Polícia quer ouvir conselheiros e Mustafá Contursi sobre cambistas no Palmeiras

Ingresso de ex-presidente foi apreendido em ação policial; ele afirma desconhecer o assunto

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São Paulo

A polícia realizou operação contra cambistas nas imediações do Allianz Parque antes da partida do Palmeiras contra o Athletico, em 6 de setembro. Pipocaram reclamações de inscritos no Avanti, o programa de sócio-torcedor da agremiação paulista, nas redes sociais e nos canais do clube. Eles teriam direito a ingressos, mas estes estavam esgotados.

Os policiais detiveram cambistas (depois liberados) e apreenderam entradas oferecidas ao público por preços superiores a R$ 1 mil. Uma delas era cadeira cativa no setor Central Oeste que pertence ao ex-presidente do clube Mustafá Contursi. Seu nome está impresso na entrada, mostrada à reportagem da Folha por envolvido na investigação do caso.

O ex-presidente do Palmeiras, Mustafá Contursi, em entrevista para a Folha em 2017
O ex-presidente do Palmeiras, Mustafá Contursi, em entrevista para a Folha em 2017 - Keiny Andrade-16.mar.17/Folhapress

Por meio de um assessor, Mustafá afirma desconhecer que um ingresso em seu nome tenha ido parar na mão de cambistas antes da semifinal da Libertadores. Ele diz que tem algumas cadeiras cativas no Allianz Parque, mas costuma cedê-las gratuitamente a amigos de sua confiança.

O ex-dirigente não descarta que algum deles tenha repassado a entrada para venda, o que seria algo contra sua vontade e do que não foi informado. Também afirmou que vai questionar o Palmeiras sobre o assunto.

A pedido do Palmeiras, foi aberto inquérito para investigar a ação de cambistas. O preço normal do ingresso depende do setor do estádio e do confronto. O jogo contra o Athletico foi um dos mais importantes para o time no ano. Era a definição da vaga na final da competição continental. Pelos canais normais, no Central Norte sairia por R$ 400. É um dos mais caros.

O ingresso no nome de Mustafá Contursi, presidente do Palmeiras de 1993 a 2005, chamou a atenção porque não é a primeira vez que um episódio de cambismo envolve seu nome. Ele foi acusado entre 2017 e 2018 de repassar para venda 70 bilhetes que recebia a cada partida como cortesia da Crefisa, patrocinadora do clube.

O dirigente foi condenado em 2020 a pena de prisão convertida em pagamento de 25 salários mínimos (R$ 30.300 em valores atuais), mas a sentença foi anulada pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) meses depois.

Mustafá foi padrinho político no Palmeiras de Leila Pereira, hoje presidente da agremiação e da Crefisa. Os dois entraram em conflito e hoje são adversários.

A investigação é realizada pelo delegado Cesar Saad, do Drade (Delegacia de Repressão aos Delitos do Esporte). Mustafá não é o único que deverá ser convocado a depor. Há uma lista de conselheiros e diretores que serão ouvidos. A Folha viu uma relação em que constam 16 nomes.

O Palmeiras informou a Saad quem tem direito a gratuidades. Em alguns casos, essas pessoas pediram o ingresso, mas estiveram em algum camarote em que não necessitava do bilhete. Essas entradas foram parar nas mãos de cambistas. Para a investigação, o problema maior está no momento da venda. Ali aconteceriam as fraudes.

Por causa desses casos, o Palmeiras mudou o sistema de distribuição de ingressos a conselheiros e vai reformular a venda pelo Avanti em 2023. Já foram excluídos mais de 500 integrantes do programa de sócio-torcedor porque auditoria interna do clube identificou padrões que sugerem fraudes.

A pedido da polícia, o Palmeiras passou a liberar apenas uma entrada de graça para cada conselheiro. Antes disso, eles tinham direito também a comprar outra com 50% de desconto. Se fossem integrantes do Avanti, poderiam adquirir mais duas pelo preço normal.

O clube deverá adotar o sistema de biometria ou reconhecimento facial para liberar os ingressos. O eticket enviado para os compradores passou a ser feito apenas três horas antes da partida para dificultar a revenda

Um integrante da investigação disse à reportagem que foi identificado caso de 90 contas do Avanti que tinham o mesmo cartão de crédito cadastrado. Para a polícia, estes são os casos mais importantes a serem averiguados porque configuram uma fraude relevante. A polícia considera pouco provável acontecer qualquer punição a conselheiros que têm um ou dois ingressos e estes vão parar na mão de cambistas.

Procurado pela Folha, o Palmeiras não quis se manifestar sobre o assunto e afirmou que colabora com as investigações.

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