Descrição de chapéu Tóquio 2020 Belarus

Atleta belarussa decidiu desertar no caminho ao aeroporto após apelo da avó

Kristsina Tsimanouskaia disse que sua família temia que ela fosse enviada a um hospital psiquiátrico caso retornasse ao país

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Gabrielle Tétrault-Farber Tom Balfmorth
Varsóvia (Polônia) | Reuters

A velocista olímpica Kristsina Tsimanouskaia, de Belarus, decidiu desertar enquanto era levada a um aeroporto de Tóquio porque sua avó lhe disse que não era seguro voltar para casa.

Em entrevista exclusiva à Reuters em Varsóvia, na Polônia, na quinta-feira (5), ela disse que sua família temia que ela fosse enviada a um hospital psiquiátrico caso retornasse ao país, e que sua avó lhe havia telefonado dizendo para não voltar.

"Eu sempre estive longe da política, não assino nenhuma carta nem vou a manifestações, não disse nada contra o governo de Belarus", explicou a atleta.

"Sou uma esportista e não entendia nada da vida política. Eu tento não fazer nada além de esporte na minha vida e faço o possível para não me distrair com a política."

A belarussa Kristina Tsimanouskaia conversa com policial no aeroporto internacional de Tóquio no dia 1º de agosto
A belarussa Kristina Tsimanouskaia conversa com policial no aeroporto internacional de Tóquio no dia 1º de agosto - Issei Kato/Reuters

"Pode parecer cruel por causa de todas as coisas terríveis que aconteceram em Belarus no último verão, mas eu tentei me manter afastada disso, tudo o que eu queria era ir às Olimpíadas e dar o meu melhor", disse ela, referindo-se a protestos no ano passado contra o presidente Alexander Lukashenko que levaram à repressão policial.

"Eu queria estar na final e competir por medalhas."

O porta-voz de Lukashenko não respondeu imediatamente a pedidos de comentário depois da entrevista de Tsimanouskaia.

A atleta de 24 anos causou furor no domingo (1º), quando disse que treinadores irritados com suas críticas haviam mandado que ela voltasse de Tóquio para seu país. Depois de pedir a proteção da polícia japonesa, ela voou na quarta-feira (4) para a Polônia, em vez da Belarus.

A Polônia, que há muito critica o governo autoritário de Lukashenko e abrigou muitos ativistas de Belarus, garantiu a Tsimanouskaia e seu marido vistos humanitários; a avó continua em seu país.

"A avó me telefonou quando eles já estavam me levando para o aeroporto", disse Tsimanouskaia. "Literalmente eu tive uns dez segundos. Ela me ligou, e tudo o que disse foi: 'Por favor, não volte para Belarus, não é seguro'."

"Foi isso, e ela desligou", disse a atleta. "Eu queria voltar para Belarus. Eu amo meu país. Eu não o traí e espero que possa retornar."

"Não tenho medo."

A saga de Tsimanouskaia, que lembra as deserções de esportistas durante a Guerra Fria, ameaça isolar ainda mais Lukashenko, que está sob sanções ocidentais depois da repressão a opositores desde o ano passado.

A velocista, que tinha criticado a negligência de seus treinadores, passou duas noites na embaixada da Polônia no Japão antes de voar para Viena e depois para Varsóvia, na quarta. Ela também deu uma entrevista coletiva na capital polonesa na quinta.

O Comitê Olímpico Nacional da Belarus disse que os treinadores retiraram Tsimanouskaia dos jogos a conselho médico por causa de seu estado emocional e psicológico. O Comitê não respondeu imediatamente a pedidos de comentários na quinta.

Tsimanouskaia disse que ela falou para seu treinador no domingo que estava pronta para correr os 200 metros, mas então ele foi dar um telefonema.

"Algumas horas depois, o treinador chefe me procurou com o representante da equipe e eles disseram que tinham tomado a decisão de me mandar para casa. 'Nós não tomamos a decisão, estamos apenas a executando. Você tem 40 minutos para arrumar suas coisas e ir para o aeroporto'", disse ela. A decisão veio "do alto", afirmou ela.

No aeroporto em Tóquio, os treinadores foram pegos de surpresa, disse a atleta.

"Eles não esperavam que eu fosse procurar a polícia no aeroporto. Eles pensam que temos medo de tomar uma decisão, que temos medo de falar, medo de dizer a verdade ao mundo todo. Mas eu não tenho medo", afirmou.

"Não sou dessas pessoas que têm medo. Eu sempre digo a verdade. Eu me respeito. Respeito meu trabalho. E também quero que outras pessoas se respeitem, respeitem seu trabalho e parem de ter medo e comecem a falar abertamente sobre o que as preocupa."

Antes de ir para Tóquio, Tsimanouskaia não estava entre os poucos atletas olímpicos de Belarus que manifestaram publicamente oposição a Lukashenko.

Figuras da oposição foram processadas, presas ou fugiram desde os protestos maciços contra Lukashenko no ano passado, mesmo antes de ele ganhar um sexto mandato presidencial em uma eleição que, segundo observadores e críticos, foi fraudada. Ele nega a fraude eleitoral.

Os esportes têm alto perfil na política de Belarus sob Lukashenko, que chefiou o Comitê Olímpico do país até que foi substituído por seu filho, neste ano.

O Comitê Olímpico Internacional iniciou uma investigação do caso de Tsimanouskaia e disse que ouvirá as autoridades de Belarus supostamente envolvidas.

"Este é um período muito turbulento da minha vida. Mas espero que logo termine e eu possa continuar minha carreira", disse a atleta. "E também acho que realmente quero ajudar pessoas como eu. Se elas sofrerem qualquer tipo de pressão, estou pronta para ajudá-las."

Colaboraram Maria Vasilyeva, Tatyana Gomozova e Angelina Kazakova, em Moscou; texto de Timothy Heritage; edição de Nick Tattersall e Angus MacSwan

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