local por ser mais sossegado que o estádio, mas que evitaria se aproximar dos focos de aglomeração.

“Acho difícil evitar de vir, porque é um título que faz 20 anos que a torcida espera e já era de se esperar [que tivesse festa]. Eu tenho consciência e não vou lá no meio [da aglomeração], mas as pessoas, infelizmente, muitas nem usam máscara”, comentou.

“Eu tomo os cuidados, tenho meu álcool em gel, aqui entre nós [ele e dois amigos] fico mais à vontade, mas quando fica um contingente maior, eu ponho a máscara”, afirmou o bancário Edmar Zanatta, 48.

Guilherme, estudante de 17 anos, foi com a mãe para a festa após assistirem à partida em casa, com a família. “Nessas horas, não passa pela cabeça. O título é superior à Covid”, disse.

A aglomeração na recepção ao elenco dá continuidade a uma série de desrespeitos às medidas de controle da pandemia que envolvem a decisão da Libertadores. Segundo a CET (Companhia Estadual de Trânsito), também houve aglomeração na avenida Marquês de São Vicente, que ficou interditada no sentido Barra Funda/Lapa, após o apito final.

Os arredores do estádio Allianz Parque também estavam tomados por torcedores para ver o jogo e depois comemorando o título alviverde, sem distanciamento social e muitos sem máscara. No embarque do time para o Rio de Janeiro, houve presença de torcida para apoiar o elenco nos arredores do aeroporto de Guarulhos.

Antes da partida deste sábado, a vigilância sanitária do Rio de Janeiro atuou em bares e restaurantes que vendiam bebida e alimentos para pessoas em pé, ao redor do estádio do Maracanã. Também dentro do palco da final houve aglomeração nas arquibancadas.

Não houve venda de ingressos para o jogo, mas a Conmebol (confederação sul-americana) aguardava até 5.000 pessoas no Maracanã, entre torcedores e familiares convidados pelos clubes, representantes de patrocinadores da entidade, jornalistas e funcionários, com a promessa de que medidas preventivas contra a Covid-19 seriam adotadas.

Tudo isso acontece quando o país inteiro enfrenta um dos momentos de maior perigo da pandemia, tendo registrado até aqui mais de 223 mil mortes e 9,1 milhões de casos. Aos finais de semana, a cidade de São Paulo, assim como todo o estado, ficam na fase vermelha da quarentena para tentar controlar a pandemia.

Isso significa que apenas serviços essenciais, como supermercados e farmácias, podem estar abertos. Restaurantes e bares não podem atender o público, apenas podem funcionar para entrega e retirada.
Também para tentar conter a pandemia, tanto o governo do estado, quanto a prefeitura municipal de São Paulo cancelaram o ponto facultativo durante o Carnaval, em fevereiro.

Neste sábado (30), o Brasil bateu recorde na média móvel de novos casos de coronavírus nos últimos seis meses.

A estudante Júlia Bueno, 19 (esq.), o encarregado administrativo Maike Cruz, 24, e a analista de treinamento Nayara Bueno, 24, na frente do Allianz parque na manhã deste domingo (31)
A estudante Júlia Bueno, 19 (esq.), o encarregado administrativo Maike Cruz, 24, e a analista de treinamento Nayara Bueno, 24, na frente do Allianz parque na manhã deste domingo (31) - Everton Lopes Batista/Folhapress

Estádio tem homenagens e movimentação tranquila neste domingo

Na manhã deste domingo (31,) alguns poucos torcedores apareceram nas imediações do Allianz Parque. Por volta das 9h, palmeirenses que passavam pela região caminhando ou pedalando paravam para uma foto na entrada da rua Palestra Itália. Em geral, o uso de máscaras e distanciamento físico foi respeitado.

Com movimentação bastante tranquila, apenas um grupo de cinco torcedores consumia bebidas alcoólicas em um ponto mais distante do estádio. Restaurantes e bares da região estavam fechados devido à fase vermelha.

As irmãs Júlia Bueno, 19, e Nayara, 24, participaram da comemoração nos arredores do estádio na noite anterior e voltaram na manhã deste domingo para fazer um registro. “O jogo nós vimos em casa, com a família. Mesmo de longe foi divertido”, afirma Nayara.

O ferramenteiro André Ferdinando, 42, pedalou 32 quilômetros de Santo André até a Barra Funda para prestar suas homenagens ao time. “Foi triste não poder estar no estádio após 20 anos esperando esse título. Mas essa é a situação agora, fazemos o que conseguimos”, disse.

A torcida pelo WhatsApp foi a saída encontrada pelo designer de produtos digitais Bernardo Sartori, 41, para acompanhar a partida com familiares e amigos. Com a esposa grávida, Sartori preferiu ver o jogo em isolamento.

“Acompanhei vários títulos de perto, e é triste não poder estar no estádio ou com meus pais durante o jogo. Mas foi melhor do que eu imaginava, consegui sentir uma descarga de adrenalina quando o gol foi marcado”, afirmou o torcedor, que visitou o estádio nesta manhã.

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