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Tiago Brant

Surfe e skate promoverão rejuvenescimento da audiência olímpica

Modernas e adoradas pelo público jovem, modalidades sugerem um desejo do COI por renovação

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Tiago Brant

É mestre em Ciências pela EACH-USP, intetra o Grupo de Estudos Olímpicos da EEFE-USP

Os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, em 2021, marcarão a entrada dos chamados esportes de ação ao panteão olímpico. Tais esportes, entre eles o surfe e o skate, evoluíram e se propagaram mundialmente durante os anos 1960 e 1970, décadas marcadas por uma forte revolução cultural impulsionada pela juventude.

Para muitos praticantes, os esportes de ação não são sequer considerados esportes de competição. A prática esportiva é sobretudo uma expressão pessoal, envolvendo manobras e desafios que importam mais ao praticante que ao espectador. São esportes largamente praticados durante o tempo livre de seus entusiastas, que nesses momentos independem de placar, notas ou adversários.

O surfe, como exemplo, é um esporte contemporâneo, que se desenvolveu e apareceu recentemente na grande mídia, atraindo uma audiência até então restrita a esportes mais tradicionais, por conta da nova geração brasileira que vem dominando as competições mundo afora.

Em termos de história, entretanto, o surfe pode ser considerado uma prática ancestral, principalmente nas ilhas polinésias do Oceano Pacífico, ou na costa norte do Peru, onde pescadores da região de Huanchaco enfrentaram ondas com seus caballitos de totora, embarcações tradicionais de palha datadas há mais de 4.000 anos.

O surfe foi revelado para a civilização ocidental em 1778 pelo capitão da Marinha Real Britânica James Cook, quando sua tripulação atravessava o norte do oceano Pacífico no caminho de volta à Europa. A primeira impressão, ao avistar nativos surfando nus em tábuas de madeira, é descrita por Cook: “era impossível não concluir que aquele homem sentia o mais supremo prazer enquanto era guiado tão rápido e tão suavemente pelo mar”.

Apenas no início do século 20, por meio do nadador e campeão olímpico Duke Kahanamoku, é que o mundo voltou a ouvir falar do surfe. Medalhista de ouro nos 100 m livre em Estocolmo (1912) e na Bélgica (1920), Duke era um completo “waterman” e tinha um carisma poucas vezes reproduzido no esporte.

Por tratar-se de um campeão e de um verdadeiro gentleman, Duke virou o embaixador mundial do surfe, difundindo a prática que, conforme justificava, era a fonte de sua performance atlética. Fez demonstrações nos Estados Unidos (Califórnia, em 1912) e também na Austrália (1914), difundindo largamente o surfe nesses lugares.

Em assembleia realizada em 2016, na cidade do Rio de Janeiro, sede dos Jogos naquele ano, o COI (Comitê Olímpico Internacional) admitiu por unanimidade a entrada de cinco esportes no programa dos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020: surfe, skate, escalada, beisebol (softbol para as mulheres) e caratê. Tais esportes já haviam obtido o aval do Comitê Executivo da entidade e precisavam apenas da aprovação dos membros da assembleia do COI.

Considerada por Thomas Bach, presidente da entidade, como uma proposta histórica, o surfe e o skate, assim como a escalada, se tornaram olímpicos em 2021, promovendo um rejuvenescimento da audiência olímpica e, ao mesmo tempo, provocando uma mudança significativa na percepção do público conservador em relação a esses esportes.

Tais modalidades, além de modernas e adoradas pelo público jovem, sugerem um desejo do COI por renovação, abertura e juventude.

Em tempos de aquecimento global e poluição desenfreada, colocando em risco a vida neste ambiente, a entrada de esportes ligados à natureza nos Jogos Olímpicos deve promover uma reconexão com o ecossistema ambiental e lembrar ao grande público a importância primordial da natureza em suas vidas e práticas diárias, na construção de um futuro melhor, tanto para os Jogos Olímpicos, quanto para o planeta.

Acompanhe o Grupo de Estudos Olímpicos nas redes sociais: facebook.com/estudosolimpicos e twitter.com/geofeusp

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