Descrição de chapéu Tóquio 2020 canoagem

Com medo de ficar sem ouro, Isaquias foi movido pela raiva e mensagens de apoio

Canoísta segue lemas de Jesús Morlán e consagra sua obsessão nas Olimpíadas de Tóquio

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tóquio

Isaquias Queiroz é um atleta apegado a frases e objetos. Após a conquista da medalha de ouro na prova C1 1.000 metros da canoagem velocidade nas Olimpíadas de Tóquio, ele apareceu para as entrevistas segurando uma girafa de pelúcia azul.

O brinquedo do filho, Sebastian, é levado como amuleto da sorte pelo campeão olímpico para todas as competições. Justo na viagem ao Japão, ele esqueceu de colocá-lo na mala, mas contou com a mobilização de outras pessoas da delegação que viajaram depois e levaram a girafinha até ele. Esforço recompensado.

As frases que Isaquias carrega consigo eram repetidas pelo técnico Jesús Morlán, com quem trabalhou de 2013 a 2018. O espanhol, vítima de câncer há três anos, gostava de falar “solte sua fera” e “siga remando” para motivar ou cobrar o atleta.

A família, o ex-treinador e o atual, Lauro de Souza, estão entre as pessoas fundamentais para as conquistas de Isaquias, agora quatro vezes medalhista olímpico e atrás apenas dos velejadores Robert Scheidt e Torben Grael na lista dos brasileiros que mais vezes foram ao pódio.

Também se revelaram essenciais as mensagens de apoio que recebeu nas redes sociais após ficar fora do pódio com Jacky Godmann na prova C2 1.000 metros, realizada na terça-feira (3).

Em busca de duas medalhas em Tóquio, Isaquias teve medo de ficar sem nenhuma. Ou que não viesse o tão sonhado ouro, obsessão após duas pratas e um bronze na Rio-2016. "Eu tinha medo de sair daqui sem medalha, de não ganhar medalha de ouro na Olimpíada. Eu não queria isso para a minha carreira", afirmou.

O esforço de cinco anos de treinamento por fim foi recompensado. Além das dores habituais pelas muitas horas de treino, um acidente a poucas semanas dos Jogos, quando se cortou com um copo, provocou 25 pontos na sua mão direita. Isaquias mostra a palma praticamente cicatrizada e ri, com a tranquilidade de quem atingiu aquilo que tanto buscou.

Veja abaixo os principais trechos da entrevista concedida por Isaquias em Tóquio.

Mensagem passada pelo ouro

É principalmente para as crianças. Eu tinha ouvido quando era mais novo que nunca seria campeão. Com certeza, muitas crianças vão tentar, vão chorar, não vão querer praticar porque acham que são ruins. Os familiares têm que estar apoiando. A minha família me apoiou muito, mesmo eu com um rim [ele precisou tirar o outro na infância], minha mãe ficou com medo de ser um problema maior, mas mesmo assim me incentivou.

Na Bahia, a gente é porreta, arregaça mesmo, e eu quero ver outros estados criando atletas na canoagem. Não é impossível. Eu vi como é o segredo para ganhar: é treinar! Se eu ficar no sofá, não vou ganhar.

Isaquias Queiroz comemora medalha de ouro na canoagem em Tóquio
Isaquias Queiroz comemora medalha de ouro na canoagem em Tóquio - Maxim Shemetov/Reuters

Fora do pódio no C2 ao ouro

Só treinei quatro meses com o Jacky. Para uma Olimpíada, quatro meses e chegar em quarto, não é fácil. Mas eu queria ganhar medalha no C2, independente da posição, então é frustrante. Não tem como estar feliz com o quarto lugar. Eu chorei, mas fiquei feliz quando cheguei na Vila [Olímpica] porque eu estava com um cara novo, que se dedica muito, e sem falar de todas as mensagens que recebi nas redes sociais.

Às vezes, as redes sociais são chatas, mas no meu caso e de muitos atletas do Brasil foi fundamental. Recebi muito elogio, apoio. Mas o que me deu força mesmo foi que eu estava numa raiva, porque eu queria ganhar medalha e desde o momento em que entrei no C1 eu falei: "Só saio daqui com o ouro". E eu fui em busca.

Medo de não conseguir

Eu tinha medo de sair daqui sem medalha, de não ganhar medalha de ouro na Olimpíada. O atleta fica em segundo, terceiro, e eu não queria isso para a minha carreira. Eu sempre vinha [com] bronze, bronze, às vezes prata, mas eu falei: "Eu quero minha medalha de ouro no Mundial", e em 2019 fui lá e ganhei. E aqui nas Olimpíadas também queria. Vim e ganhei.

Próximos planos

Agora é descansar. Vou para Cancún com minha esposa, passear um pouco e sair da rotina do esporte, e depois vou me casar. Não queria ir de férias nem casar sem medalha no peito. Seria uma viagem amarga, uma ressaca.

Eu treinei cinco anos e foi doído. Se for pensar em Paris [sede dos Jogos de 2024], dá até medo. Porque se foi doído agora, eu vou treinar que treinar mais pesado, para superar todo treinamento que eu fiz, para chegar melhor ainda.

Isaquias Queiroz ao fim da prova do C1 1000 m nos Jogos Olímpicos de Tóquio
Isaquias Queiroz ao fim da prova do C1 1000 m nos Jogos Olímpicos de Tóquio - Luis Acosta/AFP

Recorde de medalhas

Tem mais uma Olimpíada aí, para conseguir mais duas medalhas e passar [o recorde]. Mas, além de passar, o Torben e o Scheidt são heróis nacionais. Não tem como apagar a história deles. Por mais que eu passe em medalhas, eles são inspiradores. Então, para mim, é um prazer estar disputando com eles, e hoje poder estar empatado com o Serginho e o Gustavo [Borges].

Influência de Ana Marcela e Italo

Vi a Ana Marcela e pedi para ver a medalha dela. Assisti à prova, fiquei muito emocionado. E eu fiquei muito feliz de poder tocar na medalha, pedi para tocar para me dar sorte. Mesma coisa do Italo Ferreira. Quando ele falou "É só falar amém que a medalha vem", até a minha esposa mandou mensagem: "Amor, fala amém que a medalha vem" [risos]. Vi o Italo ganhando, a Ana Marcela, as meninas da vela, e agora tinha que vir a minha. Toda a mídia brasileira botou uma pressãozinha ali e eu tive que ir para cima.

Homenagem aos brasileiros

Os brasileiros estavam muito engajados. Eles tiraram esse tempo para torcer para a gente, então nada mais gratificante do que dedicar essa medalha a todas essas famílias que perderam [pessoas para a Covid]. Nós sabemos que nosso país ainda sofre muito com a Covid. A gente ainda não está livre desse vírus. O que eu mais quero é que passe logo para ter um campeonato e o pessoal ir ver a gente remando.

Colaborou Josué Seixas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.