Descrição de chapéu Tóquio 2020 Judô

Saiba quem é o judoca Daniel Cargnin, que venceu a Covid e conquistou o bronze nas Olimpíadas

Brasileiro teve preparação prejudicada pela doença e não pôde lutar para ser cabeça de chave

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Tóquio

Daniel Cargnin foi para Tóquio pelo mesmo motivo de todos os outros 11.500 atletas olímpicos: o sonho da medalha. Ele a conseguiu neste domingo (25), ao vencer o israelense Baruch Shmailov, no Budokan, e ficar com o bronze na categoria 66 kg. Na volta ao Brasil, o judoca nascido em Porto Alegre e criado em Canoas quer saber se a mãe, Ana Rita, está orgulhosa do filho.

“Conversamos bastante, mas ela nunca foi muito de demonstrar essas coisas [orgulho]. Sei que ela não vai tocar neste assunto [as Olimpíadas] até eu voltar por não querer que eu me acomode. Sei que vai esperar eu voltar para não me incomodar”, afirmou o atleta, à Folha, dias antes da disputa no Japão.

O brasileiro Daniel Cargnin conquistou a medalha de bronze no judô nas Olimpíadas de Tóquio
O brasileiro Daniel Cargnin conquistou a medalha de bronze no judô nas Olimpíadas de Tóquio - Gaspar Nóbrega/COB

Foi para a casa dela que Cargnin voltou nas semanas que antecederam a viagem a Tóquio. Sentia-se sem espírito de família. “Estar com ela me trouxe muita paz. Minha mãe sempre foi muito guerreira, e é isso o que espero de mim mesmo nesta Olimpíada, lutar com esse espírito que ela me ensinou”, completou.

Cargnin passou boa parte da preparação traçando a estratégia para ser cabeças de chave da competição, o que em tese lhe daria um caminho mais tranquilo até as fases decisivas. A Covid não permitiu.

O judoca recebeu o diagnóstico de coronavírus no final de maio e não embarcou para Budapeste, onde participaria do Mundial, campeonato para o qual chegou a passar um período de treinos na Rússia e que lhe daria pontos para ser um dos melhores classificados antes da decisão dos cruzamentos em Tóquio.

“Não sentia o cheiro de muitas coisas. Passava perfume e não sentia nada. Resolvi fazer o teste, e deu positivo. Foi o único sintoma que tive. Antes da pandemia, eu seria o sexto cabeça de chave, mas não ir ao Mundial me atrapalhou. Paciência, a medalha terá de vir de qualquer jeito, sem escolher adversário”, disse.

É uma variação da batida “quem quer ser campeão não escolhe adversário”, muito usada por jogadores de futebol. Algo que Cargnin poderia ter sido. Mais uma vez, a mãe apareceu para dar o empurrão necessário.

O garoto treinava nas escolinhas do Grêmio, em Porto Alegre, como lateral direito. Conciliar os estudos com a prática de dois esportes se tornou cansativo, e ele tinha de tomar uma decisão.

“Ela perguntou se eu queria futebol ou judô, mas ressaltou que, se escolhesse o judô, seria mais interessante ir para um clube como a Sogipa, um lugar com mais experiência nessa área. Foi quando tomei a decisão”, lembrou o judoca, que faz parte da equipe da capital gaúcha desde então.

A escolha o levou a Tóquio. E ele sabia muito bem quais seriam seus obstáculos na capital japonesa.

“Tem o japonês e o coreano. São dois favoritos. Há também o italiano, de quem já ganhei. Se eu quiser medalhar, vou precisar derrotar pelo menos um deles”, avaliou. E ele estava certo.

O japonês é Hifumi Abe, 23, atual campeão mundial e medalhista de ouro neste domingo, justamente o responsável por vencer o brasileiro na semifinal. O sul-coreano An Baul, 27, prata na Rio-2016 e também campeão mundial, foi derrotado pelo atleta da casa.

Já o italiano citado por Cargnin é Manuel Lombardo, 27, vice-campeão no Mundial deste ano e ouro no campeonato europeu. Lombardo foi derrotado outra vez pelo judoca gaúcho, desta vez nas quartas de final da atual edição dos Jogos, triunfo que permitiu ao brasileiro brigar por medalha.

O judoca brasileiro Daniel Cargnin com sua medalha de bronze, conquistada neste domingo (25)
O judoca brasileiro Daniel Cargnin com sua medalha de bronze, conquistada neste domingo (25) - Sergio Perez/Reuters

Prata no Pan-Americano de Lima, em 2019, Cargnin usou como parâmetro para avaliar suas chances olímpicas o Mundial de Baku, de 2018, no qual perdeu o bronze para An Baul. Mas afirma ter sido aquele o momento em que passou a acreditar em si mesmo e perceber que, quando está bem, pode surpreender.

“Hoje estou mais velho, mais experiente. Posso vencer atletas que não venci neste ciclo de preparação. Não foram muitos, aliás. Antes da viagem, estava treinando melhor do que treinei o ciclo inteiro. Eu me cobro bastante, e o resultado será consequência da atuação e de como estiver me sentindo no dia. Sei que tenho potencial para medalha.” E as Olimpíadas de Tóquio confirmaram esse potencial.

Cargnin conseguiu mostrar para a mãe que o esforço foi recompensado. Todas as ocasiões em que ela imprimiu as datas e os locais das competições que o filho deveria participar, todas as viagens para acompanhá-lo, tiveram como consequência a participação dele em Tóquio, e a conquista do bronze.

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