Mudanças e desconfiança travam criação da liga de clubes do Brasil

Fundo árabe muda proposta, times pulam do barco e equipes da LFF devem receber R$ 370 mi

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São Paulo

A um ano e meio do final do contrato atual de televisionamento, a criação da liga de clubes do futebol brasileiro vive impasse. A Libra (Liga de Futebol Brasileiro) viu três dos seus integrantes recusarem a proposta da Mubadala, fundo de investimento ligado à monarquia dos Emirados Árabes.

Reunião realizada com os presidentes de clubes das séries A e B do Campeonato Brasileiro
Reunião realizada com os presidentes de clubes das séries A e B do Campeonato Brasileiro - Igor Siqueira-16.mai.23/UOL

O investidor já mudou três vezes a proposta para tentar a adesão por escrito dos times. A LFF (Liga Forte Futebol) conta com a proposta financeira da norte-americana Serenegeti e tem mais equipes associadas, mas estas não as de maior torcida no país.

A liga não é possível porque não existe até agora uma união das 40 equipes que compõem as Séries A e B do Brasileiro. Para ter todas, a Mudabala começou oferecendo R$ 4,75 bilhões para comprar 20% de participação da liga. No momento, a proposta passou para R$ 2,35 bilhões por 12,5%.

A Serengeti daria R$ 4,85 bilhões pelos 20%. A partir da assinatura dos documentos finais, neste mês, deverá acontecer um adiantamento de R$ 370 milhões.

Mas ninguém possui os 40 ou têm a perspectiva concreta de tê-los. Se a situação atual persistir, existirão apenas blocos de negociação de direitos de transmissão e a realização do campeonato pode continuar com a CBF, que já avisou abrir mão desse direito em favor da liga.

Vasco, Cruzeiro e Botafogo se recusaram a assinar a proposta da Mubadala e, nas discussões dentro da Libra, deixaram claro o descontentamento com a maneira como as negociações têm sido conduzidas. Eles têm restrições à divisão do dinheiro, especialmente no reservado a Corinthians e Flamengo. Embora concordem, a princípio, que os dois clubes de maior torcida devam receber mais, querem discutir os percentuais.

Também se incomodam com aspectos de governança da liga, como reuniões convocadas em cima da hora, tentativa de fechar acordos rapidamente e a antiga reclamação de que qualquer mudança no estatuto da Libra precisa ser aprovada por unanimidade.

Há quase duas semanas, a Libra aprovou a cláusula de estabilidade. Isso significa que caso as receitas arrecadadas em 2025 sejam iguais ou menores a de 2023 (cerca de R$ 2 bilhões), a divisão dos valores seja igual à atual para todos. Antes, ela atendia apenas a Corinthians e Flamengo.

Vasco, Botafogo e Cruzeiro também entendem que podem negociar seus direitos de transmissão de forma independente e que isso, se não acontecerem mudanças que considerem necessárias, pode ser melhor do que estar aliado à Libra ou Forte Futebol. Os três clubes são sociedades anônimas.

Para tentar atrair equipes da LFF, a Mubadala tem argumentado que a garantia mínima não é algo tão importante assim e que o fundamental mesmo é criar a liga. Para as agremiações da Forte Futebol, trata-se de uma variação de argumento já usado na criação da Libra, de que todos deveriam aderir, assinar o estatuto e o resto se discutiria depois.

A minuta inicial da Libra não previa nem como seria dividido o dinheiro, queixou-se Marcelo Paz, presidente do Fortaleza.

As três agremiações também estão descontentes com os valores negociados com intermediários da negociação.

Para cartolas da LFF, a Mubadala vendeu a imagem de que a liga do Brasil seria algo tão grande que renderia muito dinheiro a todos os clubes e que por isso, ela teria de sair do papel de qualquer forma. A reação dos dirigentes reticentes a isso é que se trata de um acordo válido por 50 anos, não cinco, como são os contratos atuais de televisionamento com o Grupo Globo. É preciso cuidado para assiná-lo.

Mesmo clubes de grande torcida e que estão no Mubadala mostram descontentamento com a condução das negociações. Leila Pereira, presidente do Palmeiras, é uma das mais enfáticas nas críticas ao comportamento, principalmente do Flamengo, nas negociações. Ela já disse que "se for assim", é melhor deixar o campeonato com a CBF, como é hoje em dia.

Há também a visão, na LFF, que a Mubadala e alguns presidentes de times da Libra pressionam por acordo especialmente em clubes que vivem situação financeira difícil, como Santos e Grêmio. Para quem assinar a proposta, o fundo de investimento árabe prometeu pagar R$ 3 milhões até o final deste mês.

VEJA OS 18 CLUBES QUE FAZEM PARTE DA LIBRA:

Bahia, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Grêmio, Guarani, Ituano, Mirassol, Novorizontino, Palmeiras, Ponte Preta, Red Bull Bragantino, Sampaio Corrêa, Santos, São Paulo, Vasco e Vitória.

VEJA OS 26 CLUBES QUE FAZEM PARTE DA LFF:

ABC (RN), Athletico, Atlético Mineiro, América-MG, Atlético Goianiense, Avaí (SC), Brusque (SC), Chapecoense (SC), Coritiba (PR), Ceará, Criciúma (SC), CRB (AL), CSA (AL), Cuiabá (MT), Figueirense (SC), Fluminense (RJ), Fortaleza (CE), Goiás (GO), Internacional (RS), Juventude (RS), Londrina (PR), Náutico (PE), Operário (PR), Sport (PE), Vila Nova (GO) e Tombense.

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