Descrição de chapéu skate

Possível fusão com patins deixa Bob Burnquist preocupado com o skate

De olho na política do alto rendimento, skatista investe também em projetos sociais na modalidade

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São Paulo

A pouco mais de um ano dos Jogos Olímpicos de Paris, Bob Burnquist, 46, acompanha com preocupação a exigência da World Skate, entidade internacional do esporte, de que a CBSK (Confederação Brasileira de Skate) se una a órgãos de outras modalidades esportivas com rodas.

O maior nome do skate brasileiro é autor de uma petição online contra uma possível fusão da confederação com a CBHP (Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação). Em recente assembleia, a CBSK também refutou a ideia.

"Não tenho nada contra as outras modalidades, apenas a favor do skate", argumenta Bob à Folha. "Você não vai pegar uma federação de vôlei e juntar com uma federação de tênis e uma de futebol só porque tudo usa uma bola. São coisas completamente diferentes."

A discussão vai além das particularidades de cada esporte. Ela reabre uma polêmica que parecia resolvida durante o ciclo para os Jogos de Tóquio, quando assumiu a presidência da entidade do esporte responsável por três medalhas de prata para o país, conquistadas por Rayssa Leal, Kelvin Hoefler e Pedro Barros.

O skatista Bob Burnquist
O skatista Bob Burnquist - Rai Lopes

O cargo "não era um sonho de criança", lembra Burnquist, mas, sim, uma forma de unir a comunidade na busca pelo reconhecimento da CBSK como a entidade oficial do skate no país —até então, seria a confederação de patinação a responsável por levar os brasileiros para o Japão.

Pouco após ter assumido o posto, em momento no qual os skatistas ameaçavam boicotar os Jogos, o carioca conseguiu o reconhecimento e a filiação direta ao COB (Comitê Olímpico Brasileiro), o que na prática significa também receber sem intermediários as verbas públicas obtidas com parte da arrecadação das loterias federais.

"Por isso que eu sou a favor de que a gente lute pelo controle do que é nosso mesmo se isso afeta a [participação na] Olimpíada", diz Bob.

No início deste ano, porém, a World Skate emitiu novamente uma determinação na qual exige a fusão da administração do skate com órgãos de outras modalidades sob rodas. Atualmente, a entidade mantém sob seu controle categorias como patins e hóquei.

A data estabelecida como limite para a fusão é em dezembro. Pelo estatuto da World Skate, caso o país não cumpra a exigência, o próprio órgão internacional determinará quem será a entidade que vai representar a modalidade, algo rechaçado pela comunidade do esporte.

"A solução é manter como estava nessa primeira Olimpíada, que é a CBSK direcionar e fazer os eventos de skate, não se unir a mais ninguém, não dividir recurso", defende Bob Burnquist.

As imposições da World Skate também foram alvo de críticas do atual presidente da CBKS, Eduardo Musa. Declarações públicas do dirigente levaram a entidade a suspendê-lo de eventos internacionais até novembro de 2025.

Musa esperava apoio do COB, conforme disse em entrevista à Folha, mas, em vez disso, o comitê também o suspendeu, apontando que cumpria a decisão da federação internacional da modalidade.

De acordo com a CBSK, apesar da punição, a entidade continua atuando normalmente, pois a suspensão se aplica apenas na relação institucional do dirigente com a World Skate.

O skate como ferramenta de transformação social

Ainda que a situação do skate olímpico brasileiro seja motivo de preocupação para Bob Burnquist, ele não deixa que isso tome todo o seu tempo. Principalmente porque se dedica cada vez mais a projetos sociais.

Ele acredita que toda mente jovem precisa de uma paixão. "Sem isso, você fica à mercê...", diz. A do carioca que passou a maior parte da infância em São Paulo foi o skate. "Que me tirou de caminhos que eu, provavelmente, sem ele, trilharia."

Nos anos 1990, numa época em que a modalidade era muito mais marginalizada no Brasil do que nos dias atuais, ele próprio teve papel decisivo na mudança de trajetória do esporte no país, com feitos que ampliaram a popularização da prática e lhe renderam reconhecimento internacional.

Entre suas conquistas estão dez títulos mundiais e 30 medalhas nos X Games, competição de esportes radicais da qual participou ininterruptamente de 1995 a 2015, despedindo-se depois de 14 medalhas de ouro, 8 de prata e 8 de bronze.

"O skate me deu tanto", reconhece, questionado sobre o que o levou a desenvolver projetos sociais por meio da modalidade. "Isso veio também após o amadurecimento depois da passagem pela própria confederação, quando tive o entendimento de gestão e de como as coisas funcionam."

A passagem pela entidade foi curta, menos de dois anos, de outubro de 2017 a junho de 2019, mas o levou a criar depois um instituto que une o skate a ações educativas. Inicialmente, o projeto ganhou seu nome. Depois, foi rebatizado como "Skate Cuida".

"Para ajudar as pessoas você não precisa de um instituto, você precisa ter a vontade de ajudar. Mas eu, no momento, sabia que com o instituto conseguiria alcançar mais pessoas", diz. "Minha vontade é passar essa alegria que o skate me traz e usá-lo como ferramenta com objetivo de formar um skatista cidadão."

O instituto não é para transformar pessoas em campeões mundiais, apesar de que, se você passa por lá e começa a ter uma base boa, tudo é possível. Mas o principal é usar o skate como ferramenta para inspirar

Bob Burnquist

skatista

Fundado em 2020, o projeto lançou neste ano a iniciativa Imagine Skate Tour, uma competição itinerante que une esporte com ações culturais e educativas.

Idealizado por Bob e patrocinado pelo Banco do Brasil, o evento já passou por Niterói, São Paulo e Brasília —na capital paulista, marcou a inauguração de uma pista de "half pipe" (rampa em forma de U) no Centro Esportivo do Tietê, no começo do mês.

"Eu cresci aqui, e a última pista de vert de qualidade, de alto nível, foi a Ultra Skate Park lá nos anos 80. Final dos anos 80, começo dos anos 90. Mas era uma pista privada, agora a gente tem uma pública."

Embora o "half pipe" não esteja no programa olímpico —há nos Jogos disputas "street" e "park"—, Bob acredita que investimentos nesse tipo de equipamento devem aumentar, na esteira do sucesso que os brasileiros tiveram em Tóquio.

"Eu acredito também que existe um vácuo e um espaço para voltarmos a ter mais eventos mais culturais do skate."

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