Descrição de chapéu Tóquio 2020 atletismo

A mil quilômetros de Tóquio, Sapporo recebe maratona com expectativa de quebra de recorde

Mais rápidos nos 42 km atualmente, Kipchoge e Kosgei possuem marcas abaixo do melhor tempo olímpico

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São Paulo

O fim dos Jogos de Tóquio ainda pode reservar algumas surpresas para uma edição tão atípica —mas não na capital japonesa. A mais de mil quilômetros da sede da maior parte das disputas, as ruas de Sapporo recebem os principais maratonistas da atualidade, com chance de testemunhar a quebra de recordes.

Os holofotes da Maratona das Olimpíadas de Tóquio recaem sobre os quenianos que detêm os recordes mundiais feminino e masculino nos 42,195 km: Brigid Kosgei e Eliud Kipchoge. Kosgei, 27, que conquistou a melhor marca em Chicago, em 2019, com 2h14min04seg, compete na noite de sexta (6) no Brasil.

Corredores cruzam linha de chegada durante evento teste em Sapporo
Corredores cruzam linha de chegada durante evento teste em Sapporo - Issei Kato - 5.mai.21/Reuters

Na temporada de 2021, a queniana ainda não competiu em maratonas, já que as provas continuam impactadas pela pandemia de Covid, com algumas poucas edições que reúnem apenas atletas de elite. Já no fim de 2020, ela manteve o título de campeã da Maratona de Londres, com tempo de 2h18min58seg.

A mais recente marca a coloca muito à frente do recorde olímpico, da etíope Tiki Gelana —nos Jogos de Londres, em 2012, ela completou o percurso em 2h23min07seg. As principais rivais que Kosgei enfrenta são as conterrâneas Ruth Chepngetich e Peres Jepchirchir, detentoras dos melhores tempos na faixa das 2h17min, além da israelense Lonah Chemtai e das etíopes Roza Dereje e Birhane Dibaba.

A hegemonia queniana no feminino também se reflete na prova masculina, no sábado (7). A presença de nomes como Kipchoge, 36, deixa poucas chances para os três brasileiros que disputam a prova —entre as mulheres, nenhuma atleta conquistou tempo abaixo das 2h29min30seg para se classificar. Daniel Chaves e o xará Daniel Nascimento estreiam em Olimpíadas, enquanto Paulo Roberto chega à sua terceira.

Entre os três, quem registrou a melhor marca foi Nascimento (2h09min05seg), também o mais novo do trio, com 23 anos. Depois vem Roberto, que aos 42 já alcançou a marca de 2h10min08seg e traz a experiência na Rio-2016 e em Londres-2012, Jogos em que ficou em 13º e 8º lugares, respectivamente. Já Chaves, 33, alcançou seu melhor resultado (2h11min10seg) na Maratona de Londres de 2019.

Assim, os principais rivais de Kip, como é conhecido, serão conterrâneos e outras estrelas africanas. O queniano, atual campeão olímpico, é tido como um dos maiores maratonistas da história. Em 2018, bateu o recorde mundial em Berlim, ao completar o percurso em 2h01min39seg, até hoje sua melhor marca. Foi ainda o primeiro a correr a distância da prova em menos de 2 horas, em um evento não oficial, em 2019.

O domínio de Kipchoge sobre as maratonas, no entanto, foi quebrado em Londres, no ano passado, quando ficou para trás, chegou na oitava posição e terminou a prova em 2h06min42seg —a segunda derrota em 13 competições que havia participado até então. Neste ano, porém, conseguiu recuperar terreno e terminar em primeiro lugar a NN Missão Maratona, na Holanda, com tempo de 2h04min30seg.

O histórico coloca Kip próximo de quebrar o recorde olímpico, do também queniano Samuel Wanjiru em Pequim-2008, com 2h06min32seg. Para isso, disputa com Lawrence Cherono e Amos Kipruto —adivinha? quenianos— e com o etíope Sisay Lemma, que registraram suas melhores marcas na faixa de 2h03min. Já o etíope Shura Kitata, que venceu Kip em Londres, tem seu melhor resultado na faixa de 2h04min, junto com outros cinco atletas de Turquia, Bahrein, Bélgica, Tanzânia e mais um da Etiópia.

O maior adversário de Kip, no entanto, está fora das Olimpíadas. O etíope Kenenisa Bekele, que ficou a dois segundos do recorde mundial na prova de Berlim, em 2019, não participou das qualificatórias de seu país. Criticou a federação de atletismo por modificar as regras de seleção e o curto tempo entre as provas, realizadas em maio, e os Jogos. Ele já havia questionado a entidade quando ficou de fora da Rio-2016.

Mesmo sem participar das qualificatórias, ele atingia os critérios para participar das Olimpíadas, já que o tempo exigido para os homens é de 2h11min30seg. Assim, o Comitê Olímpico Etíope chegou a confirmar a participação da estrela do país em Tóquio, mas em um comunicado divulgado no início de julho foi anunciado que Bekele não iria para o Japão, frustrando fãs ansiosos pela disputa entre o etíope e o queniano em um percurso que reserva seus desafios aos maratonistas na busca pelo recorde olímpico.

Sapporo foi escolhida para receber a prova por ser cerca de dois graus Celsius mais fresca que Tóquio nesta época. Ainda assim, na sexta, as mulheres terão um céu limpo, temperatura entre 25° C e 33° C e umidade de 71%. Já os homens devem enfrentar chuva e temperaturas mais amenas, entre 22° C e 29° C.

A combinação de calor e umidade foi um dos fatores que levou a prova do Rio, em 2016, a ser mais lenta. Naquele ano, Kip chegou em primeiro, mas com tempo de 2h08min04seg, muito acima do seu habitual. Também colaborou para o resultado ruim o vento contra durante cerca de metade do percurso.

Em Sapporo, além das condições climáticas, a subida no início se coloca como mais um desafio. Após largarem do parque Odori, os atletas enfrentam, logo no quarto quilômetro, quase 35 metros morro acima em um espaço de 4,5 km. Em evento teste, atletas relataram que o trecho parece uma montanha no mapa, mas que, na prática, vai bem, desde que haja treinamento de subidas.

O esforço é recompensado por uma descida de pouco mais de 40 metros nos próximos 8,5 km. Com vento a favor no dia do teste, os participantes relataram que correr essa etapa foi como voar. Por outro lado, é nessa parte que a falta de sombra, em especial na prova feminina, pode impactar o desempenho.

Já no trecho mais plano, os maratonistas olímpicos passarão por dentro da Universidade Hokkaido, onde terão uma série de zigue-zagues. Segundo especialistas, se souberem tirar proveito, essas mudanças repentinas podem ser pontos de ataque para ultrapassar o adversário.

Também nesta etapa, que terá três voltas, há subidas mais leves que a primeira, mas que se impõem como obstáculos por serem repetitivas. Os atletas passarão três vezes por elevações de dez metros ao longo de seis quilômetros até alcançar a linha de chegada, de volta ao parque Odori —quem sabe, desta vez, com um recorde olímpico.


as estrelas da maratona nas olimpíadas

Eliud Kipchoge, 36
Do Quênia, é atleta desde 2001, começou no cross-country (em que o terreno varia de terra a grama, montanhoso a plano, e as distâncias ficam entre 4 km e 2 km). Já competiu nas distâncias de 5.000 metros, ganhando medalha de bronze em Atenas-2004, e meia maratona. Entrou para os 42,195 km em 2013 e, desde então, perdeu duas provas das 14 que participou. Detém o atual recorde mundial da maratona e foi o primeiro atleta da história a percorrer a distância em menos de 2 horas.

Brigid Kosgei, 27
Também queniana, começou no esporte como muitos de seus compatriotas: morava a 10 km da escola e muitas vezes ela precisava correr para não perder o horário da primeira aula. Passou a se dedicar exclusivamente à corrida em 2012, mas precisou fazer uma pausa em 2013 após engravidar. Voltou em 2015 e completou sua primeira maratona, no Porto, em primeiro lugar. Teve temporadas vitoriosas nos anos seguintes, mas em provas fora do grande circuito. Em 2019, com sete competições em que ficou em primeiro lugar, ganhou a atenção mundial ao quebrar o recorde feminino, algo que não ocorria desde 2003.

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